Da edição Ipad do Público de hoje:
O escritor e jornalista [Miguel Sousa Tavares] lembrou então uma história passada entre a sua mãe, a sua irmã Sofia e Azeredo Perdigão, na altura o presidente da Fundação Gulbenkian. Alguém tinha oferecido dois patos, “pequeninos, amarelos e amorosos” à pequena Sofia. Os patos estiveram 15 dias a “estagiar” no quarto da filha de Sophia e depois “foram residir” para o jardim da casa onde toda a família vivia na Graça. Meses depois, “os patos pequeninos, amarelos e amorosos tinham-se transformado em aves, imensas, de um branco sujo, ameaçando virar gansos selvagens, passando a constituir um problema familiar e logístico”, contou Miguel.
Como os animais não podiam desaparecer do jardim sem que a pequena Sofia ficasse traumatizada, a poeta Sophia “congeminou a fantástica ideia” de se irem deixar os patos ao jardim da Fundação Gulbenkian, onde seriam imensamente mais felizes. Sophia telefonou então a Azeredo Perdigão a pedir licença para abandonar os patos no jardim. “E para seu espanto, o doutor Perdigão respondeu: - Com certeza, deixe-me só marcar aqui um dia na agenda”, disse Miguel e a sala inteira gargalhou. “Intrigados com aquela cerimónia, no dia e hora aprazados, a minha mãe, o meu pai, a minha irmã, eu e os patos comparecemos na Gulbenkian onde o doutor Perdigão mais um administrador da Fundação já nos esperava.
Soltos os patos no jardim, secadas as lágrimas da minha irmã, o doutor Perdigão convidou-nos a todos para um solene chá onde se fez a entrega de uma medalha da Gulbenkian e outras lembranças”, continuou Miguel. E quando Sophia, espantada, disse que não estava à espera de tantas atenções, o “doutor Azeredo Perdigão, empertigou-se e disse: - Senhora Dona Sophia, sabe que eu estou aqui há vários anos e todos os dias tenho que responder a pedidos feitos à Fundação, mas até hoje nunca ninguém se tinha lembrado de nos oferecer o que quer que fosse. Por isso esta oferta de patos para nós tem um valor simbólico”, terminou Miguel dizendo que em nome dos irmãos foi com “muito gosto e com muito orgulho” que entregaram o espólio de Sophia de Mello Breyner à Biblioteca Nacional com a certeza de que ficará em boas mãos.
sábado, 29 de janeiro de 2011
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1 comentário:
Esta história traz-me à ideia outra, menos interessante como é bom de calcular, também envolvendo patos, de que fui protagonista.
Talvez tivesse quinze anos, quando me decidi a comprar um patinho muito lindo, muito amarelinho, na praça 5 de Outubro, nas Caldas da Rainha. Chamei-lhe Jacques. Era o meu enlevo, andava sempre atrás de mim. Eu passava quase todo tempo no quintal de minha casa para que isso fosse possível. Passei a estudar lá, a ler lá, etc.
Entretanto, lembrei-me de lhe adquirir um companheiro. Chamei-lhe Jácome. Mas, para meu grande desgosto, eles enlevaram-se um no outro, e passaram a ignorar-me completamente. Cresceram, ficaram branco sujo, sujavam tudo por onde passavam, palradores, fugiam de mim sempre que me aproximava deles.
O que valeu é que chegou a altura de ir para S. Martinho, passar as férias e, com esse pretexto, consegui livrar-me deles sem reconhecer excessivamente a minha derrota.
Dei-os à Sra Belmira, que tinha um carinho todo especial por mim, e que costumava ir lá a casa buscar a "lavadura" e o "retraço" para dar aos porcos. Julgo que ela acabou por os comer.
Quem arranja problemas tem que saber resolvê-los, principalmente quando estão em causa perdas e transformações tão profundas naqueles a quem começamos por dar o nosso afecto. Foi, julgo, o que aprendi deste caso: uma lição de vida...
- Isabel X -
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