O período consagrado às comemorações republicanas oficiais ainda não se esgotou, mas já podemos esboçar um balanço provisório.
A primeira nota que me ocorre prende-se com a calendarização escolhida. Decidiu o Governo, logo em 2005, que as comemorações deviam ter lugar em 2010 (entre 31 de Janeiro e 5 de Outubro, com possibilidade de prolongamento até Agosto de 2011, data da entrada em vigor de primeira Constituição Republicana). As reticências que manifestei na altura a propósito deste entendimento sobre o timing comemorativo mantenho-as. Em bom rigor, o ano do centenário inicia-se com o ponto de partida e não o ponto de chegada (começamos a comemorar o centenário de um regime que tinha 99 anos!). As Universidades, pela República criadas (Lisboa, Porto, o Técnico) ou reformada (Coimbra) em 1911, só terão verdadeiros programas comemorativos a partir deste ano de 2011. O Parlamento republicano só comemora o centenário da sua formação por via eleitoral em 28 de Maio de 2011 e a Lei Fundamental da República é como vimos de Agosto de 1911.Por outro lado, a programação das comemorações cruzou-se com o calendário eleitoral, tanto no que respeita a eleições legislativas como a eleições presidenciais, o que ganharia em ter sido evitado.
O que sobressai de mais interessante na programação efectuada até agora é o conjunto de exposições. Com a excepção da Exposição sobre o Ensino que abrirá em breve, todas as restantes cumpriram o calendário e deixaram um rasto de competência científica e técnica. Os catálogos aí estão para o evidenciar. A articulação deste programa com as escolas foi no essencial conseguida e esse aspecto foi positivo. Menos empenhada terá sido a participação dos municípios e freguesias neste processo.
O primeiro objectivo da Comissão encarregada de definir e efectivar o plano das comemorações do Estado era o de contribuir para uma revalorização da cultura histórica. Creio que o atingiu, embora só seja possível medir com rigor o impacte de realizações deste tipo mais tarde, com as manifestações de curiosidade pela história do século XX e o desenvolvimento da investigação.
O legado das comemorações certamente o conheceremos mais em concreto, quando a Comissão tornar público o balanço do seu mandato: um Museu, um programa cultural e científico de futuro, uma realização urbanística significativa?
domingo, 2 de janeiro de 2011
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Um balanço provisório pode ser muito útil, na medida em que contribua para o diagnóstico de uma situaçao ainda a decorrer e, por isso, ainda a tempo de se fazer (mais) alguma coisa.
Estou de acordo com a avaliação feita. Nas escolas tem-se vivido intensamente (mais do que eu esperava) as comemorações do Centenário da República.
Também eu por diversas vezes me questionei sobre a coincidência de as Comemorações serem tão próximas das eleições para Presidente da República e de como isso podia(eventualmente) interferir nos resultados.
Na verdade, agora parece-me que foi melhor comemorar mais cedo do que mais tarde. A crise que, entretanto, esgota e gasta todas as atenções talvez tivesse posto em causa as comemorações. Digo isto porque acredito que elas têm servido para acrescentar conhecimento válido sobre um período particularmente desconhecido da nossa História.
As Comemorações têm servido, além disso, para debater algumas questões mal resolvidas sobre nós mesmos. É possível que o debate por si só não as resolva, mas o simples facto de existir e poder fazer-se é estimulante e susceptível de tornar estes assuntos interessantes para um maior número de pessoas.
- Isabel X -
...ou, um referendum que, formalmente, a legitime.
Enviar um comentário