[...] quando digo que os carros têm que parar nas faixas pedonais, há sempre alguém que me diz que os peões nem sempre são respeitadores, pois às vezes atravessam fora das faixas. Mas são níveis completamente distintos. Eu digo que durante anos os carros detiveram o poder, agora se damos o poder aos peões por alguns anos, eles que façam o que entenderem. Quando estivermos de carro, devemos respeitá-los. Estou muito mais de acordo com os holandeses que há alguns atrás aprovaram uma lei que diz que os peões dentro da cidade têm direito a atravessar onde quiserem e como quiserem, tendo sempre a prioridade. Pessoalmente, estou a aplicar unilateralmente esta atitude na cidade de Roma. Há 4 ou 5 anos que respeito rigorosamente o direito dos peões quando vou de carro. Paro quando vejo que uma pessoa está à espera, e se vai pelo passeio convido-a a passar. No livro, encontram uma nota na qual conto esta experiência que é muito divertida. Em primeiro lugar, é rara, e em segundo, as pessoas não confiam. Normalmente dizem-me que não, que preferem não atravessar. Convido-as outra vez, normalmente então atravessam e agradecem-me. Isto é raro, porque se é um direito, não há que agradecer. Quando conduzo e um carro vem pela esquerda e para, não agradeço. Incomoda-me que o façam.Quando correm, se apressam, são tão velhos ou mais do que eu, e é como se me dissessem: não quero que percas tempo. É frequente dizerem-me que não, que não querem passar. Fazem-me um sinal a dizer: fico aqui. Eu sigo e eles passam então. Não têm confiança. Estou sempre que posso a falar disto porque vale a pena. Porque eu vivo numa cidade dura, maravilhosa, mas dura para viver, como é Roma, onde o tráfego é tão impressionante como aqui [Sevilha] e nas cidades mediterrânicas. Com este expediente, eu consigo todas as manhãs chegar ao meu trabalho com algumas cortesias, alguns gestos simpáticos que nos devolvem aqueles que atravessam. Eles ficam contentes e eu também. Por isso faço propaganda, porque vale a pena e não custa nada.
Francesco Tonucci.
F.T., nascido em 1941, é autor de um livro importante, La Ciudad de los Niños [tradução espanhola]. Doutor em Pedagogia, é director do Departamento de Psicopedagogia do Instituto de Psicologia do Conselho Nacional de Investigações de Roma (CNR).
A citação é extraída da obra La Ciudad Inteligente. Documentos del Foro La Ciudad Humanizada. Edición 2004. Sevilha, Signatura Ediciones de Andalucia, 2005. p. 155-156.
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