O minimo que apetece dizer é que, depois do impacte tão violento e definitivamente mal acautelado de Bolonha, da imposição de um critério geral de base estritamente universitária como padrão de qualidade e de uma reforma centralista do sistema de governo das instituições, não se avançou muito no discurso, no elan reformador e na identificação das metas. Há mais de uma década que os desafios apresentados são mais ou menos estes. A sala pareceu-me longe do entusiasmo de outros anos, mas posso estar enganado.
quinta-feira, 16 de outubro de 2008
Hora de balanço, hora de agenda
15 de Outubro: abertura do ano lectivo no Instituto Politécnico de Leiria. Luciano de Almeida, Presidente cessante, faz o balanço que quer centrado na situação do ensino superior cujos pontos negros indica: rede pulverizada e sem dimensão, tensões excessivas entre os dois "subsistemas" (universitário, politécnico), critérios de financiamento público desajustados, regimes de acesso a precisar de urgente revisão, identificação das faltas de qualidade por fazer; instabilidade do corpo docente (só 85% dos docentes do enino superior têm vínculo duradouro às instituições). Mariano Gago, Ministro em exercício há 3 anos faz o elogio do contributo do Ensino Politécnico para o crescimento do acesso ao ensino superior e indica a agenda política a que está subordinado este "subsistema": ampliar a oferta de Cursos de Especialização Tecnológica, estabilizar o corpo docente (de facto, diminuir a percentagem de vínculos precários para 60%), dar conteúdo à categoria de especialista, qualificar o corpo docente do ponto de vista académico e profissional, estabelecer consórcios (federando as instituições existentes ou criando novas), reajustar a identidade do ensino politécnico (formações de 1º ciclo, articulação com o desenvolvimento regional, etc.).
Etiquetas:
Ensino Superior Politécnico
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
Excelente síntese do que se passou naquela sessão solene.
Pelo discurso e elogios de José Mariano Gago, parece-me que está a contar com Luciano Almeida para chefiar um qualquer consórcio de politécnicos que aí venha: ele é agora o "bom aluno" do MCTES, pronto para ajudar na tarefa de tornar os politécnicos numa espécie de escolas profissionais superiores e de produtores massificados de licenciados, para melhorar rapidamente os nossos indicadores estatísticos, para OCDE e UE verem.
Quanto ao "entusiamo" dos presentes, embora sem possuir um "palmómetro", foi patente uma certa frieza na sala, para mais tratando-se do último grande acto público desta presidência. Em vez da emoção que costuma rodear situações semelhantes, a sensação geral parece ser de alívio por se aproximar o fim de um consulado de mais de uma década que, para muitos, não deixa saudades.
O facto de as palavras elogiosas do ministro relativamente a Luciano Almeida terem passado sem a mínima manifestação de concordância por parte dos circunstantes foi, neste aspecto, particularmente eloquente.
Devo dizer que tenho um grande apreço pessoal pelo Professor Luciano Almeida, apreço que não procede directamente da sua presença à frente do Instituto Politécnico de Leiria. Creio que o balanço - que aliás só o tempo permitirá clarificar - da sua gestão será globalmente positivo. Contactei, devido ao envolvimento no processo da criação da ESAD em 1987-1991, com os Profs Lelio Lobo e Pereira de Melo. Essa experiência vivida autoriza-me uma valorização comparativa dos tempos mais recentes. De qualquer forma, sempre que uma figura marcante (como certamente se reconhecerá que o Professor Luciano de Almeida foi no IPL), se afasta, há quem defenda a continuidade e quem propugne uma renovação. Depois há matizes e fórmulas compromissórias, do tipo "renovação na continuidade", com mais ou menos de uma ou de outra. Provavelmente será esse o debate que teremos a seguir.
Quanto à sessão da abertura solene. Quis aqui transmitir a sensação de "dejá vu" que me assaltou durante os discursos, sobretudo no discurso do Ministro. Se aquela é a agenda do Ensino Superior Politécnico, é uma agenda decepcionante. Precisamos de uma ideia mobilizadora. Os consórcios? Os especialistas? Esse indefinível que é a identidade? O Ministro talvez pudesse parecer mais entusiasta deste nosso "subsistema".
Mas o meu desconforto veio sobretudo da encenação, do décor, da atitude dos protagonistas, do tom das palavras (mais do que das palavras) do ambiente na sala. Caramba! Uma abertura do ano não é um grande momento da vida de uma instituição? De afirmação da sua vitalidade? De alegria e confiança? De abertura ao exterior?
Não me conformo.
Enviar um comentário