segunda-feira, 13 de outubro de 2008

"Livro para mim é vida"


Evando dos Santos, pedreiro, deparou-se um dia com 50 livros que alguém destinara ao lixo. Estávamos em 1998. Esse encontro mudou a sua vida. O pedreiro desembaraçava-se na leitura, que exercitara aos 18 anos, lendo a Bíblia, mas tinha dificuldades na escrita. Na escola primária, não terá ido além do 2º ano. 
Trouxe os livros consigo. A ideia de acrescentar a esse lote outras obras, uma hipótese fascinante, foi-se tornando realidade. Na sua pequena casa em Vila Penha (Rio de Janeiro), ao longo dos anos seguintes, foram entrando centenas, milhares de livros, doados por pessoas e instituições. Hoje estimam-se em mais de 50 000. Formaram pilhas, invadindo todos os espaços, por cima e por baixo do mobilário, incluindo a cama do casal. Por todo o lado, cresceram como erva, erva boa, diz. 
Esta paixão tomou conta da sua vida. Há quem diga que é ténue a linha que separa a paixão da loucura. Evando não só organizou uma biblioteca pública para a sua comunidade, baseada no acesso directo e e fácil, como espalhou a boa nova pelos 4 cantos do Brasil. Em breve havia 50 iniciativas similares no país.
Evando transformou-se num apóstolo do lugar único do livro na educação das crianças. Anunciou que com os livros provocaria um “arrastão da leitura”. Os media levaram-no a todo o lado, tirando partido da sua capacidade de comunicador, que recita poemas e fala de Pablo Neruda, Machado de Assis e Tobias Barreto. A revista Globe votou-o em 2006 para os 100 brasileiros geniais. Anna Azevedo fez um documentário sobre este Homem-Livro que se julga também um Homem-Livre.
Um dia, ao escutar uma entrevista na TV com Oscar Niemayer, resolveu entrar em directo e pediu ao mais famoso arquitecto do Brasil um projecto para sua biblioteca. Niemayer aceitou, evidentemente. Evando conseguiu o terreno e o Ministério ofereceu comparticipação. O projecto tomou corpo. Mas a angústia de se separar da sua casa/armazém passou a morar com Evando.

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