Conversa (longa) com motorista de taxi, trinta anos, a caminho de Orly, em dia de greve geral.
- Se eu lhe perguntasse qual é a sua nacionalidade, que responderia?
- Sou argelino.
- Nasceu em Argel?
- Não. Nasci em França.
- Ah, então adquiriu a nacionalidade francesa?
- Eu nasci em França e portanto sou francês. Os meus pais e os meus avós também eram franceses porque nasceram em solo francês. A Argélia era francesa quando eles nasceram. Sou francês de sangue e de solo.
- Talvez eu devesse então ter perguntado qual é a sua identidade.
- Não sei responder. Não sei qual é minha identidade. Mas sei que sou argelino.
- Vai frequentemente à Argélia?
- Duas vezes por ano, pelo menos.
- Casou com uma argelina?
- Sim, "importei" uma mulher. A minha mulher nasceu mesmo na Argélia. Temos dois filhos.
- Portanto você é francês e sente-se também argelino.
- Sou argelino. Na Argélia tenho muitos amigos e família, tios e primos.
- É difícil ser aceite em França?
- Eu imponho-me.
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
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3 comentários:
Resposta exemplar: "Eu imponho-me!"
Boa! Adorei!
A questão da identidade é dificil de estabelecer e de reconhecer, em certos casos.
Uma vez ouvi uma conferência sobre esta questão, na qual foi tratado o caso de um imigrante português em França.
Questionado sobre qual era a sua nacionalidade, o imigrante respondeu:
"Sou português!".
Porquê?
"Porque nasci em Portugal."
O questionário prosseguiu e chegou aos filhos, sobre os quais lhe foi posta a mesma questão que suscitou a mesma resposta:
"portugueses."
Onde é que nasceram?
"Em França."
Então como é que são portugueses se há pouco me disse que você é português por ter nascido em Portugal?
"Porque são filhos de portugueses."
Chamado à atenção sobre a mudança de critério, isso não pareceu incomodá-lo. A situação dele e a dos filhos era diferente e por isso o critério mudava. Importante mesmo é que todos eram portugueses...
- Isabel X -
Grande, grande é a consciência deste taxista!
Em 1941, Portinari executa quatro grandes murais na Fundação Hispânica da Biblioteca do Congresso em Washington, com temas referentes à história latino-americana. No painel com a primeira missa no Brasil, americanos convidaram a sumir com as caravelas portuguesas ao fundo.
Para os brasileiros Portinari além de um expoente da pintura, fora um frouxo.
“Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as coisas humanas postas desta maneira.
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
Escuto sem te ouvir.
Para que te quereria eu ouvir?”
In Falas de Civilização, Alberto Caeiro
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