quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Homenagem a Ferreira da Silva

Em todos os rostos dos que quiseram e puderam participar na homenagem a Ferreira da Silva no passado dia 1 de Fevereiro o que vi reflectido foi contentamento e orgulho. Atrevo-me a interpretar: contentamento pela celebração de 80 anos de uma vida de criação que decorreu sob os nossos olhos (sejam eles de que geração forem); orgulho pelo reconhecimento que é votado a uma obra que honra o património artístico contemporâneo.
Correspondendo à iniciativa daquela cerimónia, que se pretendeu fosse muito sóbria, as pessoas que encheram literalmente o Auditório do CCC trouxeram o seu testemunho: o trabalho de Ferreira da Silva deixou marcas na nossa história, na nossa cidade, no nosso quotidiano. Não seríamos os mesmos sem a extraordinária capacidade de Ferreira da Silva nos interpelar, nos surpreender, nos convidar a sonhar.
O filme de Jorge Silva Melo sobre A Gravura permitiu-nos, creio, perceber onde é que estão as origens do autor. Foi possível acompanhar as condições em que uma geração de artistas plásticos confluiu para a gravura e a cerâmica, na segunda metade dos anos 50. Vimos e escutámos os outros protagonistas, identificamos os seus projectos e, sobretudo, apercebemo-nos do que foi essa mutua aprendizagem em que Ferreira da Silva esteve envolvido, deu e recebeu. Foi certamente um pouco desse ambiente onde se cruzaram e interligaram saberes com distintos pontos de partida e uma mesma vontade de ir mais longe que Ferreira da Silva também encontrou no Bombarral, no círculo de Jorge de Almeida Monteiro, e ajudou a construir na Secla de Hansi Stael, Pinto Ribeiro e Ponte e Sousa.
A presença de Eduardo Nery e de Querubim Lapa, dois nomes maiores da cerâmica artística portuguesa, sublinhou, espero, o lugar que a Ferreira da Silva cabe, no mesmo patamar daqueles seus antigos companheiros da Gravura.
Mas porque uma cerimónia de homenagem efectuada na presença do homenageado, sendo ocasião de ajuste de contas com a história e de festa não deve passar ao lado duma intenção de valorizar legados, há que registar dois outros contributos deste acto. O primeiro: os compromissos anunciados pela Câmara para com o património museológico cerâmico das Caldas e nas Caldas. O segundo: a peça (uma peça de síntese) de Ferreira da Silva que a partir de agora o CCC exibe no seu foyer.

3 comentários:

J J disse...

Como já escrevi noutro local esta foi uma homenagem justa no tempo certo. O artista Ferreira da Silva foi sempre uma referência caldense pelo seu inconformismo artístico e a sua imaginação.
Fui colega e sou amigo do seu filho mais velho, o Rui, que revi com prazer. São muitas as semelhanças fisionómicas entre os dois, pelo que, entre as excelentes fotos da Guidó, apreciei sobretudo a do homenageado com o seu filho mais velho.
Está de parabéns a organização, a que o administrador deste blogue não é alheio...

Anónimo disse...

Parabéns ao homenageado e, pelo que li, ao organizador da homenagem. Dois comentários:
Ideia excelente a da passagem do documentário de Jorge Silva Melo. De facto está lá, muito bem contada, uma parte da história das artes dos anos 50, aquela em que Ferreira da Silva se filia.
Li qualquer coisa sobre um contrato ou acordo entre a Câmara e Ferreira da Silva, visando a recolha dos seus trabalhos. Não seria bom começar por lhe encomendar a conclusão da obra junto ao Hospital? Penso que está parada e a degradar-se. Os caldenses deviam ter orgulho em que esse trabalho de grande qualidade imaginativa chegasse ao fim.
MT

Anónimo disse...

Gostei muito do filme de Jorge Silva Melo sobre a gravura. A expressão "Mútua Aprendizagem" é particularmente feliz e pertinente, pois foi disso que se tratou: uma aprendizagem à margem, e ainda bem, da escola. Uma aprendizagem que se fez, fazendo. Durante o seu visionamento pude constatar, junto de pessoas que também viveram experiências semelhantes (José Manuel Santa-Bárbara), o quanto esse belo registo é em si mesmo emocionante! Pena é que o tempo não dê para tudo e que não tenha chegado para algo que só pôde ser feito de modo muito apressado e incompleto: a apresentação das obras de Ferreira da Silva, numa evocação daquilo que nos fez estar lá, orgulhosos e felizes, junto do mestre. A peça é, para o meu gosto, magnífica! Só por ela ali ficar, no foyer do CCC, a Festa da Cerâmica começou magnificamente! Parabéns ao homenageado e ao João Serra!
- Isabel X -