Olá João Serra
Como imagina este assunto dá pano para mangas.
Assim de repente, ou seja de um modo abreviado e com uma argumentação um pouco selvagem, a fórmula que se propõe na iniciativa descrita está mais do que gasta.
Para além das importantes questões de ordenamento, há aspectos desportivos a considerar. E o problema eterniza-se com o seguinte constrangimento: como compatibilizar a formação desportiva especializada com a formação escolar? E aí as respostas portugueses e europeias são confrangedoras.
Refiro, como exemplo, o seguinte: na principal competição profissional do mundo (tem 63 anos consecutivos a NBA, no basquete americano), os atletas só podem entrar depois de concluírem a sua formação universitária. Houve uns anos recentes em que se abdicou disso - podiam passar directamente do secundário - mas estão a reconsiderar. É até a discussão do momento. Vão voltar, obviamente, atrás. Por lá, os clubes só existem na competição profissional. Toda a formação desportiva é feita em plena articulação com a formação escolar.
Em Portugal é uma selva. O que é grave. Alicia-se os jovens para o treino intensivo desde cedo, com o prejuízo evidente dos seus estudos. Toma-se como exemplo o Ronaldo, o Figo ou o Tiago Pires. Mas ninguém refere os exemplos das centenas que ficaram pelo caminho: sem escolaridade e sem "alto" rendimento desportivo. Uma desgraça, pode crer.
Mas nunca aprendemos, e insistimos. Vemos políticos, conscientes ou inconscientes, conhecedores ou ignorantes, nem sei bem, a desfraldarem as bandeiras do nicho do alto rendimento, com claros desígnios eleitorais, por mais sinceros que sejam os seus propósitos. Intitulam-se uns bravos e uns defensores do desporto para os jovens.
E digo-lhe mais: já são tantos os disparates cometidos ao logos de décadas - piscinas, pavilhões e afins, sem qualquer utilidade - que temo pelo futuro.
Não, não sou um pessimista. Longe disso. Mas escrevo e publico sobre estas matérias há mais de 20 anos e nem por isso deixo de garantir as minhas obrigações como cidadão.
Acima de tudo, pode crer, move-me também a defesa dos direitos desportivos (educação para a saúde, e aí o alto rendimento é muito discutível, mas, e desculpe-me, ficará para outra altura), e os outros, claro, os das crianças e dos jovens.
Assim de repente, ou seja de um modo abreviado e com uma argumentação um pouco selvagem, a fórmula que se propõe na iniciativa descrita está mais do que gasta.
Para além das importantes questões de ordenamento, há aspectos desportivos a considerar. E o problema eterniza-se com o seguinte constrangimento: como compatibilizar a formação desportiva especializada com a formação escolar? E aí as respostas portugueses e europeias são confrangedoras.
Refiro, como exemplo, o seguinte: na principal competição profissional do mundo (tem 63 anos consecutivos a NBA, no basquete americano), os atletas só podem entrar depois de concluírem a sua formação universitária. Houve uns anos recentes em que se abdicou disso - podiam passar directamente do secundário - mas estão a reconsiderar. É até a discussão do momento. Vão voltar, obviamente, atrás. Por lá, os clubes só existem na competição profissional. Toda a formação desportiva é feita em plena articulação com a formação escolar.
Em Portugal é uma selva. O que é grave. Alicia-se os jovens para o treino intensivo desde cedo, com o prejuízo evidente dos seus estudos. Toma-se como exemplo o Ronaldo, o Figo ou o Tiago Pires. Mas ninguém refere os exemplos das centenas que ficaram pelo caminho: sem escolaridade e sem "alto" rendimento desportivo. Uma desgraça, pode crer.
Mas nunca aprendemos, e insistimos. Vemos políticos, conscientes ou inconscientes, conhecedores ou ignorantes, nem sei bem, a desfraldarem as bandeiras do nicho do alto rendimento, com claros desígnios eleitorais, por mais sinceros que sejam os seus propósitos. Intitulam-se uns bravos e uns defensores do desporto para os jovens.
E digo-lhe mais: já são tantos os disparates cometidos ao logos de décadas - piscinas, pavilhões e afins, sem qualquer utilidade - que temo pelo futuro.
Não, não sou um pessimista. Longe disso. Mas escrevo e publico sobre estas matérias há mais de 20 anos e nem por isso deixo de garantir as minhas obrigações como cidadão.
Acima de tudo, pode crer, move-me também a defesa dos direitos desportivos (educação para a saúde, e aí o alto rendimento é muito discutível, mas, e desculpe-me, ficará para outra altura), e os outros, claro, os das crianças e dos jovens.
Um abraço,
Paulo Prudêncio
3 comentários:
Viva João Serra.
Muito obrigado por ter transformado um comentário meu numa entrada do seu excelente blogue.
Escrevi o pequeno texto ao correr das teclas. A matéria em apreço está muito ligada às minhas preocupações profissionais e dava para caractéres sem fim.
Se soubesse que ia transformar o comentário numa entrada tinha sido mais cuidado na escrita. Estão por lá umas gralhas, umas vírgulas fora do sítio que a minha gramática exige e algumas frases com uma construção a necessitar de mais um tempito.
Mas se o João decidiu assim quem sou eu?
Peço-lhe desculpa extensiva aos leitores do blogue.
Abraço.
Caro Paulo Prudêncio
Partilho completamente da sua opinião:
...."como compatibilizar a formação desportiva especializada com a formação escolar? E aí as respostas portugueses e europeias são confrangedoras"....
Um abraço
João Ramos Franco
Texto corajoso o de Paulo Prudêncio, apontando o dedo à questão crucial da relação entre desporto escolar e desporto profissional. Promovemos rendimento desportivo enquanto abdicamos do rendimento escolar. Não pode ser. Se a Câmara de Peniche vai investir no Alto Rendimento do Surf tem de simultaneamente ser exigente em matéria de rendimento escolar.
MT
Enviar um comentário