Estas são as eleições antecipadas mais estranhas de que me recordo. O risco que lhes está associado é elevado.
Aparentemente, todos os líderes partidários as quiseram. Aparentemente também o entusiasmo do eleitorado pela realização de eleições é diminuto. As alternativas não são claras. Existirão? Os sucessivos apelos ao entendimento sublinham que as discordâncias entre partidos são estridentes mas não substantivas.
Eleições antecipadas representam uma ruptura no curso normal da vida politica e surgem envolvidas num certo dramatismo. É o dramatismo que antecede a mudança de ciclo. Todos os presidentes recorreram a ele, antecipando essa mudança. Esta é a primeira vez em que isso não acontece. O Presidente convoca eleições porque o Primeiro Ministro se demite e os partidos também as querem. Talvez o Presidente também as queira, mas a leitura que induz ao eleitorado é que as convoca porque nem o Governo nem os partidos da Oposição lhe deram margem de manobra para outra decisão.
Devolva-se então a palavra ao povo soberano – diz o Presidente sem grande convicção, enquanto os Partidos se acusam mutuamente de terem gerado uma degradação da situação. Que é que o povo soberano é então convidado a decidir? Qual é a orientação politica que deve presidir ao combate à crise? Mas se lhe dizem que só há uma orientação politica viável... Qual é o partido que deve formar governo? Mas se lhe dizem que o governo se deve basear num entendimento entre partidos...
O risco destas eleições é darem origem a mesma resposta que os eleitores deram aos referendos: os políticos que decidam, não nos peçam que nos comprometamos com uma equação impossível.
sábado, 2 de abril de 2011
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3 comentários:
Dizem-nos que as medidas a tomar face à presente crise, independentemente do partido que ganhar as eleições, irão sempre ser do mesmo género, dada a urgência em obter resultados quantificáveis.
Ontem ouvi dizer num programa de tv (expresso da meia noite) que a adesão ao euro comportava, logo à partida, este tipo de riscos.
Mais: quem o disse afirmou que qualquer que tivesse sido o partido político a governar o país desde então, o resultado atual teria sido este.
Mais ainda: disse que o único economista que alertou na altura da adesão ao euro para esta possibilidade foi João Ferreira do Amaral.
De facto, se a solução passa pelo entendimento dos partidos, entendessem-se sem eleições. Assim, o sentido do voto fica esvaziado de sentido...
Estamos num país de perplexidades que o futuro próximo promete adensar!
- Isabel X -
Pressinto o mesmo.....na Catalunha, com um grupo de professores de vários países europeus,todos eles têm dificuldade em compreenderem o que se passa....também eu.....
NB
Que houvessem homens corajosos nos partidos que fizessem sair de cena os protagonistas da nossa desgraça.
Agora vamos ter dois meninos birrentos lutando por uma bola há muito esvaziada. Onde estão os senadores dos dois partidos em cena? Gozando as prebendas?
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