sábado, 30 de abril de 2011
sexta-feira, 29 de abril de 2011
quinta-feira, 28 de abril de 2011
Gago, arménio
Gagik Arakelyan nasceu na Arménia soviética em 1965. Estudou artes, sociologia e filosofia na Universidade de Yerevan (capital da Arménia) e passou por Moscovo para completar a formação artística. Em 1994 veio para Espanha, procurando trabalho e fazendo exposições em diversas cidades. No fim da Rambla, em Barcelona, podemos encontrá-lo, com as suas pequenas pinturas de registo do bairro Gótico.
Gago - nome com que assina - perscruta os seus eventuais clientes - com um olhar suave mas não ingénuo. - Donde es? - Portugal.
- Há em Lisboa, diz, um grande museu de um homem que se chamou Calouste Gulbenkian. Sabes a nacionalidade dele? - Arménio, respondo.
Gago sorri, surpreendido. És o primeiro português que encontro que sabe a nacionalidade do meu compatriota. Te darei, por isso, um regalo. Podes escolher uma das minhas pinturas.
Gago - nome com que assina - perscruta os seus eventuais clientes - com um olhar suave mas não ingénuo. - Donde es? - Portugal.
- Há em Lisboa, diz, um grande museu de um homem que se chamou Calouste Gulbenkian. Sabes a nacionalidade dele? - Arménio, respondo.
Gago sorri, surpreendido. És o primeiro português que encontro que sabe a nacionalidade do meu compatriota. Te darei, por isso, um regalo. Podes escolher uma das minhas pinturas.
quarta-feira, 27 de abril de 2011
A crise continua
Leio no Soir (entre Bruxelas e Frankfurt) o novo provérbio dos belgas, há 10 meses à procura de um governo:
"Quando não há solução é porque não há problema".
"Quando não há solução é porque não há problema".
terça-feira, 26 de abril de 2011
Corto Maltese
Umberto Eco: Quando ho voglia di rilassarmi leggo un saggio di Engels, se invece desidero impegnarmi leggo Corto Maltese.
Tradução livre: Para me descontrair leio um ensaio de Engels, mas é em Corto Maltese que procuro o envolvimento.
Viagem imaginária de Hugo Pratt. Para visitar aqui.
Tradução livre: Para me descontrair leio um ensaio de Engels, mas é em Corto Maltese que procuro o envolvimento.
Viagem imaginária de Hugo Pratt. Para visitar aqui.
segunda-feira, 25 de abril de 2011
As três datas do 25 de Abril
1. Uma data singular: a revolução
No Portugal do século XX, o 25 de Abril foi o acontecimento mais importante. Podia ter originado uma alteração de regime político e arrastado mudanças na classe dirigente, podia ter introduzido novas expectativas sociais e criado condições para uma reorientação da economia. Foi tudo isso, que já é muito, mas foi muito mais do que isso. Implicou um corte profundo na história, uma verdadeira ruptura com o passado. E por isso foi uma data singular.
As rupturas históricas não são o mero resultado da vontade dos intervenientes, mas o produto de uma conjugação rara de factores, de uma sincronização de descontentamentos e de disponibilidade de meios para lhes dar voz e direcção. Foi o que sucedeu com o 25 de Abril de 1974.
Talvez pudéssemos resumir a quatro os elementos que confluem para o 25 de Abril. Em primeiro lugar, naturalmente, devemos pôr em destaque o movimento militar, conduzido com coragem e generosidade pelos capitães de Abril. Esse movimento começara por definir intenções do foro exclusivamente militar, mas rapidamente se apercebeu de que o regime da ditadura era surdo aos seus apelos, e que teria de ser derrubado pela força e substituído por um regime democrático que assegurasse a normalidade institucional no país.
Antes porém desse acto de insubordinação que foi absolutamente decisivo, está a Resistência, um somatório longo e persistente de vontades que se opuseram à ditadura, reclamando a liberdade. A história do Autoritarismo que regeu Portugal entre 1926 e 1974 foi percorrida, ininterruptamente, por gestos de insubmissão, protestos dos mais variados sectores sociais, a que a Ditadura respondeu com repressão violenta, prisão, eliminação física, discriminação, desterro, com fundamento em opinião ideológica e política. A resistência acumulada ao longo das quase cinco décadas anteriores não só conferiu legitimidade ao 25 de Abril de 1974, como manteve viva uma cultura da liberdade que foi fundamental para dar corpo ao regime construído em seguida. Este é o segundo elemento.
O terceiro é a questão colonial. O 25 de Abril está indissoluvelmente ligado a ela, e à guerra que, desde 1962, o Estado Autoritário levou a cabo em África. O prolongamento da guerra tornou o sacrifício imposto à juventude cada vez mais intolerável e foi engrossando a consciência pública da sua inutilidade. Mas o autoritarismo tinha associado de tal forma a sua continuidade à permanência das colónias que qualquer forma de relacionamento entre Portugal e os países africanos de língua portuguesa, baseada na autonomia e na cooperação, implicava forçosamente uma mudança de regime.
Finalmente, e em quarto lugar, há que referir o movimento popular que no próprio dia 25 de Abril e seguintes, por todo o Portugal, e de forma expontânea, saiu para a rua exprimindo apoio ao movimento dos capitães e exigindo a democratização da sociedade portuguesa. Esse movimento popular colocou de um modo ainda mal estruturado, mas vigoroso, a urgência de novas instituições políticas, e foi nesse contexto que se formaram os partidos políticos e se definiu uma matriz pluralista para a nova República.
Estes são os argumentos que invoco para falar de revolução a propósito do 25 de Abril.
2. Uma data histórica: um processo de mudança
A ruptura do 25 de Abril inscreve-se num ciclo de grandes transformações da sociedade portuguesa, e funciona como um acelerador da mudança. É possível destacar três níveis de mudança.
A mudança social foi um desses níveis. Os campos tinham começado a perder gente na década de 60 e a tendência para a diminuição da população rural e para o aumento percentual da população urbana acentuou-se nas últimas duas décadas. A urbanização trouxe uma diversificação social e um aumento do peso relativo das classes médias. As áreas de Lisboa e Porto foram as principais beneficiárias desse movimento populacional, e o interior o principal sacrificado, mas surgiram igualmente cidades médias com capacidade de atracção, sobretudo no sector dos serviços. Alteraram-se os padrões de consumo e muitos indicadores civilizacionais, desde o tipo de família à condição da mulher, desde a disseminação da informação à ocupação dos tempos livres.
Em paralelo com estas mudanças sociais, assistimos ao crescimento do conjunto dos sistemas sociais, funções modernas do Estado. Trata-se, entre outros, dos sistemas de ensino, de segurança social e de saúde. O Estado Providência deu os primeiros passos na década de 1960 e adquiriu contornos de sistema depois da revolução de 1974. O sistema nacional de saúde foi consagrado na Constituição de 1976. O ensino obrigatório que era de 4 anos em 1974, subiu para 9 em 1986. O número de alunos duplicou nas últimas quatro décadas. Só os estudantes do ensino superior decuplicaram no mesmo período (de 40000 para cerca de 400000).
Mudanças políticas estruturais situam-se a um terceiro nível. O 25 de Abril assegurou a refundação de um Estado de Direito baseado nas liberdades e garantias individuais, na divisão de poderes, na independência dos tribunais, na representação plural mediada pelos partidos políticos. Entre os aspectos que mais creditam a nova República da Democracia podemos citar o poder local e a integração europeia.
Os municípios constituem hoje a instância mais importante e generalizada da descentralização administrativa. Estiveram logo a seguir ao 25 de Abril na primeira linha do combate pelo desenvolvimento das comunidades. Dados os poderes que obtiveram e os meios que controlam, a sua influência na vida das populações e no ordenamento do território é hoje decisiva.
Portugal aderiu à Comunidade Europeia em 1986, um acto político que culminou uma aproximação de várias décadas. As instituições portuguesas adaptaram-se com relativa facilidade à nova ordem jurídica e aos processos de decisão comunitários. A economia portuguesa, uma economia muito aberta e que tinha já nos países europeus os principais parceiros, tem mantido uma capacidade de resposta interessante, e conseguiu cumprir os critérios da convergência monetária. A Europa constitui hoje um espaço de afirmação da identidade nacional e de projecção da cultura portuguesa.
3. Uma data mágica: de quantas vidas é feita a vida de um homem?
Suponho que a minha condição de historiador pesou no convite para participar nesta iniciativa. Procurei acima não desmerecer dessa condição, conhecendo embora não só as minhas próprias limitações, como a pouca distância a que nos encontramos de uma data que pretendemos avaliar historicamente.
Acontece, no entanto que sendo esta publicação norteada pelo objectivo de dar a palavra a quem, tendo nascido em 1974, perfaz agora 25 anos, eu me acho autorizado a prestar igualmente um testemunho pessoal. É que eu tinha exactamente 25 anos a 25 de Abril e acabo portanto de perfazer meio século. Uma vida cortada pelo meio a 25 de Abril de 1974.
Quero dizer então que o 25 de Abril representou o fim do medo, tanto do medo resultante das ameaças de perseguição e de repressão, como do medo resultante da distância a que sentia os meus compatriotas do desenvolvimento, da ciência, da cultura, dos factores da dignidade humana.
Para a minha geração o 25 de Abril foi um desafio sem medida, que aceitámos com a mesma generosidade com que tínhamos combatido a Ditadura, com o mesmo empenho com que tínhamos resistido à Ditadura, mas sobretudo com o gosto pelo sonho de quem subitamente acha tudo urgente e possível. Tive - tivemos - a experiência única de quem atravessa uma fronteira, a fronteira da Liberdade. Por isso afirmo que o 25 de Abril é uma data mágica.
Que é feito de muitos sonhos, agora que decorreram 25 anos? Do paradeiro de alguns, do destino de outros poderei falar com decepção e até desgosto. Mas posso continuar a sonhar, e esse é o legado inestimável do 25 de Abril. Valeu a pena!
[Texto publicado em 1999]
No Portugal do século XX, o 25 de Abril foi o acontecimento mais importante. Podia ter originado uma alteração de regime político e arrastado mudanças na classe dirigente, podia ter introduzido novas expectativas sociais e criado condições para uma reorientação da economia. Foi tudo isso, que já é muito, mas foi muito mais do que isso. Implicou um corte profundo na história, uma verdadeira ruptura com o passado. E por isso foi uma data singular.
As rupturas históricas não são o mero resultado da vontade dos intervenientes, mas o produto de uma conjugação rara de factores, de uma sincronização de descontentamentos e de disponibilidade de meios para lhes dar voz e direcção. Foi o que sucedeu com o 25 de Abril de 1974.
Talvez pudéssemos resumir a quatro os elementos que confluem para o 25 de Abril. Em primeiro lugar, naturalmente, devemos pôr em destaque o movimento militar, conduzido com coragem e generosidade pelos capitães de Abril. Esse movimento começara por definir intenções do foro exclusivamente militar, mas rapidamente se apercebeu de que o regime da ditadura era surdo aos seus apelos, e que teria de ser derrubado pela força e substituído por um regime democrático que assegurasse a normalidade institucional no país.
Antes porém desse acto de insubordinação que foi absolutamente decisivo, está a Resistência, um somatório longo e persistente de vontades que se opuseram à ditadura, reclamando a liberdade. A história do Autoritarismo que regeu Portugal entre 1926 e 1974 foi percorrida, ininterruptamente, por gestos de insubmissão, protestos dos mais variados sectores sociais, a que a Ditadura respondeu com repressão violenta, prisão, eliminação física, discriminação, desterro, com fundamento em opinião ideológica e política. A resistência acumulada ao longo das quase cinco décadas anteriores não só conferiu legitimidade ao 25 de Abril de 1974, como manteve viva uma cultura da liberdade que foi fundamental para dar corpo ao regime construído em seguida. Este é o segundo elemento.
O terceiro é a questão colonial. O 25 de Abril está indissoluvelmente ligado a ela, e à guerra que, desde 1962, o Estado Autoritário levou a cabo em África. O prolongamento da guerra tornou o sacrifício imposto à juventude cada vez mais intolerável e foi engrossando a consciência pública da sua inutilidade. Mas o autoritarismo tinha associado de tal forma a sua continuidade à permanência das colónias que qualquer forma de relacionamento entre Portugal e os países africanos de língua portuguesa, baseada na autonomia e na cooperação, implicava forçosamente uma mudança de regime.
Finalmente, e em quarto lugar, há que referir o movimento popular que no próprio dia 25 de Abril e seguintes, por todo o Portugal, e de forma expontânea, saiu para a rua exprimindo apoio ao movimento dos capitães e exigindo a democratização da sociedade portuguesa. Esse movimento popular colocou de um modo ainda mal estruturado, mas vigoroso, a urgência de novas instituições políticas, e foi nesse contexto que se formaram os partidos políticos e se definiu uma matriz pluralista para a nova República.
Estes são os argumentos que invoco para falar de revolução a propósito do 25 de Abril.
2. Uma data histórica: um processo de mudança
A ruptura do 25 de Abril inscreve-se num ciclo de grandes transformações da sociedade portuguesa, e funciona como um acelerador da mudança. É possível destacar três níveis de mudança.
A mudança social foi um desses níveis. Os campos tinham começado a perder gente na década de 60 e a tendência para a diminuição da população rural e para o aumento percentual da população urbana acentuou-se nas últimas duas décadas. A urbanização trouxe uma diversificação social e um aumento do peso relativo das classes médias. As áreas de Lisboa e Porto foram as principais beneficiárias desse movimento populacional, e o interior o principal sacrificado, mas surgiram igualmente cidades médias com capacidade de atracção, sobretudo no sector dos serviços. Alteraram-se os padrões de consumo e muitos indicadores civilizacionais, desde o tipo de família à condição da mulher, desde a disseminação da informação à ocupação dos tempos livres.
Em paralelo com estas mudanças sociais, assistimos ao crescimento do conjunto dos sistemas sociais, funções modernas do Estado. Trata-se, entre outros, dos sistemas de ensino, de segurança social e de saúde. O Estado Providência deu os primeiros passos na década de 1960 e adquiriu contornos de sistema depois da revolução de 1974. O sistema nacional de saúde foi consagrado na Constituição de 1976. O ensino obrigatório que era de 4 anos em 1974, subiu para 9 em 1986. O número de alunos duplicou nas últimas quatro décadas. Só os estudantes do ensino superior decuplicaram no mesmo período (de 40000 para cerca de 400000).
Mudanças políticas estruturais situam-se a um terceiro nível. O 25 de Abril assegurou a refundação de um Estado de Direito baseado nas liberdades e garantias individuais, na divisão de poderes, na independência dos tribunais, na representação plural mediada pelos partidos políticos. Entre os aspectos que mais creditam a nova República da Democracia podemos citar o poder local e a integração europeia.
Os municípios constituem hoje a instância mais importante e generalizada da descentralização administrativa. Estiveram logo a seguir ao 25 de Abril na primeira linha do combate pelo desenvolvimento das comunidades. Dados os poderes que obtiveram e os meios que controlam, a sua influência na vida das populações e no ordenamento do território é hoje decisiva.
Portugal aderiu à Comunidade Europeia em 1986, um acto político que culminou uma aproximação de várias décadas. As instituições portuguesas adaptaram-se com relativa facilidade à nova ordem jurídica e aos processos de decisão comunitários. A economia portuguesa, uma economia muito aberta e que tinha já nos países europeus os principais parceiros, tem mantido uma capacidade de resposta interessante, e conseguiu cumprir os critérios da convergência monetária. A Europa constitui hoje um espaço de afirmação da identidade nacional e de projecção da cultura portuguesa.
3. Uma data mágica: de quantas vidas é feita a vida de um homem?
Suponho que a minha condição de historiador pesou no convite para participar nesta iniciativa. Procurei acima não desmerecer dessa condição, conhecendo embora não só as minhas próprias limitações, como a pouca distância a que nos encontramos de uma data que pretendemos avaliar historicamente.
Acontece, no entanto que sendo esta publicação norteada pelo objectivo de dar a palavra a quem, tendo nascido em 1974, perfaz agora 25 anos, eu me acho autorizado a prestar igualmente um testemunho pessoal. É que eu tinha exactamente 25 anos a 25 de Abril e acabo portanto de perfazer meio século. Uma vida cortada pelo meio a 25 de Abril de 1974.
Quero dizer então que o 25 de Abril representou o fim do medo, tanto do medo resultante das ameaças de perseguição e de repressão, como do medo resultante da distância a que sentia os meus compatriotas do desenvolvimento, da ciência, da cultura, dos factores da dignidade humana.
Para a minha geração o 25 de Abril foi um desafio sem medida, que aceitámos com a mesma generosidade com que tínhamos combatido a Ditadura, com o mesmo empenho com que tínhamos resistido à Ditadura, mas sobretudo com o gosto pelo sonho de quem subitamente acha tudo urgente e possível. Tive - tivemos - a experiência única de quem atravessa uma fronteira, a fronteira da Liberdade. Por isso afirmo que o 25 de Abril é uma data mágica.
Que é feito de muitos sonhos, agora que decorreram 25 anos? Do paradeiro de alguns, do destino de outros poderei falar com decepção e até desgosto. Mas posso continuar a sonhar, e esse é o legado inestimável do 25 de Abril. Valeu a pena!
[Texto publicado em 1999]
domingo, 24 de abril de 2011
sábado, 23 de abril de 2011
sexta-feira, 22 de abril de 2011
A pomba de Picasso
De 20 a 25 de Abril de 1949, há 62 anos, realizou-se em Paris e Praga um Congresso Mundial da Paz, uma organização nascida de uma directiva do Partido Comunista da União Soviética.
Picasso desenhou a pomba que se tornaria a marca dos congressos e o símbolo da paz.
Picasso desenhou a pomba que se tornaria a marca dos congressos e o símbolo da paz.
quinta-feira, 21 de abril de 2011
O campo decepcionante das autobiografias de historiadores
Perry Andersen, a propósito da obra autobiográfica de Eric Hobsbawm, Interesting Times: A 20th-Century Life, Allen Lane, September 2002 (editada em português com o título Tempos Interessantes: Uma Vida no Século XX, Porto, Campo das Letras, 2005).
What apter practitioners of autobiography than historians? Trained to examine the past with an impartial eye, alert to oddities of context and artifices of narrative, they would appear to be the ideal candidates for the difficult task of the self-description of a life. Yet strangely it is not they but philosophers who have excelled at the genre – indeed all but invented it. In principle, autobiography is the most intimately particular of all forms of writing, philosophy the most abstract and impersonal. They should be oil and water. But it was Augustine and Rousseau who gave us the personal and sexual confession and Descartes who offered the first ‘history of my mind’: in modern times Mill and Nietzsche, Collingwood and Russell, Sartre and Quine, all left records of themselves more memorable than anything else written about them. The number of historians who have produced autobiographies of any distinction, on the other hand, is remarkably small. In the 19th century, the self-serving memoirs of Guizot and Tocqueville, rarely consulted today, are of interest mainly as testimonials of political evasion. Closer to hand, Marc Bloch’s post-mortem on 1940, with its mixture of personal report and general requisitory, is a poignant document, but too circumscribed for more than flashes of self-revelation. More recently, we have the eccentric cameos of Richard Cobb and causeries of A.J.P. Taylor, of which he said they were evidence that he had run out of historical subjects. In all, in the genre for which it seems so well designed, the craft of the historian has yielded perhaps only two classics – Gibbon’s graceful mirror at the end of the 18th century, and Henry Adams’s eerie Wunderkammer at the beginning of the 20th.
"The Age of EJH".
Texto completo na London Review of Books, Vol. 24 No. 19 · 3 October 2002, pages 3-7
What apter practitioners of autobiography than historians? Trained to examine the past with an impartial eye, alert to oddities of context and artifices of narrative, they would appear to be the ideal candidates for the difficult task of the self-description of a life. Yet strangely it is not they but philosophers who have excelled at the genre – indeed all but invented it. In principle, autobiography is the most intimately particular of all forms of writing, philosophy the most abstract and impersonal. They should be oil and water. But it was Augustine and Rousseau who gave us the personal and sexual confession and Descartes who offered the first ‘history of my mind’: in modern times Mill and Nietzsche, Collingwood and Russell, Sartre and Quine, all left records of themselves more memorable than anything else written about them. The number of historians who have produced autobiographies of any distinction, on the other hand, is remarkably small. In the 19th century, the self-serving memoirs of Guizot and Tocqueville, rarely consulted today, are of interest mainly as testimonials of political evasion. Closer to hand, Marc Bloch’s post-mortem on 1940, with its mixture of personal report and general requisitory, is a poignant document, but too circumscribed for more than flashes of self-revelation. More recently, we have the eccentric cameos of Richard Cobb and causeries of A.J.P. Taylor, of which he said they were evidence that he had run out of historical subjects. In all, in the genre for which it seems so well designed, the craft of the historian has yielded perhaps only two classics – Gibbon’s graceful mirror at the end of the 18th century, and Henry Adams’s eerie Wunderkammer at the beginning of the 20th.
"The Age of EJH".
Texto completo na London Review of Books, Vol. 24 No. 19 · 3 October 2002, pages 3-7
terça-feira, 19 de abril de 2011
Viagens a Portugal
Bruno Peluca é arquitecto. Investiga e lecciona no Departamento de Urbanismo e Planeamento da Universidade de Florença sobre os seguintes temas: projecto e gestão urbana; regeneração urbana e espaço público.
As duas obras que coordenou sobre Portugal:
Progetto e territorio. La via portoghese, Alinea Editrice, Firenze, 2010.
Colaborações de: Pedro Bandeira, Gabriele Basilico, Pedro Maurício Borges, Camilo Cortesão, Álvaro Domingues, Vítor Matias Ferreira, João Francisco Figueira, Miguel Figueira, Alexandra Gesta, João Gomes da Silva, Francesco Indovina, Manuela Juncal, João Ferreira Nunes, José Machado Pais, Bruno Pelucca, Nuno Portas, Ricardo Rocha, Manuel Fernandes de Sá, Ana Tostões, Mercês Vieira.
Viaggio in Portogallo. Dentro e fuori i territori dell'architettura, Aracne Editrice, Roma, 2010.
Colaborações de: Giovanni Allegretti, Sara Angelini, Pedro Maurício Borges, Gregorio Carboni Maestri, Paulo Catrica, João Francisco Figueira, Ricardo Gil, Joana Maia, Daniel Monteiro, Maurizio Morandi, Bruno Pelucca, Paride Piccinini, Alexandra Prado Coelho, Vincenzo Riso, Manuel Salgado, Cidália Silva, André Tavares, Juliana Torquato Luiz, Filippo Turch.
As duas obras que coordenou sobre Portugal:
Progetto e territorio. La via portoghese, Alinea Editrice, Firenze, 2010.
Colaborações de: Pedro Bandeira, Gabriele Basilico, Pedro Maurício Borges, Camilo Cortesão, Álvaro Domingues, Vítor Matias Ferreira, João Francisco Figueira, Miguel Figueira, Alexandra Gesta, João Gomes da Silva, Francesco Indovina, Manuela Juncal, João Ferreira Nunes, José Machado Pais, Bruno Pelucca, Nuno Portas, Ricardo Rocha, Manuel Fernandes de Sá, Ana Tostões, Mercês Vieira.
Viaggio in Portogallo. Dentro e fuori i territori dell'architettura, Aracne Editrice, Roma, 2010.
Colaborações de: Giovanni Allegretti, Sara Angelini, Pedro Maurício Borges, Gregorio Carboni Maestri, Paulo Catrica, João Francisco Figueira, Ricardo Gil, Joana Maia, Daniel Monteiro, Maurizio Morandi, Bruno Pelucca, Paride Piccinini, Alexandra Prado Coelho, Vincenzo Riso, Manuel Salgado, Cidália Silva, André Tavares, Juliana Torquato Luiz, Filippo Turch.
segunda-feira, 18 de abril de 2011
No te amaré manana
De la lonja
No te amaré mañana. He aguardado
tantos días desnuda, con tu nombre
grabado entre las cejas, que olvidé
los inviernos, el azul y las rosas.
Ciertamente, habría de ser negra
la piel negra del perro que amordazó
mis piernas y fue lenta, hacia dentro
vistiendo de parálisis la gallarda
evidencia del hombro. Hoy he visto
que tan sólo milímetros le restan
a los hilos del túnel. Pero existe el remedio:
Mañana, cuando tú te despiertes,
encontrarás el lecho bañado con mi sangre.
Un panal de uñas rotas, y tal vez
una pluma deshojada en la lucha.
No debes sorprenderte. Habré ganado
en el instante último mi guerra.
Con un ala perdida junto al cielo
y la llave morada de los labios, estaré,
torpe y triste, otra vez aprendiendo.
Mas debe ser así, pues que la libertad
hermana es gemela de la muerte.
Juana Castro
De Arte de cetrería, Col. Juan Ramón Jiménez, Huelva 1989
Juana Castro recebeu em Espanha o Prémio de la Crítica de poesia pelo livro inédito Cartas de Enero.
No te amaré mañana. He aguardado
tantos días desnuda, con tu nombre
grabado entre las cejas, que olvidé
los inviernos, el azul y las rosas.
Ciertamente, habría de ser negra
la piel negra del perro que amordazó
mis piernas y fue lenta, hacia dentro
vistiendo de parálisis la gallarda
evidencia del hombro. Hoy he visto
que tan sólo milímetros le restan
a los hilos del túnel. Pero existe el remedio:
Mañana, cuando tú te despiertes,
encontrarás el lecho bañado con mi sangre.
Un panal de uñas rotas, y tal vez
una pluma deshojada en la lucha.
No debes sorprenderte. Habré ganado
en el instante último mi guerra.
Con un ala perdida junto al cielo
y la llave morada de los labios, estaré,
torpe y triste, otra vez aprendiendo.
Mas debe ser así, pues que la libertad
hermana es gemela de la muerte.
Juana Castro
De Arte de cetrería, Col. Juan Ramón Jiménez, Huelva 1989
Juana Castro recebeu em Espanha o Prémio de la Crítica de poesia pelo livro inédito Cartas de Enero.
domingo, 17 de abril de 2011
sábado, 16 de abril de 2011
Como um profissional
Camino de mi ventana
Yo me eché a caminar por un camino
Que llevaba a la fábrica de luz.
Un camino, además, que terminaba
Delante de mi casa, justamente
Al abrir la ventana que da al mar.
Yo me fui convirtiendo, sin pensarlo.
En un obrero más, de los que abría
Las más grandes compuertas invisibles,
Celestes transparencias, y engrasaba
Los émbolos más altos, las poleas
Que elaboraban la mañana atlántica.
Después de mucho tiempo, tantos años
De aprender el oficio, convertido
En un obrero ya especializado.
Me fue confiado dar la luz del día.
Como un profesional, yo me dedico
A cumplir la faena encomendada
Apenas conocida por mi barrio.
Yo me eché a caminar por un camino
Que termina delante mi ventana.
Donde pulso la grande maquinaria.
Manuel Padorno (1933-2002)
Ver www.manuelpadorno.es.
Yo me eché a caminar por un camino
Que llevaba a la fábrica de luz.
Un camino, además, que terminaba
Delante de mi casa, justamente
Al abrir la ventana que da al mar.
Yo me fui convirtiendo, sin pensarlo.
En un obrero más, de los que abría
Las más grandes compuertas invisibles,
Celestes transparencias, y engrasaba
Los émbolos más altos, las poleas
Que elaboraban la mañana atlántica.
Después de mucho tiempo, tantos años
De aprender el oficio, convertido
En un obrero ya especializado.
Me fue confiado dar la luz del día.
Como un profesional, yo me dedico
A cumplir la faena encomendada
Apenas conocida por mi barrio.
Yo me eché a caminar por un camino
Que termina delante mi ventana.
Donde pulso la grande maquinaria.
Manuel Padorno (1933-2002)
Ver www.manuelpadorno.es.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
Entendam-se!
Começamos a ficar cansados, não?
Não há dia em que um eurocrata não nos venha aconselhar, persuadir, ameaçar - Entendam-se! Entendam-se, senão...
Sabem há quanto tempo dura a última crise política belga? Desde as eleições de 13 de junho de 2010, sobre cujo resultado não foi possível formar qualquer entendimento que possibilitasse a formação de um governo.
E se os dirigentes da União, com sede em Bruxelas, dirigissem o seu apelo/ordem também aos que estão mesmo ao pé da porta?
Não há dia em que um eurocrata não nos venha aconselhar, persuadir, ameaçar - Entendam-se! Entendam-se, senão...
Sabem há quanto tempo dura a última crise política belga? Desde as eleições de 13 de junho de 2010, sobre cujo resultado não foi possível formar qualquer entendimento que possibilitasse a formação de um governo.
E se os dirigentes da União, com sede em Bruxelas, dirigissem o seu apelo/ordem também aos que estão mesmo ao pé da porta?
O rei Alberto II (à direita) gesticula, durante uma reunião no Palácio Real de Bruxelas, com Joelle Milquet, Presidente do Partido Democrata Cristão (francófono) após a demissão do mediador nomeado pelo monarca.
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Lifting
Desta vez será mesmo invasivo.
André Carrilho, República Portuguesa, 2007
In 1910 e 2010 Face a Face. Respublica. Exposição do CAM - Fundação Calouste Gulbenkian. Catálogo. Lisboa, FCG, 2010. p. 101.
quarta-feira, 13 de abril de 2011
O inferno que habitamos
E [Marco] Polo: - O inferno dos vivos não é uma coisa que virá a existir; se houver um, é o que está aqui, o inferno que habitamos todos os dias, que nós formamos ao estarmos juntos. Há dois modos para não o sofrermos. O primeiro torna-se fácil para muita gente: aceitar o inferno e fazer parte dele, a ponto de já não o vermos. O segundo é arriscado e exige uma atenção e uma aprendizagem contínuas: tentar e saber reconhecer, no meio do inferno, que é e que não é o inferno, e fazê-lo viver, e dar-lhe lugar.
Italo Calvino, As Cidades Invisíveis. Lisboa, Teorema, 2000. p. 166.
Italo Calvino, As Cidades Invisíveis. Lisboa, Teorema, 2000. p. 166.
terça-feira, 12 de abril de 2011
O segredo da memória
Giovanna:
Ainda preciso de uma palavra tua, Davide [o velho amigo que morreu], de um olhar, de um gesto teu...
Mas, subitamente, sinto os teus gestos nos meus, reconheço-te nas minhas próprias palavras.
Será que todos os que partem deixam sempre connosco alguma coisa de si?
Será este o segredo da memória?
Se assim for, sinto-me mais segura porque sei que nunca estarei só.
Monólogo da cena final do filme de Ferzan Ozpetek, A Janela em Frente. 2003.
Ainda preciso de uma palavra tua, Davide [o velho amigo que morreu], de um olhar, de um gesto teu...
Mas, subitamente, sinto os teus gestos nos meus, reconheço-te nas minhas próprias palavras.
Será que todos os que partem deixam sempre connosco alguma coisa de si?
Será este o segredo da memória?
Se assim for, sinto-me mais segura porque sei que nunca estarei só.
Monólogo da cena final do filme de Ferzan Ozpetek, A Janela em Frente. 2003.
Paula Rego, Passado e Presente.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
domingo, 10 de abril de 2011
Face to face
"Cada um é da cor do seu coração"
In 1910 e 2010 Face a Face. Respublica. Exposição do CAM - Fundação Calouste Gulbenkian. Catálogo. Lisboa, FCG, 2010. p. 87.
E Vasco Araújo Website.
sábado, 9 de abril de 2011
sexta-feira, 8 de abril de 2011
A lógica da economia pura
Uma crise económica surge a maior parte das vezes em situações em que o dinheiro serve para produzir mais dinheiro, e não para possibilitar a produção. Esta fórmula, que evoca o pensamento de Marx, remete para a dominação do capitalismo financeiro e até especulativo sobre a economia real. Numa crise, não há actores propriamente sociais, pois os financeiros só se definem pelo lucro, incluindo o lucro resultante da especulação, enquanto que todos os outros, empresários, sobretudo pequenos e médios, e assalariados, ficam reduzidos ao papel de vítimas. Para a maioria das pessoas, a crise significa em primeiro lugar desemprego e, para muitos milhões de americanos, a perda da sua casa.
Alain Touraine, Après la Crise. Paris. Éditions du Seuil, 2010. p. 127.
Alain Touraine, Après la Crise. Paris. Éditions du Seuil, 2010. p. 127.
quinta-feira, 7 de abril de 2011
quarta-feira, 6 de abril de 2011
Memórias de Maria Veleda
Não poderei estar presente na cerimónia de lançamento das Memórias de Maria Veleda que hoje decorre em Leiria, o que lamento.
Tomei contacto com a biografia desta lutadora republicana pelos direitos humanos exactamente em Leiria, graças a uma chamada de atenção de Maria José Franca Miranda.
Maria José - que alia a circunstância de ser descendente directa de Maria Veleda a uma genuina e entusiástica admiração pela sua avó Maria Carolina Frederico Crispim (que adoptou o pseudónimo literário de Maria Velada) - também me permitiu o acesso às Memórias, tal como foram inicialmente publicadas nos anos 50 no jornal República. Como aqui referi em tempos, foi também por sua sugestão que visitei a exposição - Maria Veleda: uma Professora Feminista, Republicana e Livre-Pensadora - no Museu República e Resistência, obtive o respectivo catálogo e ouvi uma comunicação da Professora Natividade Monteiro, autora de uma tese de mestrado sobre Maria Veleda editada pela Comissão para a Igualdade.
A Maria José é devido um aplauso grato pela disponibilidade e empenho que tem colocado na valorização e reconhecimento da figura singular de Maria Veleda.
terça-feira, 5 de abril de 2011
segunda-feira, 4 de abril de 2011
"A minha família"
Como podem ver, a minha família é um perfeito caos. Portanto, é assim mesmo que vai ter de ficar no meu filme.
Quanto à minha irmã, já sabem, ela é o monstro das bonecas. Por isso, vai comer bonecas ao pequeno-almoço, ao almoço, ao lanche e ao jantar!
A minha mãe vai ter seis mãos. Assim, já não pode queixar-se a dizer que só tem duas. Além disso, desta maneira vai se mais fácil para ela fazer muitas coisas ao mesmo tempo.
Todos os dias, vai haver pelo menos um jogo de futebol da selecção, para o meu pai delirar à vontade e festejar golos à maluca.Quanto à minha irmã, já sabem, ela é o monstro das bonecas. Por isso, vai comer bonecas ao pequeno-almoço, ao almoço, ao lanche e ao jantar!
Jr. Rodry, A Minha Escola Dava um Filme. Sintra, Girassol, 2011. p. 39.
domingo, 3 de abril de 2011
sábado, 2 de abril de 2011
Minhotos e estremenhos, lavradores e saloios (1875)
É neste meio que eu me abalanço a esgaratujar novelas. Há treze annos que apéguei por esse Minho, em cata do balsamo dos pinheirais e das fragrancias das almas inocentes. Diziam-me que a rusticidade era o derradeiro baluarte da pureza, e que os lavradores do Minho, nivelados com os saloios da Estremadura, eram os candidos pastores da Arcadia comparados aos malandrins de Gomorrha.
Um dos meus estudos, no intuito de me habilitar para o confronto do saloio com o minhoto—da raça sarracena com a galega é a historinha que lhe dedico meu nobre amigo.
Camilo Castelo Branco, Novelas do Minho, p 128-129
Um dos meus estudos, no intuito de me habilitar para o confronto do saloio com o minhoto—da raça sarracena com a galega é a historinha que lhe dedico meu nobre amigo.
Camilo Castelo Branco, Novelas do Minho, p 128-129
Eleições
Estas são as eleições antecipadas mais estranhas de que me recordo. O risco que lhes está associado é elevado.
Aparentemente, todos os líderes partidários as quiseram. Aparentemente também o entusiasmo do eleitorado pela realização de eleições é diminuto. As alternativas não são claras. Existirão? Os sucessivos apelos ao entendimento sublinham que as discordâncias entre partidos são estridentes mas não substantivas.
Eleições antecipadas representam uma ruptura no curso normal da vida politica e surgem envolvidas num certo dramatismo. É o dramatismo que antecede a mudança de ciclo. Todos os presidentes recorreram a ele, antecipando essa mudança. Esta é a primeira vez em que isso não acontece. O Presidente convoca eleições porque o Primeiro Ministro se demite e os partidos também as querem. Talvez o Presidente também as queira, mas a leitura que induz ao eleitorado é que as convoca porque nem o Governo nem os partidos da Oposição lhe deram margem de manobra para outra decisão.
Devolva-se então a palavra ao povo soberano – diz o Presidente sem grande convicção, enquanto os Partidos se acusam mutuamente de terem gerado uma degradação da situação. Que é que o povo soberano é então convidado a decidir? Qual é a orientação politica que deve presidir ao combate à crise? Mas se lhe dizem que só há uma orientação politica viável... Qual é o partido que deve formar governo? Mas se lhe dizem que o governo se deve basear num entendimento entre partidos...
O risco destas eleições é darem origem a mesma resposta que os eleitores deram aos referendos: os políticos que decidam, não nos peçam que nos comprometamos com uma equação impossível.
Aparentemente, todos os líderes partidários as quiseram. Aparentemente também o entusiasmo do eleitorado pela realização de eleições é diminuto. As alternativas não são claras. Existirão? Os sucessivos apelos ao entendimento sublinham que as discordâncias entre partidos são estridentes mas não substantivas.
Eleições antecipadas representam uma ruptura no curso normal da vida politica e surgem envolvidas num certo dramatismo. É o dramatismo que antecede a mudança de ciclo. Todos os presidentes recorreram a ele, antecipando essa mudança. Esta é a primeira vez em que isso não acontece. O Presidente convoca eleições porque o Primeiro Ministro se demite e os partidos também as querem. Talvez o Presidente também as queira, mas a leitura que induz ao eleitorado é que as convoca porque nem o Governo nem os partidos da Oposição lhe deram margem de manobra para outra decisão.
Devolva-se então a palavra ao povo soberano – diz o Presidente sem grande convicção, enquanto os Partidos se acusam mutuamente de terem gerado uma degradação da situação. Que é que o povo soberano é então convidado a decidir? Qual é a orientação politica que deve presidir ao combate à crise? Mas se lhe dizem que só há uma orientação politica viável... Qual é o partido que deve formar governo? Mas se lhe dizem que o governo se deve basear num entendimento entre partidos...
O risco destas eleições é darem origem a mesma resposta que os eleitores deram aos referendos: os políticos que decidam, não nos peçam que nos comprometamos com uma equação impossível.
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Nem o PS consegue governar contra o PSD, nem o PSD o consegue contra o PS
José Pacheco Pereira no Público de 26 de Março:
A ideia de gloriosas rupturas, buscada sem rigor histórico no exemplo das rupturas de Sá Carneiro, esquece que hoje as condicionantes fundamentais da acção política estão fora de Portugal, e que o país para conseguir coisas tão mínimas como combustíveis para os seus automóveis, rações para os seus animais, medicamentos para os seus hospitais, e salários para os seus funcionários depende de ir pedir dinheiro emprestado, que cada vez mais escasseia. E esquece que o "governo económico-financeiro" passou para Berlim e Bruxelas e que as mesmas condicionantes que o PS tem hoje terá o PSD amanhã, ou piores ainda. Nesta crise de longa duração e muito dura, nem o PS consegue governar contra o PSD, nem o PSD o consegue contra o PS, e isto é tão evidente quanto está ausente da acção político-partidária. Mas no meio desta cegueira e da corrida de bandeirinhas rosa e laranja que se prepara, a nossa democracia depende desse entendimento.
A ideia de gloriosas rupturas, buscada sem rigor histórico no exemplo das rupturas de Sá Carneiro, esquece que hoje as condicionantes fundamentais da acção política estão fora de Portugal, e que o país para conseguir coisas tão mínimas como combustíveis para os seus automóveis, rações para os seus animais, medicamentos para os seus hospitais, e salários para os seus funcionários depende de ir pedir dinheiro emprestado, que cada vez mais escasseia. E esquece que o "governo económico-financeiro" passou para Berlim e Bruxelas e que as mesmas condicionantes que o PS tem hoje terá o PSD amanhã, ou piores ainda. Nesta crise de longa duração e muito dura, nem o PS consegue governar contra o PSD, nem o PSD o consegue contra o PS, e isto é tão evidente quanto está ausente da acção político-partidária. Mas no meio desta cegueira e da corrida de bandeirinhas rosa e laranja que se prepara, a nossa democracia depende desse entendimento.
Caldas da Rainha, 1927
O fotógrafo Mário Novais (1899-1967) registou, nas Caldas da Rainha, a V Exposição de actividades económicas realizada no Parque em 1927. Esta exposição teve a coordenação artística do Arquitecto Paulino Montês. O sucesso mediático e político desta iniciativa esteve na origem da atribuição do estatuto de cidade à vila das Caldas. O espólio de Mário Novais está hoje à guarda da Fundação Calouste Gulbenkian.
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