Entre as plantas trepadeiras é a videira uma das mais rústicas e vigorosas, cujos ramos, abandonados à sua índole vagabunda e expansiva, se estendem pela terra a grande distancia, ou trepam pelos rochedos, e sobem as mais altas árvores, elevando-se até lhes dominarem a copa, e debruçando-se nelas, as envolveram por todos os lados. Assim como é prodigioso o desenvolvimento dos seus ramos, também as suas raízes penetram até grandes profundidades, insinuando-se através do subsolo pelas fendas das rochas subjacentes. A sua vitalidade é por tal forma tenaz, que basta plantar uma pequena parte de um dos seus ramos, ainda muitos dias depois de cortada, contanto que nela exista um gomo, para que lance raízes e reproduza a planta donde proveio. Ao mesmo tempo é excessivamente sóbria; pois que pode viver e frutificar nos terrenos mais pobres, em que definham e morrem por falta de alimento a maior parte das plantas, que cultivamos para os nossos usos.
Quanto mais livremente cresce, mais tempo vive, mais abundantemente frutifica, do que temos numerosos exemplos nas videiras que se educam para vestir as ramadas ou trepar às árvores. Porém, se é muito produtiva a videira, quando, crescendo livremente, tomam os seus ramos grande desenvolvimento, em compensação os frutos, que nestas condições produz, não gozam daquelas qualidades que tornam apreciáveis para a fabricação do vinho as uvas criadas em vinha baixa. É por esta razão principalmente que a arte do viticultor intervém para restringir e dominar pela poda o crescimento natural da videira, melhorando a qualidade dos seus produtos.
Visconde de Vila Maior,
Manual de Viticultura Prática. Coimbra, Imprensa da Universidade, 1875. p. 40-41.
Vinhedo em Sendim, Miranda do Douro
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