À noção de legado está associado o princípio do bem – material – que é transmitido de pais para filhos, de uma geração mais velha a uma geração mais nova. Pedida de empréstimo pelos grandes sistemas de produção do simbólico, a noção passou a abarcar o bem imaterial (legado histórico). Mais do que um legado estritamente patrimonial, o legado histórico é cultural. Neste caso, estamos a falar de património cultural ou imaterial.
O primeiro aspecto a destacar é que o legado histórico não é imutável e não é determinado só por quem originalmente o produz. O legado é essencialmente o resultado de uma apropriação – e uma apropriação colectiva e não individual, ou seja que não resulta do somatório das apropriações individuais. O património histórico só o é verdadeiramente quando os herdeiros o reconhecem como tal e de alguma forma o integram na história que eles próprios constroem. Cada geração selecciona e conserva do passado aquilo que considera determinante e face ao qual se posiciona.
Isto significa que o legado não é apenas constituído pelas ideias, símbolos, práticas anteriores que valorizamos positivamente e que queremos continuar, mas também por aqueles que valorizamos negativamente e queremos ultrapassar, evitar, corrigir ou mesmo a que queremos contrapor a diferença ou a alternativa.
O legado é compósito, plural, contraditório e não unitário, determinista e intocável.
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
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2 comentários:
Ainda que excessivamente bioligista, trata-se de uma apreciação incontornável e que, na verdade, se pode dizer de toda e qualquer apropriação, que não apenas a histórica - onde, contudo, e por esta via, o espectro do relativismo na apreciação dos factos (?) do passado (v.g., a minimização dos mais heróicos ou a legitimação dos mais abjectos) se instala definitivamente.
Intocável, dissemos nós.....
Obrigado pela forma como colocou a questão do legado, e pela clarividência com que nos nos fez sentir como parte integrante da "apropriação" empreendida....
NB
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