- Como também não existe dentro de uma sala de aula...
Ah! poder ser silencioso... Diz-se que agora cerca de 80% dos adolescentes não conseguem ler um texto em silêncio, sem terem um fundo electrónico da rádio, da televisão, etc. É uma coisa pavorosa, porque o cérebro não pode absorver o estímulo simultâneo do ruído e do sentido. Este ruído é um grito de guerra. Há que prestar atenção. O simbolismo de uma grande concerto de rock, de uma rave – rave quer dizer delírio em inglês – o desencadear da histeria do ruído, é o contra-ataque contra os privilégios que tivemos e que excluíam centenas de milhões de seres humanos.
É muito interessante, porque isso atordoa algumas possibilidades de comunicação humana, mas dá, creio, o sentido de uma comunidade dinâmica, onde a identidade se tornou colectiva. Imagino que as cerimónias que acompanharam a tragédia antiga fossem, em certos aspectos, mais próximas de uma rave ou de uma noite de rock do que o teatro de Versalhes de Racine.
George Steiner.
Georges Steiner, Cécile Ladjali, Elogio da Transmissão. O Professor e o Aluno. Lisboa, D. Quixote, 2005. p. 65-66
1 comentário:
Confesso no pedido "desculpa", mas, o texto "Há que prestar atenção", aplica-se ao Sr. George Steiner, imaginando aspectos das cerimônias em tragédias antigas, e, sons...
Talvez, repense uma delas ao nada, comparável das: "Desabrigadas Águas".
Pontavente o desejo,
dos oceanos cruzar.
Fortuna, desta rota,
não pára de soprar.
Ardentia das paixões,
içadas pelo tempo.
Rangem os garlindéis,
sinfonias e lamentos.
Vagas revoltosas,
bramim o alento.
Partituras mastreadas,
lufam pensamentos.
Naus, salgando lágrimas,
despejadas ao relento.
Toando, ponto à ponto,
com melodias do vento.
O encastelado aos gemidos,
preces, vertidas no olhar.
Tantas vozes, sucumbidas,
nas entranhas deste mar.
Almas! De quantas despedidas,
ainda, chora Portugal...
Repousam, adormecidas,
neste leito de sal.
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