É por isso que lamento que já não se aprenda de cor. Aprender de cor é, em primeiro lugar, colaborar com o texto de uma maneira totalmente única. O que aprendemos de cor muda em nós e nós mudamos com isso, durante toda a nossa vida. Em segundo lugar, ninguém nos pode tirar isso. No meio dos porcos que governam o nosso mundo, a polícia secreta, a brutalidade dos costumes, a censura - e também temos isso na nossa sob todas as formas -, o que sabemos de cor pertence-nos. É uma das grandes possibilidades da liberdade, da resistência. Não é necessário sublinhar que as maiores poesias russas do nosso século [XX], precisamente as de Ossip Mandelstam, de Akhmatova e de tantos outros, sobreviveram dentro do de cor. E o de cor quer dizer: eu participo na génese, na transmissão do poema, tenho o poema dentro de mim.
George Steiner.
Georges Steiner, Cécile Ladjali, Elogio da Transmissão. O Professor e o Aluno. Lisboa, D. Quixote, 2005. p. 45-46.
sábado, 14 de agosto de 2010
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1 comentário:
Aprender de cor é aprender com o coração! Saber de cor é saber com o coração!
É de uma revolução pedagógica que se trata, esta reabilitação da memória na aprendizagem!
Houve uma altura que nem dela (de memória)se podia falar nas escolas, nas universidades.
O que vale é que acaba sempre por prevalecer o bom senso, revendo excessos, principalmente quando se conceptualiza de modo radical e se nega o valor do que é essencial!
- Isabel X -
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