Lygia Fagundes Telles, A Estrutura da Bola de Sabão. Lisboa, Livros do Brasil, 2001. p. 149.
terça-feira, 5 de maio de 2009
Nem realidade nem sonho
Era o que ele estudava. "A estrutura, quer dizer, a estrutura", ele repetia e abria a mão branquíssima ao esboçar o gesto redondo. Eu ficava olhando seu gesto impreciso porque uma bola de sabão é mesmo imprecisa, nem sólida nem líquida, nem realidade nem sonho. Película e oco. "A Estrutura da Bola de Sabão, compreende?" Não compreendia. Não tinha importância. Importante era o quintal da minha meninice com os seus verdes canudos de mamoeiro, quando cortava os mais tenros, que sopravam as bolas maiores, mais perfeitas. Uma de cada vez. Amor calculado, porque na afobação o sopro desencadeava o processo e um delírio de cachos escorriam pelo canudo e vinham rebentar na minha boca, a espuma descendo pelo queixo. Molhando o peito. Então eu jogava longe canudo e caneca. Para recomeçar no dia seguinte, sim, as bolas de sabão.
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
2 comentários:
É isso mesmo! Todos oa dias recomeçar, fazer de cada dia um dia único, pela razão simples de que é mesmo único, ainda quando, aparentemente, fazemos o mesmo que nos outros dias, sempre de novo.
- Isabel X -
Todos os dias em busca da realidade…
João Ramos Franco
Enviar um comentário