Gostaria, em primeiro lugar, de agradecer as parcerias e
colaborações sem as quais não teria sido possível abrir ontem na Capital
Europeia da Cultura um ciclo evocativo da personalidade e da obra de Francisco
Martins Sarmento.
Nesse agradecimento envolvo a Sociedade Martins Sarmento e a
sua Direcção, o Dr. António Amaro das Neves, que soma a representação
institucional à qualificação como investigador emérito da história de Guimarães
e de Martins Sarmento, o Dr. Eduardo Brito, curador desta exposição de
fotografia. E estendo-o, porque ontem não foi possível fazê-lo, ao realizador
Jorge Campos e à equipa técnica que o apoiou na realização do filme sobre
Martins Sarmento, à ESMAE / Politécnico do Porto, e, naturalmente, ao João
Lopes e toda a equipa de programação do cinema e audio-visual da Capital Europeia
da Cultura.
Recordo que a evocação de um conjunto assinalável de figuras
da cultura vimaranense integrou o primeiro plano estratégico de Guimarães 2012,
formulado pelo então administrador com o pelouro da programação. Foram então
identificadas as figuras de Francisco Martins Sarmento, Alberto Sampaio, Abel
Salazar, Raul Brandão, Joaquim Novais Teixeira e Fernando Távora.
Todas elas foram objecto de atenção por diversas áreas
programáticas da Capital Europeia da Cultura. Mas foram as do cinema e audiovisual
e do pensamento que mais directamente se ocuparam de produzir novos
instrumentos de conhecimento sobre a acção daquelas personalidades.
Todas elas acrescentaram à dimensão mais ou menos localizada
das suas preocupações científicas ou artísticas uma dimensão universal e
sobretudo europeia. Todos participaram, como pioneiros, em movimentos de
renovação disciplinar, de abertura a novas questões, de lançamento de novas
metodologias e novos horizontes de conhecimento. Todos eles foram fundadores da
contemporaneidade. Por isso, lhe chamámos novos Fundadores.
Francisco Martins Sarmento ilustra bem esta plêiade
singular. Interessou-se pela cultura material de um vasto território e fê-lo no
quadro da curiosidade científica pelos vestígios civilizacionais das sociedades
muito antigas e, no seu caso, dispersas pelo mundo rural. O património que o
atraiu, nas citânias que adquiriu e escavou, não era urbano nem medieval, ou
seja encerrado nos limites da perspetciva dos patrimonialistas que o
antecederam.
A modernidade de Francisco Martins Sarmento exemplifica não
reside apenas no exercício de uma disciplina – a arqueologia – que adquiria um
estatuto relevantíssimo na cultura europeia do segundo quartel do século XIX.
Aí ele está com grandes vultos da sua época, nomeadamente ingleses, franceses,
alemães.
A arqueologia tornava-se então uma espécie de constituinte
de um olhar novo sobre o território, por onde se dispersavam, mais ou menos
ocultos e cifrados, os sinais de outras civilizações que nos antecederam. O
território podia ser lido, interpretado, devia ser preservado e valorizado em
função da descoberta desses sinais, dessas marcas.
Martins Sarmento, como muitos dos arqueólogos do seu tempo,
era um espírito inquieto, com a grandeza e a visão dessa mesma inquietude. É
provavelmente aí que reside o impulso criador e a avidez de conhecimento, e,
sobretudo essa tão moderna preocupação com o outro, de que a arqueologia e a
etnografia se alimentam.
Parece-me importante frisar que este evento ocorre num
momento de charneira entre dois ciclos de programação de Guimarães 2012 Capital
Europeia da Cultura. O 1º que, como bem saberão, teve por mote “TEMPO PARA
ENCONTRAR”, em que partilhamos quem somos, ao que vimos, quem desejamos ser e
aonde queremos ir. O 2º “TEMPO PARA CRIAR”, que dentro de dias iniciaremos e em
que se verificará uma explosão criativa em Guimarães, abrindo a presença a
criadores e autores, e criando palcos propícios á partilha de novas ideias e
experiências.
Martins Sarmento usou com maestria a fotografia e elevou-a a
instrumento científico muito antes desta se ter popularizado e se ter tornado
um produto de consumo, a partir da última década do século XIX. Esta exposição
dá testemunho desse outro lado de Martins Sarmento.
A exposição é acompanhada de um livro-catálogo que inclui a
publicação, pela primeira vez, dos Cadernos de Fotografia escritos por Martins
Sarmento entre os 35 e 43 anos de idade.
Para concluir prevaleço da oportunidade para agradecer ao
Dr. Eduardo Brito o cuidado posto na preparação da exposição e catálogo e
felicitá-lo pelo resultado alcançado.
Paulo Cruz
João Serra
Sem comentários:
Enviar um comentário