Meu amigo:
[...] Vi há dias num jornal que estava para breve o seu casamento com uma senhora de Guimarães. Fiquei espantado, você não me tinha dito nada a tal respeito. Se assim é, daqui lhe envio as minhas felicitações, desejando-lhe as maiores felicidades e fazendo votos para que encontre uma mulher que o compreenda, que o admire e que o respeite como você merece. Desculpe-me pelo muito que peço e que desejo. Há quem diga que o artista não deve casar. Eu penso o contrário, o artista mais do que ninguém precisa de ter a seu lado quem lhe seja afeiçoado, ainda que o não entenda, ainda que o não admire tanto quanto merece mesmo. É ainda o único refúgio que temos no meio vivo, e dolorosos sofrimentos por que passamos, encontrar uma criatura amiga sincera e dedicada, um coração com quem desabafar as muitas amarguras com que somos mimoseados tanto a miúdo. Isto por si constitui já enorme felicidade! Creia. Porque o artista tem o coração como uma estalagem, e é desse sofrimento que tem de tirar partido, para rejozijo dos outros.
22 de Outubro de 1896.
Manuel Mendes, Raul Brandão & Columbano. Lisboa, 1959. p. 49-50.
segunda-feira, 12 de março de 2012
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1 comentário:
A vida do artista tem seus compartimentos de emoções, como um navio que atravessa o mar suportando o peso dos canteiners. Afinal, a que destina-se é sempre bem vinda a entrega.
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