Para Guimarães Rosa, a linguagem é um poderoso instrumento de acção na medida em que, ao expressar ideias – “a língua serve para expressar ideias”, diz ele em sua entrevista a Lorenz – pode atuar sobre os indivíduos, levando-os à reflexão. Mas como este poder da linguagem se enfraquece sempre que suas formas se acham desgastadas e condicionadas a uma visão do mundo específica, é preciso renová-la constantemente, e o ato de renovação se reveste de um sentido ético que o próprio Rosa explicita ao referir-se, com bela imagem, ao “compromisso do coração” que, conforme acredita, todo escritor deve ter. A linguagem corrente está desgastada pelo uso e, por conseguinte, “expressa apenas clichés e não ideias”; assim, é missão do escritor explorar a originalidade da expressão linguística, de modo a que ela possa recuperar o seu poder, tornando-se novamente apta a atuar sobre os indivíduos. É por esta razão que declara a Lorenz que a poesia “se origina de realidades linguísticas” e, em seguida, conclui que todo verdadeiro escritor é também um revolucionário, porque, ao restaurar o poder de ação da linguagem, está ao mesmo tempo espalhando sementes de possíveis transformações.
Eduardo F. Coutinho, “Guimarães Rosa: Alquimista da Palavra”. João Guimarães Rosa, Ficção Completa, 1º Vol. 2ª edição, Rio de Janeiro, Editora Nova Fronteira, 2009. p. XVI.
terça-feira, 8 de março de 2011
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1 comentário:
"Não é provável que as metáforas de Freud pudessem ter sido agarradas, utilizadas e tornadas literais em qualquer época anterior. Mas, inversamente, não é provável que sem as metáforas de Freud tivéssemos sido capazes de assimilar as de Nietzsche, as de James, as de Wittgenstein ou as de Heidegger tão facilmente como o fizemos, ou que tivéssemos lido Proust com a satisfação com que o fizemos. Todas as figuras desta época jogam umas com as outras. Preenchem as linhas umas das outras. As suas metáforas agradam-se da companhia uma das outras."
Rorty, Richard (1992)Contingência, Ironia e Solidariedade, Lisboa, Editorial Presença, (p. 66 - 67)
Sem dúvida. Nas palavras de uma língua (é que) vive a possibilidade de renovar o mundo.
- Isabel X -
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