Pela primeira vez, a posse do Presidente preencheu todo o dia da sua agenda, com a particularidade de o período antes da tomada de posse, agora excepcionalmente prolongado, ter sido robustecido com actos políticos significativos. Depois de uma campanha eleitoral desmobilizadora e de uma vitória pouco expressiva, o Presidente pretendeu fazer da tomada de posse um momento de recuperação da sua imagem e do seu prestígio. O discurso do dia, marcado por críticas contundentes ao Governo e apelo ao "sobressalto cívico" completou esta operação de relançamento do Presidente.
A terminologia, como sempre, diz muito sobre o sentido que de Belém, um Presidente, hoje mais fraco, quer transmitir ao País. O encontro com dirigentes associativos é denominado no site oficial da Presidência por encontro com "jovens líderes" (como se o aspecto representativo que sobreleva nos cargos eleitos do movimento associativo fosse preterido pela capacidade de liderança que obviamente é de outra natureza). A deslocação à Assembleia da República, entidade perante a qual o Presidente toma posse, é denominada no site oficial da Presidência por delocação ao "Palácio de S. Bento". No roteiro do acto de tomada de posse, figura apenas a "leitura da declaração de compromisso, juramento e assinatura do Auto de Posse" e a "alocução do Presidente da República", tendo sido omitida a alocução do Presidente da Assembleia da República.
quarta-feira, 9 de março de 2011
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10 comentários:
Viva Caro João.
Ouvi o discurso de tomada de posse. Foi por acaso, confesso.
Tenho memória e não esquecerei a cooperação estratégica que permitia o braço dado com a ministra da Educação no período 2005 a 2009.
No fim do discurso, escrevi mais ou menos isto: cá para mim, Cavaco Silva fez uma cura no facebook.
Aquele abraço
Quanto a mim, o Presidente da República quis montar um cenário muito próximo da tomada de posse de um monarca. E está tudo dito, quem quiser perceber, que perceba. A fragilidade do Estado e da política portuguesa e à portuguesa ordena um outro tipo de figuro da presidência, um estar no centro das atenções, onde a formalidade é mais importante do que as grandes questões de Portugal e das ideias-força para a construção de um país diferente onde todos os problemas comecem a ser equacionados de forma frontal. Um país que todos os anos se espera, mas que se encontra adiado desde o liberalismo oitocentista. Afinal de contas o Presidente construiu o próprio suporte do governo, que nos governa, para o mal e para o bem ou vice-versa.
Um abraço, João Serra. Esta é a visão que tive da cerimónia oficial, mastigada com um arroz de cabidela.
Jorge Custódio
A "república" no seu melhor!
Não percebo quando diz que o Presidente está mais fraco!! Não me diga que também contribui para o peditório que defende que a ligitimação dele está "inquinada" por ter menos votos que os anteriores........será que essa legitimidade se aplicou ao 1º mandato (vitória apertadíssima) de Mário Soares????
Cumprimentos
Actualmente, quase todos os detentores de poder em Portugal me parecem enfraquecidos (entre outras coisas) pelas votações pouco expressivas que os levaram aos cargos que ocupam.
Por outro lado, este post é particularmente interessante por analisar certas omissões e certas atitudes da tomada de posse, que vão para além do discurso do Presidente, e que são fundamentais para a compreensão do todo em que o discurso se insere.
Só alguém muito atento e experiente nestas "andanças" poderia descodificar os sinais do Presidente e fazer-nos a nós dar por eles. Agradeço.
- Isabel X -
Para mim este presidente não tem perfil,compet~encia e elegancia que o cargo exige. Sofre de um complexo de perseguição, que procura redimir com posições bombásticas,´cínicas e contraditórias.
Para os jovens não é um bom exemplo.com certeza!Excepto para os que fazem do sucesso o seu lema de vida...
Assinalo a sua reflexão e inquietação. Confesso que nada me surpreendeu especialmente. A noite eleitoral tinha aliás sido, mesmo para os mais distraídos, esclarecedora quanto à natureza mesquinha, vingativa e manhosa da personagem. Quanto ao resto os sinais, mais ou menos explícitos, sempre existiram e foram-se acumulando ao longo de anos com razoável clareza.
Incomoda-me sim a complacência com que foi por muitos com responsabilidades, sempre tratado. Uma complacência, quase diria, responsável por omissão, pelo silencio acrítico face a comportamentos e atitudes inaceitáveis no exercício do cargo, atitudes, no mínimo antidemocráticas, próprias de uma pessoa autoritária, com forte pendor populista e manifestamente desprovida de uma cultura democrática ...
Resta esperar, se quisermos brincar com a historia, que em coerência, o dito apareça no sábado pela Avenida, juntando-se ao jovens a cuja mobilização e revolta apelou...convenhamos que seria, pela primeira vez, uma atitude imprevisível e essa sim com piada!!!
O Prof. Cavaco andou a ler a História da 1ª República e fixou-se em Sidónio Pais....Será?
NB
Apetece citar, caro "Rui", o artigo de V. P Valente ontem no Público: "Apesar do tom tonitruante, o discurso de ontem na Assembleia foi uma manifestação de fraqueza. Lisonjeando a direita e hostilizando a esquerda, continua paralisado."
Infelizmente para nós, a fraqueza dele assenta na fraqueza das alternativas. Sempre ganhou as eleições democraticamente...
Hoje manifestam-se na rua uma amálgama que vai do tunante ao deputado do bloco, passando pelas juventudes partidárias e pelos "accionistas" de um banco falido, neo nazis escondidos (ao que parece) e por comunistas acomodados com a situação na Líbia, com uma Roseta à frente, uma mulher do sistema. Portugal no seu melhor! Descendo a avenida protestando contra si próprio. Mas falava-se do discurso de Cavaco. Qual discurso? Nada mais irrelevante neste sistema do que os discursos presidenciais, e para cargo tão mal pago não se pode exigir melhor. Ou pode-se?
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