terça-feira, 29 de março de 2011

Défice

Imprecações de um monárquico sobre o custo de vida no Minho há cem anos:

Queres tu saber, meu irmão jacobino, quanto ganha um trabalhador braçal da lavoura do interior do Minho? 120 réis diários com comida, ou 260 réis a seco. A mulher, essa por mais produtora que seja, não consegue ganhar mais do que 80 a 180 réis, respectivamente. E queres ver agora, em todo o seu horror, o quadro da miséria? Admitamos a hipótese de que o campónio obtenha trabalho todo o ano, na média optimista de 22 dias por mês – descontados os domingos, os dias santos e aqueles, muitos, em que a chuva paralisa os trabalhos agrícolas. O que ele traz para o lar, no fim do mês, são réis 2$640. Ora o milho custa presentemente, no mínimo 700 réis cada alqueire, e está calculado que uma criatura precisa de uma quarta de milho reduzida a pão para se alimentar durante oito dias com a parcimónia do aldeão minhoto.
Tomando por tipo uma família de dois adultos e quatro crianças, esta não consumirá menos de um alqueire de milho por semana, e, assim, temos:
Um alqueire multiplicado por 4 semanas, a 700 réis, dá o produto de 2$800; 22 dias multiplicado por 120 réis dá o produto de 2$640; deficit mensal: 160 réis!
E o resto? Onde o vai buscar o mísero? Nem ele vive só de pão, nem anda nu...

Carlos Malheiro Dias, Entre Precipícios... Lisboa, Empresa Lusitana Editora, s/d [1912]. p. 298.

1 comentário:

Chantre disse...

Homem de pouco fé! Não portava a novel "República" a definitiva solução?