Rui Ramos aceitou o repto da Sábado: rever, com o critério de historiador, os “Grandes Portugueses”. No programa de Maria Elisa, os portugueses escolheram dez figuras, distribuídas aleatoriamente pela história. Agora a escolha circunscreveu-se a nove, uma por século.
A lista a que se chegou não tem surpresas: Afonso Henriques, Afonso III, Nuno Álvares Pereira, D. Henrique, Camões, D. João IV, Marquês de Pombal, Fontes Pereira de Melo, Salazar. Foi construída, como é bom de ver, segundo o método conservador de projecção ideológica sobre o passado. Em 1940 esse modelo atingiu a expressão máxima com as comemorações do duplo centenário: oitos séculos de “fundação de Portugal” e três de “restauração da independência”. Salazar escolheu a sua linhagem: Fontes e as obras públicas (a que hoje chamamos modernização), o Marquês e o Estado forte (hoje dizemos robusto), D. João IV e a independência (o que designamos por viabilização), Camões e a alma nacional (identidade, dizemos agora), D. Henrique e as navegações (primeira globalização, referimos), condestável Nuno Alvares Pereira (agora beatificado), o rei Afonso de Portugal e dos Algarves (de facto, o primeiro rei do Portugal que chegou até nós), Afonso, o fundador da pátria (o construtor da autonomia).
Setenta anos depois, a lista de 1940 aparece validada pela nova história de Portugal!
sábado, 16 de janeiro de 2010
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5 comentários:
Sinceramente, também não pensei que se chegasse a tanto! Ou a tão pouco...
Ainda outro dia assisti a uma entrevista a Rui Ramos em que ele reivindicava para si, e para outros historiadores da sua geração, um estatuto mais moderno, desprendido dos preconceitos de uma História muito marcada ideologicamente e, agora, isto!
- Isabel X -
Caro professor João Serra
É com extremos cuidados que aqui venho hoje, pois de modo algum pretendo polemizar com o historiador, porque eu o não sou.
Mas notei uma ponta de amargura e crítica no seu post.
Mas a revista não fala nos portugueses que mudaram a história de Portugal? E quando assim se diz não se refere para o bem e para o mal? Claro que poderei também eu escolher outra lista, mas fugiria da tentação de o fazer ideologicamente.
Não gosto do sr. marquês porque arruinou o ensino secundário, destruiu o ensino da música (que muito prezo) e os economistas dizem que as suas políticas foram um desastre, mas não tenho dúvidas que ele foi uma figura charneira na história de Portugal.
Perdoe-me de novo a intromissão. O papel de Nuno Alvares Pereira na história de Portugal fica diminuído pelo facto de ter sido beatificado?
Santificado temos Moore e não deixa de ser um político de referência e um socialista avant la lettre.
Concordo consigo. Estas listas são sempre discutíveis. O facto de serem o resultado de uma escolha de historiador não as torna mais legítimas que quando são o produto de um concurso televisivo. O que é curioso é que Rui Ramos, o historiador que atribuiu a si próprio o desígnio de rever toda a história de Portugal, tenha cedido á tentação de se transformar em juri do concurso. Contaminação televisiva, provavelmente. E tenha chegado a uma lista que não difere da que os livros de história da 4ª classe dos anos 50 eram capazes de propor.
E consegue o Sr B. Serra propor um elenco de nomes que não esteja dependente de uma qualquer grelha ideológica? Tente.
Já agora, Nuno Álvares Pereira foi canonizado, beatificado já era há muito.
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