E,
todavia, Deus sabe que elle não é agradavel, esse inverno de Londres! De manhã,
ao acordar, tem-se deante da janella uma sombra opaca, espessa, parda,
arripiadora e sinistra: é necessario fazer a barba, com o gaz flammejando;
almoça-se com todas as velas do candelabro accesas, e a carruagem que nos
conduz é precedida de um archote. Ao meio dia esta decoração de inverno muda; a
sombra perde o tom pardo e, por gradações odiosas, ganha um amarello de óca e
começa a exalar um vapor fetido. Respira-se mal, a roupa toma um pegajoso
humido sobre a pelle, os edificios que nos cercam apparecem com as linhas vagas
e chimericas das cidades malditas do Apocalypse, e o estrondo de Londres, este
rude, tremendo estrepito, que deve lá em cima incommodar a corte do ceu,
adquire uma tonalidade surda e roncante como um fragor n'um subterraneo.
Eça de Queirós, Cartas
de Inglaterra1905.
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