[Inauguração, em 1903, do controverso monumento a Eça de Queirós em Lisboa, da autoria de Teixeira Lopes."Sobre a nudez forte da Verdade, o manto diaphano da phantasia".]
Interview com o Snr. Monteiro Milhões.
- V. Ex.ª que pensa do monumento?
- Penso que tenho de voltar a frontaria da minha casa, para o
Theatro D. Amelia. Imagine que os meus netos estão constantemente a
perguntar quem é aquella senhora sem camisa. Já o outro dia lhes
disse que era D. Maria II, mas com estes frios, os pequenitos,
educados na compaixão, não me largam para que lhe mande dar um
cobertor.
- E que impressão faz das suas janellas a barriga da Verdade?
- Aqui entre nós (arregalando o olho) é uma d'aquellas barrigas
que está mesmo a glorificar a «sensação nova» (irritado). Não era
mais condizente á minha camoneana, transferirem o epico immortal
aqui para o meu largo, e levarem "aquelle senhor" para as
proximidades do Bairro Alto?
- De modo que V. Ex.ª, irritado, nem chega á janella?
- Emquanto a Camara não mandar pôr, de roda da figura, um resguardo
pintado de cinzento.
Raúl Brandão, Memórias. Vol I, 1919.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
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1 comentário:
Sem dúvida que Monteiro Milhões inspiraria uma bela personagem a Eça de Queiroz!
A Lisboa indignada com o monumento de Teixeira Lopes também está muito em sintonia com a que Eça nos deixou descrita nos seus livros.
Curiosamente, aceitava-se a representação do nú nos museus, mas não no espaço urbano ao ar livre. Interessante.
- Isabel X -
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