Oferta da Câmara Municipal da Sertã (Pelouro da Cultura), onde estive no passado Sábado, trouxe comigo a obra Padre Manuel Antunes, S.J. /1918-1985): um Mestre do Pensamento Português e Europeu, de Luis Machado de Abreu e José Eduardo Franco (s/l, 2008).
Conheço limitadamente a obra do Padre Manuel Antunes. As minhas leituras dos seus textos não deverão ter ido muito além de Repensar Portugal (1979) e Teoria da Cultura (1999), obra resultante de um trabalho de revisão e anotação da sua discípula e admiradora, Maria Ivone Ornelas de Andrade. Devo aliás a Maria Ivone, minha antiga colega na Universidade Lusófona, o estímulo à releitura daquele título e um avivar do interesse pelo legado intelectual daquele meu professor na Faculdade de Letras de Lisboa. A obra completa de Manuel Antunes, editada pela Fundação Gulbenkian, em 10 volumes com uma média de 600 páginas cada, aguarda uma oportunidade de corajosa de aquisição...
Frequentei as aulas de História da Cultura Clássica, uma cadeira transversal aos diversos cursos da Faculdade de Letras nas décadas de 1960 e de História da Civilização Romana, uma cadeira do Curso de História, leccionadas pelo Prof. Manuel Antunes. Em ambas tinha como assistente o filólogo Victor Buescu (1911-1971), antigo professor da Universidade de Bucareste.
Do livro oferecido na Sertã, que li com interesse, ressalta a síntese do pensamento filosófico e pedagógico do Padre Manuel Antunes. Constitui uma excelente introdução à biografia intelectual do autor, uma das figuras mais relevantes da igreja portuguesa no século XX.
Reconheci nas poucas fotografias a preto e branco do livro ambientes que conheci: a entrada da Brotéria, onde o Padre Manuel Antunes vivia, e o seu escritório, com as pilhas de livros e papéis e uma espécie de "desarrumação" que tanta surpresa me causou quando a observei pessoalmente, na década de 70, e me pareceu em contradição com a figura serena e tão disciplinada do Professor de História da Cultura Clássica.
Pois uma segunda surpresa me trouxe agora o livro de Luis Machado de Abreu e José Eduardo Franco, a páginas 14 e 15. Foi a informação de que Manuel Antunes era apenas um dos - pelo menos 124 nomes - com que assinava os seus textos na Brotéria.
124 nomes! Razões para ser classificado como "o autor que mais uso fez da pseudonímia na história da cultura portuguesa".
Aqui ficam, por ordem alfabética do primeiro nome, ilustrando a imaginação sem precedentes a absolutamente insuspeitada deste professor consagrado.
A. M. Oleiro, A. Pinhal da Cruz, A. Vítor Ferreira, Abel Moradal, Adolfo Simões, Alberto Sobreira, Almiro Fortes, Altino Dias de Lima, Álvaro de Sousa Crato, Álvaro Ribeira Clara, Alves Cruz, Alves Vidigal, André Venestal, Ângelo d’Álvaro, António Trízio, Artur Gomes de Leda, Artur Mongueira, Bento de Serpa, C. de Freitas Manso, C. de Lemos, Carlos Amaral, Carlos Clímaco, Carlos Cumeada, Carlos Horta de Sousa, Carlos Mota, Carlos Neto, Carlos Nunes, Carlos Orvalho, Carlos Outeiro Cruz, Daniel Peres, Dário Diniz, Duarte de Campos, Duarte de Figueiredo, Eduardo Santos Cruz, F. Bravo Gomes, F. de Sousa Santos, F. Lucílio, F. Moradal, Fernando de Serpa, Fernando Relvas, Filipe Almor, Filipe Costa, Flávio Dias, Flávio Ribeiro, Flávio Rodrigues, Francisco Outeiro, Franco de Lima, Gabriel Mira Belmar, Gabriel Vagos, Henrique de Freitas, Horácio Alves, Irénio Figueira, Ivo Castel-Velho, Ivo Lares, J. A. Nunes, J. da Costa Amioso, J. Lifar Filipe, J. Mira de Freitas, Jacinto Alves, João Delta de Sousa, Jorge de Castro, José de Oliveira Ascensão, José Gomes Claro, José Pedro Lavrador, L. da Cunha Novo, L. de Bouçô, L. Fratel, L. Lente Rodrigues, L. Pronto de Sousa, L. Sales Filipe, L. Santos Duarte, Leal de Lemos, Leonel Cardigos, Licínio Alves, Lionel Dias Novo, Lucínio Faro, Luís Amioso, Luís Bonfim, Luís Castelo, Luís Claro Luís, Luís d’ Isna, Luís de Freitas, Luís Dias de Bivar, Luís Franco de Sousa, Luís Ladeira, Luís Maxial, Luís Mendes de Aveiro, Luís Mileu, Luís Mira de Lima, Luís Parreira, Luís Peral da Silva, Luís Portel, Luís Rainho, Luís Sirgado Nunes, Luís Sobral Nunes, Luís Sorvel, Luís Vergão, M. Pinhal da Cruz, M. Simas, M. Veiga da Ponte, M. Veiga-Beiriz, Manuel Avelar, Mauro Diniz, Neves de Lima, Nuno Vieira de Pena, Orlando Cruz, Paulo Ermida, Pedro Lages, Pedro Lobo de Góis, Pedro Marçal, Pedro Palhais, Pedro Pereira, R. Dias de Lagos, R. N. dos Santos Lopes, Raul Santos, Rogério de Campos, Santana Claro, Sereno Silva, Sérgio Orvalho, Tiago do Canto e Silva, Vaz Sobral, Vítor Lança de Frias e Vítor Regorige.
terça-feira, 15 de fevereiro de 2011
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2 comentários:
Lembro com admiração um artigo que o Padre Manuel Antunes escreveu sobre o problema das filosofias nacionais, onde demonstra que a filosofia, pela sua natureza racional, é universal, não sendo assim legítimo falar de filosofias nacionais. O que tem múltiplas implicações...
Mais um belíssimo testemunho!
Tb fui aluno do P. Manuel Antunes e tive provas da profunda humanidade deste homem. O que me confundiu os fusíveis todos pois a minha costela alpiarcense e o esquerdismo dos meus vinte anos não entendiam que pudesse haver um jesuíta que fosse tb um Homem bom.
Era um excelente professor, muito afável, embora distante das novas correntes da Historiografia francesa, o que também me baralhava os esquemas mentais. É que ele compensava com infinita erudição essa limitação...
Obrigado, J B Serra!
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