De novo a tua voz imediata (pequena cabine vermelha envidraçada na rua, debaixo de uma árvore, um bêbado não parou de me olhar e queria falar comigo; andava à volta da gaiola de vidro, parava de vez em quando, um pouco ansioso, cim um ar grave, como se fosse pronunciar uma sentença), a tua voz cada vez mais próxima. A oportunidade do telefone - não a devemos perder nunca -, devolve-nos a voz, pela tarde, sobretudo à noite, melhor ainda quando ela surge isolada e o aparelho nos cega a tudo (não sei se alguma vez te disse que, além disso, muitas vezes fecho os olhos enquanto falo contigo), quando tudo corre bem e o timbre reemcontra uma espécie de pureza "filtrada" ( é um pouco neste elemento que eu imagino o regresso dos espectros, pelo efeito ou graça de uma triagem subtil e sublime, essencial - entre os parasitas, porque não há senão parasitas, como sabes, e os espectros não têm qualquer hipótese a menos que só existam, desde o primeiro "vem", espectros. Apercebi-me há dias, durante um pequeno trabalho, que a palavra "parasita" me surgia regularmente, desde há anos, "capítulo" a "capítulo", um número incálculável de vezes. Ora, parasitas podem (ser amados. Nós).
Jacques Derrida, La Carte Postale. De Socrate à Freud et au-delá. I - Envois. p. 14-15.
Cit. Catherine Malabou et Jacques Derrida, Jacques Derrida, la Contre-Allée. Paris, La Quinzainne, 2009. p. 177-178.
sábado, 5 de fevereiro de 2011
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