Estâncias d'Arte e de Saudade é uma recolha de crónicas de Fialho de Almeida publicada em 1921. A obra foi reeditada em 1924, 1924 (atingindo então o 5º milhar de exemplares). O seu autor tinha porém falecido em 1911, com apenas 54 anos.
Parte desta recolha trata do Minho, mais propriamente de Braga, Famalicão e S. Torcato (Guimarães) que o autor visitou em Setembro/Outubro de um ano que não precisa nos seus textos. A visão que nos deixou, muito crítica, é a de um Minho de influência clerical, com fortes marcas de subdesenvolvimento e atraso material e cultural.
Do lado de Hespanha o gallego cultivado e literatisado absorve-se e transforma-se no hespanhol, de quem já hoje difere completamente. Do nosso lado, o gallego cultivado e litteratisado constitue o portuguez, que continua sendo, máu grado o separatismo de oito séculos, da lingua primitiva, a fórma mais próxima, e por ventura aquela que se falaria hoje em toda a Peninsula se a Galliza nella tem mantido o papel hegemónico que houve até á sua divisão em asturo-leoneza e luzitana. Por estas razões, nós, portuguezes, diremos que ha um monumento chamado Cancioneiro da Vaticana pelo qual dois fragmentos d'um mesmo povo se jungem, por mais que "a bossalidade egoista d'uma politica sem plano"* conseguisse outr'ora quebrar-lhe a inteireza étnica e politica; e ha uma razão de familia pela qual o gallego será sempre para o portuguez um irmão terno, e é que esse irmão quazi que ainda fala o portuguez do Cancioneiro — do Cancioneiro que é como os Luziadas, um dos mais altos cimos da civilisação peninsular occidental.
Visto os postulados de historia e gratidão filial que expostos ficam, poderemos dizer, sem maiormente ferir o escrúpulo scientifico, que Portugal foi a primeira colónia gallega.
No dia em que as nações se conglomerassem exclusivamente por agregados de raça e não pelas eventualidades da historia e da politica, e em que portanto a unidade portugueza fosse um facto, como a aliemã e a italiana, seria ella constituída por Portugal, Galliza e Brazil, confederados, vivendo e trabalhando em unisono, como as vísceras d'um organismo autónomo e perfeito, havendo a separal-as apenas um rio chamado Atlantico, que ellas sulcariam pelos barcos do seu tráfego e os frenesis da sua acção.
*Theophilo Braga — Prologo do Cancioneiro, de Ballesteros, já citado.
Fialho de Almeida, Estâncias de Arte e de Saudade. Lisboa, Livraria Clássica, 1924. p. 20-21.
Nota: nesta transcrição foi respeitado o Acordo Ortográfico de 1911.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário