Em Setembro de 2009, de visita ao atelier de Ana Sobral, deparei-me com esta peça. Apesar das dimensões - relativamente pequenas - atraía o olhar no conjunto dos trabalhos que a ceramista tinha entre mãos. Havia ali uma vaga inspiração Man Ray, num objecto tridimensional que figurava a mulher em sucessivas e inesperadas mulheres. O trabalho de composição e desenho, naquele diálogo que Ana estabelece com a pasta rugosa, o risco e as tintas era muito interessante. Propus-me adquiri-la, mas a autora mal me deixou tocar-lhe.
- Não lha posso ceder - disse. Não estou pronta para me separar dela.
- Se um dia mudar de ideias, lembre-se de mim - retorqui.
Foi preciso quase um ano e meio para que Ana Sobral lhe desse autorização para viajar 250 quilómetros.
1 comentário:
Linda! De prender o olhar...
A figura feminina, quase coquette, nas posições, no jeito de estar, já é mais que uma mulher (várias?), já é as várias faces de uma mulher.
E toda essa delicadeza contrasta com o rugoso dos materiais, joga com o traçado do desenho, o risco a preto, nítido, definidor, por entre os vários planos que se criam e se cruzam.
E o que resulta de tudo isto é uma mala, elemento central do universo feminino. Muito simbólica essa analogia.
Uma peça encantadora, vendo-a junto dela muito mais deve ser possível ver. Cheia de significados, de sentidos.
Não é de admirar que à autora fosse dificil separar-se dela. Merece bem que por ela se espere um ano e meio.
Parabéns a quem a adquiriu e aqui a partilhou e, principalmente, a quem a concebeu e a executou, à artista: Ana Sobral.
- Isabel X -
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