Convite para assinar petição que protesta nos seguintes termos:
"O carácter oficial da visita papal, o seu financiamento público e a tolerância de ponto concedida pelo Governo, são agressões perpetradas contra os princípios de laicidade do poder político que a própria Constituição da República Portuguesa institui. Esta infracção da laicidade a que estão constitucionalmente vinculadas as autoridades republicanas torna-se ainda mais gritante e deletéria quando consideramos que se celebra este ano o Centenário da Implantação da República, de cujo legado faz parte o princípio de clara separação entre Estado e Igreja, contra o qual atentará qualquer confusão entre homenagens a um chefe de Estado e participação oficial dos titulares dos órgãos de soberania em cerimoniais religiosos".
Não assinei. Ao principio da laicidade antepus o da tolerância.
quinta-feira, 6 de maio de 2010
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17 comentários:
Fez muito bem.
Estamos "condenados" à tolerância porque nos é impossível viver as experiências alheias e, por isso, não temos como compreendê-las (nunca) inteiramente.
Apenas conhecemos (compreendemos?)aquilo que vivemos e nada mais.
Seria estúpido não conferir à visita do Papa o devido relevo em nome da laicidade ou do que quer que seja. Além do mais, o Papa é um chefe de Estado em visita a um país maioritariamente católico. O princípio da separação da Igreja e do Estado não sai minimamente beliscado com a recepção a Bento XVI.
É o vício da crítica que, à vez, e provindo de diversos (e até opostos) sectores, condena as obras públicas, as obras do edifício da ESAD, a vinda do Papa, e isto cingindo-me apenas aos últimos posts deste blogue.
Uns fazem, outros dizem mal. Uns querem fazer, outros não deixam. Em nome de qualquer valor, de qualquer princípio, de qualquer razão, desde que sirvam para impedir a acção.
Não haverá ninguém pragmático neste país? Qualquer dia ficamos completamente inertes, e com os maledicentes de serviço, felizes do dever cumprido, e de consciência tranquila, a pregarem no deserto que ajudaram a criar.
- Isabel X -
Fez mal, caro Professor, fez mal. Ainda se fosse para receber o presidente Obama, para vitoriar o Benfica ou a "equipa de todos nós", para deliciar os basbaques com o fungagá das avionetas do Red Bull, para assistir a um concerto promovido por alguma força política cheia de "alternativas", ainda vá. Agora para se poder participar nas cerimónias presididas pelo Papa?!
É de assinar, é de assinar!
Não tinha que antepor um ao outro. Como muito bem diz Isabel X, não vejo onde a visita de um Papa e a recepção de acordo com os possíveis participantes, fere o princípio da laicidade.
Bento XVI é um dos últimos homens pensantes desta Europa em crise. Só isso deveria encher de satisfação crentes e não crentes, mesmo não se concordando com tudo o que diz.
É verdade que o comentador Xico (que não conheço) está de acordo comigo neste ponto, o da recepção ao Papa não ferir o princípio da laicidade. Mas, com o devido respeito, devo esclarecer que ao invocar essa concordância apenas nesse ponto, para defender algo dferente está, implicitamente, a desvirtuar o sentido do meu comentário.
Por exemplo, eu concordo que se comemore o Centenário da República; gostava que se fizessem obras públicas, ou privadas, mas que se fizesse alguma coisa, em vez de se estar sempre invocando inultrapassáveis dilemas e problemas para nada fazer.
Gostava que se tomassem decisões(pelo menos) com entusiasmo equivalente àquele com que se procuram argumentos para não as tomar.
Além disso, considero razoável que alguém convidado a assinar uma petição pese qual o critério que deve determinar a sua decisão pessoal de a assinar ou não.
- Isabel X -
Por certo, Isabel X - e desculpe a indelicadeza de me meter na conversa entre si e outro comentador - o critério de qualquer opção deve ser ponderado por quem a faz. Ainda assim, não creio relevante pôr em contraposição, ou em patamares distintos, laicidade e tolerância: a rigor, e semanticamente, são sinónimos.
A laicidade, como a religião, não implicam a tolerância. Nem se fundamentam nela. Nem se cumprem nela. Bem pelo contrário, ambas se afirmam constantemente contra a presença incómoda da alteridade, do Outro. Tolerar o Outro não é grande vitória. É aceitá-lo que custa. E, como se pode ver pela excêntrica contrafacção supersticiosa que vivemos nestes dias, não está para breve esse júbilo, essa celebração.
Não deixa de ser interessante considerar que tolerância e laicidade são o mesmo, ainda que remotamente. Seria um possível tema de conversa.
Registo com agrado a habilidade semântica; estranho que ela venha de alguém tão crítico dos tempos modernos e respectivas facilidades, como é Chantre.
É verdade que, a certos níveis do discurso, as palavras tendem a deixar de significar conceitos para terem apenas sentidos. O passo seguinte tem sido o de considerar que os sentidos de diferentes palavras se equivalem, são os mesmos. Assim se empobrece irremediavelmente a língua com que falamos, escrevemos, pensamos.
Sinceramente, julguei que Chantre fosse imune a estas tendências e se defendesse de incorrer em semelhantes modas.
- Isabel X -
Talvez seja ligeiramente diferente do que sugere, caro Rui.
a) A laicidade (não o "laicismo") implica, necessariamente, a tolerância - conceito de natureza política identificável, na sua génese histórica, com o abandono da pretensão paternalista de cuidar no outro o que apenas o próprio pode perder ou ganhar (chame-se-lhe "Céu");
b) a laicidade, conceito ético com sede política ou cívica, apesar da sua origem evangélica, onde surge com imperativo, não se afirma na religião muito menos contra a religião;
c) não é imaginável uma tolerância que não passe pela aceitação "do outro" (seria uma contradição nos termos), posto que a mesma pode comportar, isso sim, a "não aceitação do que pensa ou propõe" o outro, ainda que implique (magna quaestio...) o convívio com essa não aceitação. Descurado este pormenor e teremos a nobre "tolerância" reduzida a um pobre "relativismo".
Caríssimo Chantre
Tudo é, tenho-o sempre muito presente, ou ligeiramente ou enormemente diferente do que quer que eu sugira. Mas não pelas razões que invoca, permita-me:
a) adoraria concordar consigo, mas, como percebeu, não. A laicidade, especialmente na sua génese histórica – qualquer que o meu amigo decida escolher como original - não implica nenhuma tolerância, e muito menos a aceitação do Outro.
b) adoraria concordar consigo, mas, como percebeu, não. O argumento “a laicidade (…) não se afirma na religião muito menos contra a religião”, é, como dizê-lo?, inesperado.
c) adoraria concordar consigo, mas, como percebeu, não. Provavelmente é coisa semântica. Na maioria dos casos é. Ainda assim, a fórmula que escolheu (“convívio com essa não aceitação”), não resolve, como sabe, nenhuma questão, magna ou mínima.
Pelo contrário, cria uma dificuldade ulterior antes de resolver a inicial. Assim como a invocação do relativismo que nos lança noutra diatribe ainda mais movediça.
Excelente Rui
Eu cá, querendo evitar, ainda assim, a idolatria, “adoraria” concordar consigo - se vislumbrasse alguma inteligibilidade nas teses que alinhava no seu incomodado reparo; mais ainda “adoraria” analisar e humildemente acolher os seus argumentos – caso, pelo menos um, tivesse tido a amabilidade de avançar.
Não se trata de habilidade semântica, muito menos de qualquer moda, cara Isabel X. Apenas sugeri que antepor a tolerância à laicidade pode ser pouco avisado, posto que os dois conceitos remetem necessariamente um para o outro - sendo este, aliás, se correctamente entendido, condição daquele.
Caríssimo Chantre
Concorde , ao menos, que a questão por tão interessante, pediria outro lugar para debate. Não está à espera de a resolver aqui, pois não? A confirmação do que lhe digo é que chega ao ponto de me crer, veja o devaneio, "incomodado". Não se zangue comigo, que o tenho na melhor conta, não sabendo tristemente quem o "Chantre" é. É preciso que nos não levemos a sério, a maioria das vezes. Adoraria - sem idolatrias, pronto - conversar consigo para que o meu amigo perceba que discordar de si, é, não só um divertimento social, como um prazer pessoal. Até porque há sempre, como diz a minha querida Isabel, a oportunidade de fazerem-se pazes. Concorda connosco?
Excelente Rui
Cada qual diverte-se, social ou particularmente, como lhe apraz - no estrito cumprimento da lei, obviamente (sim, viva a "respublica"!). Em todo o caso, o jogo do toca e foge, por muito que faça as suas estimáveis e legítimas delícias, mereceria - tenha a amabilidade mo conceder - um outro espaço de recreio mais solarengo.
Fazer as pazes? Como se não se iniciou qualquer guerra?! Presumo que não esteve bem atento, também, à lição completa da sua "querida amiga Isabel".
Sinceros cumpriemntos.
Caríssimo Chantre.
Uma das esquinas clássicas da oratória é pretender que não existe argumento para não ter a maçada de o rebater. Muito em voga. Quanto aos lugares por onde me recreio...
Um abraço do
Rui
Excelente Rui
Uma outra - bem mais actual, mais cómoda e muito mais querida dos holofotes - é a de supor que lugares comuns de boa sonoridade substituem a refutação de qualquer argumento que lhe seja desfavorável.
Qunato ao resto - por quem sois?! -recreie-se por aqui; a magnanimidade de que prof Serra tem dado provas não o irá impedir.
Tenha um muito bom dia.
Caríssimo Chantre
Bem, se assim é... então passa o Chantre, de hoje em diante, a ter toda a razão no que diz. Como aliás sempre soube.
Lamento sinceramente a sua demissão, excelente Rui. E como saberei se tive toda a razão se a sua generosidade não foi suficiente para me engrandecer com a partilha da sua?
Tenha um bom fim de semana.
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