Eça de Queirós, Os Maias, capítulo 18.
Depois, descendo para a rua Nova do Almada, contou [Ega a Carlos da Maia] o caso da Adosinda. Fora no Silva, havia duas semanas, estando ele a cear com rapazes depois de S. Carlos, que lhes aparecera essa mulher inverosímil, vestida de vermelho, carregando sensatamente nos rr, metendo rr em todas as palavras, e perguntando pelo Sr. virrsconde... Qual virrsconde? Ela não sabia bem. Erra um virrsconde que encontrrárra no Crroliseu. Senta-se, oferecem-lhe champagne, e D. Adosinda começa a revelar-se um ser prodigioso. Falavam de política, do ministério e do déficit. D. Adosinda declara logo que conhece muito bem o déficit, e que é um belo rapaz... O déficit belo rapaz - imensa gargalhada! D. Adosinda zanga-se, exclama que já fora com ele a Sintra, que é um perfeito cavalheiro, e empregado no Banco Inglês... O déficit empregado no Banco Inglês - gritos, uivos, urros! E não cessou esta gargalhada continua, estrondosa, frenética, até ás cinco da manhã em que D. Adosinda fora rifada e saíra ao Teles!... Noite soberba!
quarta-feira, 21 de abril de 2010
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1 comentário:
Parabéns, pelo texto!
Este fragmento literário prova que, já em meados do séc. XIX a face masculina viria à ser necessariamente dramática, com relação a mulher. Coincidentemente esta obra é lançada em 1888, ano em que a Princesa Isabel assina a Lei Áurea no Brasil, abolição da escravatura...
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