Ouvi há uma semana, na Antena Um, um breve resumo da oração que Georges Steiner proferiu na cerimónia do doutoramento Honoris Causa que lhe foi conferido na Universidade de Lisboa. Steiner teria pedido desculpa à audiência por não saber falar português, lamentando não poder ler no original Saramago e Lobo Antunes.
O valor universal da nossa língua reside, de facto, na literatura.
domingo, 6 de dezembro de 2009
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1 comentário:
Quanto a Saramago, não sei. Mas Lobo Antunes, sem dúvida que a tradução é perda. Como se poderá traduzir:
"demorava a encontrar o lenço e chorava em silêncio enquanto as notas de ardósia num solfejo inquieto e o metrónomo a afirmar não tão depressa que não lhe víamos as falanges, a professora guardava o lenço na carteira fungando sorrisos de arco-íris é sete cores pálidas de um canto ao outro da boca por cima do nariz onde oscilava, sem obedecer ao metrónomo, um desses pingos transparentes que sobejam nos galhos e apodrecem com eles, lembro-me da laranjeira onde durante horas uma gota a dilatar-se desejosa de comunicar connosco sem chegar às palavras, tudo respira neste planeta meu Deus, as tábuas do soalho não cessam de tossir, os cálices a embaterem no louceiro, a canalização diálogos no interior dos tijolos, a professora de Música reunia-se com as palmas
- Vamos lá"
in "Que cavalos são aqueles que fazem sombra no mar?", D. Quixote, pág. 342.
Como é possível colocar as palavras tão fundo em nós?
- Isabel X -
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