Há que reconhecer na acção do anterior Governo um défice de afectividade na relação com os portugueses. O Primeiro Ministro deu mais visibilidade ao braço que aponta do que ao braço que ajuda, ao braço que orienta e manda do que ao braço que compreende e estende a mão.
O êxito da acção política não se mede só pelos números e pelos resultados objectivos. Há indicadores de confiança subjectivos, que dependem das correntes invisíveis que são tecidas entre governantes e governados. Houve um nexo de adesão e de entusiasmo sentimental com o PS que se quebrou no decurso do exercício do seu governo maioritário.
É possível recuperá-lo, reatar com o eleitorado o compromisso solidário que justifica uma opção de esquerda reformista?
Esta questão é, a meu ver decisiva, neste momento. Muito mais do que a habilidade táctica para tecer compromissos com partidos opositores e com o Presidente, o que está à prova no actual Governo é a sua relação com as pessoas concretas, de carne e osso.
3 comentários:
Viva.
Espero que escutem o que o João escreveu.
Abraço.
Caro João Serra
A minha luta está a teu lado, "o que está à prova no actual Governo é a sua relação com as pessoas concretas, de carne e osso."
Um abraço
João Ramos Franco
Percebo perfeitamente o que que dizer e estava capaz de subscrever, mas atenção ao discurso que me pareceu ambíguo. Esse namoro à população é um estado de graça que lhe é permitido agora.
Convém não esquecer, a bem da democracia representativa (é que afectividade e compreensão entre governantes e governados houve em muitas ditaduras), que 63,45% dos votantes, homens e mulheres de carne e osso, recusaram o PS e escolheram outros partidos.
Se extrapolarmos os números para a totalidade da população, significará que o PS só tem a certeza de ter os votos de 19,56 % da totalidade dos homens e mulheres de carne e osso deste país, o que não significa obviamente que não tenha toda a legitimidade de nos governar.
Mas pegando nas suas palavras, deste post e do anterior, a melhor compreensão que este governo poderá obter junto dos homens e mulheres de carne e osso atingir-se-á quando seriamente fizer algo para limpar a administração pública das suspeitas de compadrios e corrupção.
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