Conheço o Mário há mais de quatro décadas e as nossas vidas cruzaram-se em tantas ocasiões que é difícil reconstituí-las a todas. No plano académico, na preparação da entrada para a Faculdade, e em vários passos do Curso de História. Na área da intervenção intelectual e cívica, nas comemorações do centenário de Raul Proença, na actuação em defesa do Arquivo Histórico Municipal, na apresentação e defesa de uma proposta de ensino superior para as Caldas da Rainha. No campo político, em duas candidaturas à Assembleia Municipal, 1985 e 1993. No trabalho histórico, na coordenação de uma obra colectiva intitulada Terra de Águas: Caldas da Rainha, História e Cultura e de uma "Página de História" da Gazeta das Caldas, que lançou novos temas e uma nova geração de historiadores. No plano pessoal, em inúmeros encontros e desencontros, convergências e divergências, numa base de respeito e afecto humano resilientes.
O Mário tem participado em inúmeras frentes de acção cultural e desportiva, foi um professor com uma carreira notável no ensino secundário e superior, esteve na origem do Partido Socialista das Caldas da Rainha e desde 1974 tem sido um dos seus rostos locais.
Embora intermitentes, as suas incursões na história não se limitam ao território da divulgação. Particularmente interessantes são os estudos que dedicou à repercussão local do caminho de ferro, das invasões francesas e da passagem de refugiados durante a II Guerra Mundial.
Mário Tavares é um historiador movido pela curiosidade, guiado pela intuição e despertado pela fonte, que se sente atraído pelas problemáticas surgidas do impacte dos factores exógenos, pela exposição ao outro, ao exterior.
Este livro trata de situações de emergência - gente vinda de norte para sul e de leste para oeste que se vê forçada literalmente a aterrar nas praias da Foz do Arelho ou é internada na cidade, em compasso de espera até poder demandar terras mais a ocidente. É formado por três textos onde o método histórico é frequentemente contaminado pela novela policiária e as memórias pessoais e de outros observadores são caldeadas com o recurso a fontes documentais.
As memórias pessoais do Mário são surpreendentes e ricas. E, a julgar pelo que se pode ler neste pequeno livro, muito vivas. Motivo mais que suficiente para justificar o repto que lhe lancei: o de escrever um livro de memórias, sem dúvida um repositório de grande valor para a história das Caldas na segunda metade do século XX e primeiras décadas do século XXI.
4 comentários:
O Dr. Mário Tavares é uma daquelas pessoas que eu sempre conheci sem conhecer. Eu explico: em terras da dimensão das Caldas muitas são as pessoas a quem conhecemos " de vista"; cumprimentamo-nos mutuamente e pouco mais. Devido ao projecto deste livro "Caldas da Rainha no tempo da II Guerra Mundial", edição do PH, pude conviver mais proximamente com o autor do livro, dado o cargo que desempenho na associação. Desse modo, tive conhecimento de algumas peripécias passadas nas Caldas nas últimas décadas, nomeadamente relacionadas com o 25 de Abril, que o Dr. Mário conta na primeira pessoa.
Gostei muito da apresentação que o João fez do Dr. Mário Tavares por ocasião do lançamento, e também deste post.
Gostava de reforçar este desafio do João: seria bom o Dr. Mário Tavares escrever as suas memórias, de que ele tem uma memória tão viva.
Já agora, o livro está à venda na LOja 107. E o PH também se pode encarregar de o fazer chegar a quem o queira. É bem bonito, até como objecto, como agora se usa dizer. Gosto muito de reconhecer o valor do trabalho de quem merece: é o caso do Quitó, responsável pelo design gráfico.
E já lá vai o número sete dos Cadernos de História Local (dois dos seus títulos já com segunda edição), para além de todos os outros das restantes colecções do PH - Grupo de Estudos!
- Isabel X -
Parabéns à Isabel Xavier que tem sido absolutamente exemplar na direcção da PH. Irritantemente, tem sempre havido um disparate sério que me vem impedindo, por esta razão ou outra, de acompanhar como gostaria as iniciativas da PH, associação por que tenho uma amorosa predilecção. É quase uma assombração. Mas enfim, mesmo culpabilizadíssimo, significo o meu sonoro aplauso pela serena diligência e liderança que tem devolvido à cidade aquela que é a mais pragmática entidade de reflexão das e sobre as Caldas da Rainha.
O Rui, meu especial amigo, de longa data, tem sempre uma maneira especialmente amiga de dizer as coisas, nada que deva ser tomado à letra, portanto.
O que poderá ser um "disparate sério", por exemplo?
Mas agradeço-lhe, as boas e generosas palavras, que me dirige, mas que necessariamente vão muito para além de mim, do pouco que faço, rodeada de amigos "culpabilizadíssimos", mas cheios de "amorosa predilecção"!
Quem é que, honestamente, pode desejar mais do que isso, ou isso pode sequer chegar a desejar, neste mundo em que nos coube viver? Sou uma pessoa afortunada, não me canso de o repetir, a mim mesma, e a quem me rodeia.
Agradeço sinceramente, Rui, apesar do tom aparentemente brincalhão que adopto, as palavras amigas que me diriges. Vejo que percebes o que de mim está por detrás do pouco que vou conseguindo fazer para que haja PH! Obrigada!
- Isabel Xavier -
E eu mereço tudo o que digas.
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