terça-feira, 3 de novembro de 2009

Não comentar chega?

O que está em causa neste conjunto de averiguações e processos que envolvem figuras públicas é a mais terrível das suspeitas que se pode forjar em democracia: a da corrupção, a do tráfico de influências. Mas acima dela, suspeita das suspeitas, insidiosa e perigosa como nenhuma outra, é a de que não estamos em condições, não podemos nem queremos, dar combate incessante à corrupção e ao tráfico de influências.
É por isso que aos governantes, instados a pronunciar-se sobre os casos, não basta talvez dizer: "não comento". Eu preferiria que, mantendo "o não comento os casos", reafirmassem a sua vontade de esclarecimento cabal e célere das suspeitas, o compromisso de combate total à corrupção, venha ela donde vier, o seu empenho em que a lei seja cumprida e a ética republicana respeitada. 

5 comentários:

Anónimo disse...

Não!
Não chega!

E se muitas vezes "o silêncio é de ouro"....

Estes Silêncios fazem um barulho insuportável, e deixam sequelas irreversíveis....

Um Abraço

PSimões

João Ramos Franco disse...

Caro João Serra
Se me é permitido, deixo esta citação:
(...) Se tremo à opinião pública, como chamamos, ou à ameaça de assalto, ou a maus vizinhos, ou à pobreza, ou à mutilação, ou a boatos de revolução, ou de homicídio? Se tremo, que importa a causa? Os nossos próprios vícios tomam formas diversas, de acordo com o sexo, idade, ou temperamento, e, se tementes, prontamente nos alarmamos. A cobiça, ou a malícia que me entristecem, quando as atribuo à sociedade, pertencem-me. Estou sempre cercado de mim mesmo. Por outro lado, a rectidão é uma vitória perpétua, celebrada não por gritos de alegria mas com serenidade, que é a alegria permanente ou habitual.(…)
Ralph Waldo Emerson, in 'O Carácter'

Xico disse...

Caro João Serra
Espero que não leve a mal mas não resisto a uma pequena provocação ):
O que é isso de ética republicana? Um mal entendido que fez muitos pensarem que bastava a república para a ética vingar na coisa pública?
Ora a ética não tem cor nem regime, e é por definição a favor da moralização da coisa pública. Talvez por isso republicana? Mas a república existiu nas monarquias não absolutistas e a nossa monarquia medieval poderia ser republicana?! (pergunto)
Para acabar sempre em provocação ): sempre direi que um dos maiores portadores de ética republicana, durante o período da nossa 1ª republica, foi o senhor D. Manuel.
Nos tempos presentes precisaríamos de uma ética qualquer. Republicana ou não!

João B. Serra disse...

A ética republicana equivale ao reconhecimento de que um único princípio legitima o exercício de funções públicas: o do bem comum, a res publica.

Luis Filipe Redes disse...

Caro João B. Serra,
A este respeito, tenho que elogiar o Pacheco Pereira que confessou: eu suspeito do primeiro-ministro. E considerou isso um problema político, sobre cujos contornos escreveu hoje (14/11/2009) no Público. E eu? Desconfio do primeiro-ministro? Sim. Ficaria surpreendido se o Ministério Público o considerasse arguido? De modo nenhum. Simplesmente, a minha opinião não é muito relevante. Sou só um voto que fugiu do PS.