quinta-feira, 11 de outubro de 2012

À janela de Ikko Narahara

Ikko (Ikko Narahara, n. 1931), Window Number 2. 1956

3 comentários:

Isabel Soares disse...

Que janelas terríveis, João! Falam de solidão, de isolamento. Apetece abrir aquele estore, partir aquela grade,alargar o labirinto, desenhar umas cortinas rendadas nos caixilhos verdes... Rasgá-las ao olhar... Abri-las ao vento e à vida...
Como gostaria de saber que a escolha não traduza o seu estado de alma.
Abraço

João B. Serra disse...

Uma janela pode ser uma frame, e nesse caso delimita uma parte do todo. Reforça, acrescenta uma espécie de suplemento de realidade à própria realidade, que submeteu a um processo de decomposição/selecção. Os pintores e fotógrafos usam a janela como recurso para acrescentar luz, profundidade ou imaginário à cena. A janela conta sempre duas historias: a do que desvenda e a do que oculta. Através dela pode quem está de fora espreitar o outro lado, ou, quem está dentro espreitar o que se passa fora.

Isabel Soares disse...

Será que no âmago das suas palavras se tropeça com a imagem helenística da luz como sinónimo de conhecimento?

A maioria das janelas por que optou traduzem um olhar de dentro para fora, sem verificar no seu blog (e por isso, sujeita a erro), diria que a maior parte. Recordo-me, no âmbito da pintura, de outras que considerei puro elemento estético, recurso do pintor, e, de todas, a mais agressiva - Sid Grossman (1913–1955), Looking into Window of Garment Factory, New York. 1940 – um olhar despudorado não só sobre a indústria têxtil, a chamar a atenção sobre as condições de trabalho dos emigrantes, mas sobre tudo o que nos apetecesse ignorar, e que a força desta foto nos obriga a ver. Sinto esta foto como um grito. E, reforço, não só sobre a realidade que retrata, mas sobre tudo o que vê e comodamente se ignora.

Subjacente a uma janela está sempre a hipótese de comunicar. Quer acrescente luz, quer acrescente profundidade, ou imaginário à cena, quer destaque uma parte do todo.

Estas últimas, revelam isolamento, ou porque por isso se optou, ou porque algo impede a comunicação.

Admito que estas fotos constituam material, ou a possibilidade de serem material do seu trabalho, como docente. Quando colocada na ESEL, pedi a um docente para assistir às aulas de Comunicação Não-verbal e penso ter sido a aluna mais atenta e assídua daquela disciplina. Se tivéssemos coincidido no tempo e no espaço, acho que também tentaria inventar disponibilidade para ser sua aluna e pedir-lhe-ia para assistir às suas aulas.

Acho interessantíssima esta sua faceta subtilmente provocadora de professor, que nunca despe a bata, nem larga o giz. Como serão as outras?:))