Isto levar-nos-ia a reflexões algo complicadas sobre o
ruralismo cantábrico. Como toda a Espanha é rural, é de não pouca subtileza
definir a forma genuína de cada ruralismo regional. Deste modo, não há grupo
nacional que pareça ter sido mais chamado a construir uma urbe sólida e sem
poros do que Bilbau. Contudo,
quando Bilbau quis alargar-se evadiu-se do perfil oficial que o Município
propunha. O verdadeiro alargamento bilbaíno não é o que assim se chama, mas
Neguri, Algorta, Las Arenas – a povoação centrífuga com campina interior.
Ora bem, a urbe autêntica supõe o predomínio da praceta,
agora ou foro. Da mesma forma que se define o canhão como um agulheiro rodeado
de aço, seria bastante exacto dizer que a urbe é uma abertura ou praça rodeada
de fachadas. O resto da casa mais alem da fachada não é essencial para a urbe
(refresque o leitor a sua imagem de Atenas, de Roma). Isto quer dizer que
apenas há urbe onde predomina o público sobre o privado, o Estado sobre a
família. Em toda a Cantábria acontece o contrário: o instinto de
consanguinidade triunfa sobre o instinto politico e isto explica-nos de um só
golpe a dispersão do casario e a hipertrofia dos escudos. Os cantábricos e
bascos sentem o orgulho da tradição familiar e vivem animados por uma ilusão genealógica.
A planta familiar agarra-se a um pedaço de campina porque precisa de raízes
profundas com que nutrir o seu milenário destino vegetal.
José Ortega y Gasset, Notas
de Andar e Ver. Viagens, Gentes e Países. Lisboa, Fim de Século, 2007. p.
149-150.
2 comentários:
Do fecundo: qualquer planta orienta-se a vertical.
Para além de olhar, eis um exemplo de saber ler o espaço e os seus significados: os sinais que emite sobre a vida de quem o faz e vive!
- Isabel X -
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