A criança não dá mais valor ao ouro do que ao vidro. E na verdade, o ouro vale mais? — A criança acha obscuramente absurdos as paixões, as raivas, os receios que vê esculpidos em gestos adultos. E não são na verdade absurdos e vãos todos os nossos receios, e todos os nossos ódios, e todos os nossos amores?
Ó divina e absurda intuição infantil! Visão verdade das coisas, que nós vestimos de convenções no mais nu vê-las, que nos embrumamos de ideias nossas no mais directo olhá-las!
Será Deus uma criança muito grande? O universo inteiro não parece uma brincadeira, uma partida de criança travessa? Tão irreal, tão (...), tão (...)
s.d.
Livro do Desassossego por Bernardo Soares. Vol.II. Fernando Pessoa. (Recolha e transcrição dos textos de Maria Aliete Galhoz e Teresa Sobral Cunha. Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982. p - 441.
1 comentário:
Compreender a preencher do sentido.
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