Durante muitos anos, em Óbidos, a tradição foi repetida no
masculino, já que, por condição, depois do toque das avé-marias, as mulheres
não podiam sair de casa. Na tarde do ultimo dia de Abril, um grupo de rapazes
jovens e alguns pais de família deslocavam-se aos campos que circundavam a vila
para apanhar as maias, mais conhecidas por “peidos floridos”, um pequeno
arbusto com floração amarela em abundância e uma forte fragrância. Apenas
quando não havia esta planta em quantidade suficiente para engalanar a vila é
que se recorria à giesta.
Durante a noite, depois de conviverem à volta de um repasto
de bacalhau, batatas, chouriço e sardinha, conseguido através de um peditório,
os homens transportavam as maias a partir da Porta da Vila e distribuíam-se
pelas ruas. Usualmente, colocavam-nas nas aldrabas das portas e da janelas e
atapetavam as ruas. Por vezes, aprimoravam os enfeites, por se tratar de alguém
mais íntimo ou considerado importante. Nos adros das Igrejas de S. Pedro e Sta
Maria dispunham pétalas de várias flores, à maneira de um tapete, com símbolos
alusivos aos respectivos santos. Este ritual de disposição das maias era
executado com bastante folguedo, havendo portas que se abriam com filhós e
vinho para receber o grupo, e outras que se fechavam com impropérios por não
serem horas para folias.
Terminada a tarefa, o grupo voltava para o Largo da Porta de
Vila e por lá ficava, à volta da chouriça e do bacalhau até de madrugada. Antes
do nascer do Sol, os casados regressavam a casa para que “não ficassem
amarelos” o resto do ano. E a vila acordava assim maiada e era anualmente
surpreendida pelo amarelo das maias e pela intensa fragrância que as flores
exalavam.
Em tempos idos, era costume oferecer-se um ramo de maias a
todos os que visitavam a Vila.
Celeste Afonso, B. I.
Dos Maios e das Maias. Lisboa, Apenas Livros, 2012. p. 18-19
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