quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Registo

Apresentação do programa

Abrimos hoje aqui, simbolicamente, neste antigo espaço industrial, um novo ciclo de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura.
Estamos todos convidados a entrar, a tomar parte.
É o ciclo do acontecer, do dar vida ao projecto, o ciclo da criação e da apropriação. O ciclo do fazer e do fazer parte.
Num espaço que corresponde a uma das linhas de intervenção programática mais inovadoras da Capital Europeia da Cultura.
Exactamente no dia seguinte à celebração do Património da Humanidade, um acontecimento que concentra tudo o que de melhor a cidade de Guimarães soube sonhar e conquistar.
É altura de convidar e de agradecer. À Cidade que exigiu, criticou, apoiou e confiou. À Câmara Municipal de Guimarães que se empenhou, colaborou sem desfalecimentos e estimulou. Ao movimento associativo que participou. Aos colaboradores da Capital Europeia da Cultura, onde cooperam hoje membros da Fundação Cidade de Guimarães e da cooperativa A Oficina.
Para trás fica um ciclo de preparação e elaboração da candidatura, que decorreu entre Outubro de 2006 e Julho de 2009. Aí se delinearam conceitos-base, se apontaram objectivos e se definiram projectos estruturantes. Os responsáveis políticos, da autarquia vimaranense e do Estado português, acordaram então num modelo institucional e financeiro e de distribuição de responsabilidades na concretização do projecto.
A Fundação Cidade de Guimarães, criada em consequência recebeu do Município de Guimarães e do Governo, em Setembro de 2009, a missão de conceber e executar o programa cultural da Guimarães 2012. Formou-se uma equipa de programação, entrou-se no ciclo do planeamento que ocupou o ano de 2010.
Os resultados desse trabalho foram apresentados ao longo do primeiro semestre deste ano, e foram defendidos com êxito perante o Painel de Acompanhamento de Bruxelas. A apreciação do Painel traduziu-se na atribuição a Guimarães 2012 do Prémio Melina Mercouri.
Era então a altura de fixar o modelo de implementação e produção do programa, questão complexa que mobilizou a intervenção da Câmara e do Conselho Geral da Fundação.
A reorientação estratégica conduzida pelos órgãos da Fundação nos últimos cinco meses, em articulação com as tutelas, permitiu ganhar um novo fôlego para a estrutura de produção da Capital Europeia da Cultura, entretanto conjugada com a Oficina, com as suas componentes de direcção identificadas e alinhadas por objectivos comuns. Enfrentaram-se as dificuldades imprevistas e  reencontrou-se o fio discursivo da cidade.

Importa neste momento passar em revista os elementos que caracterizaram a candidatura, aos quais o programa agora apresentado procurou ser fiel e responder de forma criteriosa.
A candidatura indicava como compromissos principais:
1º - Capacitar a comunidade local com novos recursos e competências, estimulando o seu envolvimento activo no projecto.
O programa da CEC 2012 apresenta um leque diversificado de acções visando os sectores mais desmunidos culturalmente, bem como a comunidade educativa, assegurando uma participação exigente do tecido associativo de Guimarães e da região. O mandato conferido ao consórcio associativo vimaranense exemplifica-o.
Aprofundou parcerias com a Universidade do Minho e desenvolveu acções de formação em domínios artísticos e culturais. Fortaleceu e somou novas valências à rede de equipamentos culturais de que a cidade já dispunha.
2º - Valorizar a qualidade de vida urbana, transformando um espaço de preservação da memória num espaço de permanente oferta de novas experiências culturais.
O programa da CEC 2012 aplicou-se de forma particular em garantir este compromisso, qualificando a oferta cultural, tanto no plano das propostas artísticas como das estruturas de apoio à criação e à exibição. Teve em atenção as oportunidades constituídas pelo espaço público e as preocupações de regeneração urbana.
3º - Transformar a economia da cidade, incentivando uma economia criativa, internacionalmente competitiva e geradora de novo emprego.
O programa da CEC 2012 apoiou este compromisso da candidatura com particular empenho. Criou uma área de programação com esse fim de ligar pessoas, lugares e empresas. Principiou aliás pelas pessoas, lançando ainda em 2011 acções de valorização de competências no domínio do empreendedorismo. Não descurou a plataforma internacional em que deverá ocorrer a valorização da cidade, através de projectos centrados em redes de cidades onde Guimarães possa ter um papel preponderante ou mesmo liderante.
Neste domínio, ninguém espere que os resultados sejam volumosos e imediatos, porque o que importa é gerar a um ambiente favorável a ideias com valor económico. Vai neste sentido, por exemplo, a conversão de dois espaços industriais, num os quais estamos agora, em espaços de criação e exibição.
Uma economia criativa não assenta apenas em novos sectores, deve tocar os sectores tradicionais. Múltiplas acções estão previstas neste âmbito: moda, design, têxtil, artesanato atravessam a programação da Capital Europeia da Cultura 2012.
Enfim, para 2012, Guimarães foi apontado como um dos principais destinos turísticos, por diversos Guias prestigiados, como o do New York Times ou o Lonely Planet. A valorização turística de Guimarães e, de forma integrada, do comércio local, é já um adquirido da marca Capital Europeia da Cultura.

O exercício de programação de Guimarães 2012 cumpriu o alinhamento com os desígnios da política cultural da cidade, tal como requeria a candidatura: cuida da memória singular e do património, qualifica a cidade e a região, valoriza as pessoas e as suas organizações. Concebe a cidade como um ponto de encontro, atribuindo ao espaço público um papel tranversal e unificador. Percebe a cultura como motor de regeneração urbana. Compatibiliza a história com a contemporaneidade, adoptando uma leitura do território como um processo de construção, destruição, rconstrução, em que as marcas do tempo são entendidas como suportes de uma inteligência colectiva e de um desejo de futuro. Declina o principio do face to face, confrontando visões e pontos de partida, espaços e tempos, imaginários e gerações, interior e exterior, que tanto pode ser detectado no eixo profissional/amador, como no global/local, como no contemporâneo/histórico ou no criativo/educativo. Pretende-se inclusiva, em relação à comunidade concreta que abarca e em relação aos actores locais, sem deixar de ser aberta à colaboração e à nova criação, e garantindo a relevância internacional.
Entregamos hoje formalmente à cidade o programa que resulta da missão que nos foi cometida. Nele se dá expressão aos projectos que a candidatura destacava: o reforço dos festivais da cidade, a valorização dos contributos de Guimarães - os seus pensadores, artistas, empreendedores - para a Europa e o Mundo; o reconhecimento do lugar da cultura popular sem perda do destaque a conferir à cultura urbana; o recurso a modalidades de colaboração criativa entre Guimarães e outros cidades portuguesas e europeias, nomeadamente Maribor.
Estamos convictos de que o programa não só respeita integralmente a candidatura como dá sentido ao que de mais estimulante ela propunha: interpretar um programa europeu de forma a, com ele e através dele, qualificar a cidade no médio e longo prazo.
Guimarães 2012 dá vida a um programa europeu de forma coerente. A coerência afere-se na relação com a candidatura e na relação com o tempo presente e os desafios às cidades de pequena e média dimensão.
O programa que elaboramos é um programa de cidade e da cidade, de Guimarães. Não é um programa desta ou daquela instituição, desta ou daquela geração, desta ou daquela visão particular. É um programa das pessoas e para as pessoas, dos lugares e para os lugares, das competências e para as competências de que se faz uma cidade. Não é um programa de compromisso com os grandes públicos, é um programa de compromisso com a cidade.
Guimarães será, depois deste programa, uma das cidades mais bem preparadas para compreender os desafios futuros na área da cultura e actuar sobre eles. Durante um ano fará a experiência de construir uma orquestra internacional. No final de 2012 terá três novos cursos de nível superior: Design, Artes Performativas e Artes Visuais. Disporá de uma Plataforma das Artes com um acervo de referencia internacional e módulos atractivos para artistas emergentes. Terá mudado qualitativamente as estruturas de produção teatral e do audiovisual. Quantas cidades portuguesas disporão em 2013, de uma estrutura de produção audiovisual com a experiência de produção de várias dezenas de filmes? Guimarães terá acumulado, ao longo de uma ano, uma das mais ricas experiências de curadoria artística internacional, aqui exactamente no espaço ASA. Terá reforçado, a um plano sem paralelo, o serviço educativo da área das artes e da cultura e aumentado substancialmente o património editorial com referencia a Guimarães.
É por isso que comparar este projecto de Guimarães 2012 com qualquer outro não é muito pertinente. Guimarães 2012 não se limitou a aproveitar uma oportunidade para aumentar a notoriedade de Guimarães ou a qualificar a oferta cultural existente, mas combina o reforço do património comum com um impulso regenerador.
Trata-se de uma nova agenda para as  Capitais Europeias da Cultura. O empreendedorismo, o design, a economia criativa são novas agendas. A regeneração urbana, económica, social é uma nova agenda. A acção programática pelo lado das estruturas de produção artística é uma nova agenda. A vinculação entre o ensino superior e as artes e o design é uma nova agenda. A adopção de uma programação orientada pela leitura do local e não determinada pela intermediação é uma nova agenda. A prioridade à residência, à criação em contexto, ao serviço educativo é uma nova agenda.
Esta agenda, pensamos, é a que melhor se adequa ao papel das cidades, sobretudo das cidades de pequeno e médio porte, na Europa destes tempos sombrios e  esquinados.
Guimarães 2012, com a sua agenda nova, representa um contributo singular, sem paralelo e relevante para a Europa de que somos parte.

João Serra

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