Abrimos hoje aqui,
simbolicamente, neste antigo espaço industrial, um novo ciclo de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura.
Estamos todos convidados a
entrar, a tomar parte.
É o ciclo do acontecer, do dar
vida ao projecto, o ciclo da criação e da apropriação. O ciclo do fazer e do fazer parte.
Num espaço que corresponde a uma das
linhas de intervenção programática mais inovadoras da Capital Europeia da Cultura.
Exactamente no dia seguinte à celebração do Património da Humanidade, um
acontecimento que concentra tudo o que de melhor a cidade de Guimarães soube sonhar e conquistar.
É altura de convidar e de
agradecer. À
Cidade que exigiu, criticou, apoiou e confiou. À Câmara Municipal de Guimarães que se empenhou, colaborou
sem desfalecimentos e estimulou. Ao movimento associativo que participou. Aos
colaboradores da Capital Europeia da Cultura, onde cooperam hoje membros da
Fundação
Cidade de Guimarães e
da cooperativa A Oficina.
Para trás fica um ciclo de preparação e elaboração da candidatura, que decorreu
entre Outubro de 2006 e Julho de 2009. Aí se delinearam conceitos-base, se apontaram objectivos e se
definiram projectos estruturantes. Os responsáveis políticos, da autarquia
vimaranense e do Estado português, acordaram então num modelo institucional e financeiro e de distribuição de responsabilidades na
concretização do
projecto.
A Fundação Cidade de Guimarães, criada em consequência recebeu do Município de Guimarães e do Governo, em Setembro
de 2009, a missão de
conceber e executar o programa cultural da Guimarães 2012. Formou-se uma equipa
de programação,
entrou-se no ciclo do planeamento que ocupou o ano de 2010.
Os resultados desse trabalho foram
apresentados ao longo do primeiro semestre deste ano, e foram defendidos com êxito perante o Painel de
Acompanhamento de Bruxelas. A apreciação do Painel traduziu-se na atribuição a Guimarães 2012 do Prémio Melina Mercouri.
Era então a altura de fixar o modelo
de implementação e
produção do
programa, questão
complexa que mobilizou a intervenção da Câmara e do Conselho Geral da Fundação.
A reorientação estratégica conduzida pelos órgãos da Fundação nos últimos cinco meses, em
articulação
com as tutelas, permitiu ganhar um novo fôlego para a estrutura de produção da Capital Europeia da
Cultura, entretanto conjugada com a Oficina, com as suas componentes de direcção identificadas e alinhadas
por objectivos comuns. Enfrentaram-se as dificuldades imprevistas e reencontrou-se o fio discursivo da
cidade.
Importa neste momento passar
em revista os elementos que caracterizaram a candidatura, aos quais o programa
agora apresentado procurou ser fiel e responder de forma criteriosa.
A candidatura indicava como
compromissos principais:
1º - Capacitar a comunidade
local com novos recursos e competências, estimulando o seu envolvimento activo no projecto.
O programa da CEC 2012
apresenta um leque diversificado de acções visando os sectores mais desmunidos culturalmente, bem
como a comunidade educativa, assegurando uma participação exigente do tecido
associativo de Guimarães e da região. O mandato conferido ao consórcio associativo vimaranense
exemplifica-o.
Aprofundou parcerias com a
Universidade do Minho e desenvolveu acções de formação em domínios artísticos e culturais. Fortaleceu e somou novas valências à rede de equipamentos
culturais de que a cidade já dispunha.
2º - Valorizar a qualidade de
vida urbana, transformando um espaço de preservação da memória num espaço de permanente oferta de novas experiências culturais.
O programa da CEC 2012
aplicou-se de forma particular em garantir este compromisso, qualificando a
oferta cultural, tanto no plano das propostas artísticas como das estruturas de
apoio à criação e à exibição. Teve em atenção as oportunidades constituídas pelo espaço público e as preocupações de regeneração urbana.
3º - Transformar a economia da
cidade, incentivando uma economia criativa, internacionalmente competitiva e
geradora de novo emprego.
O programa da CEC 2012 apoiou
este compromisso da candidatura com particular empenho. Criou uma área de programação com esse fim de ligar pessoas,
lugares e empresas. Principiou aliás pelas pessoas, lançando ainda em 2011 acções de valorização de competências no domínio do empreendedorismo. Não descurou a plataforma
internacional em que deverá ocorrer a valorização da cidade, através de projectos centrados em redes de cidades onde Guimarães possa ter um papel
preponderante ou mesmo liderante.
Neste domínio, ninguém espere que os resultados
sejam volumosos e imediatos, porque o que importa é gerar a um ambiente favorável a ideias com valor económico. Vai neste sentido, por
exemplo, a conversão de dois espaços industriais, num os quais estamos agora, em espaços de criação e exibição.
Uma economia criativa não assenta apenas em novos sectores,
deve tocar os sectores tradicionais. Múltiplas acções estão previstas neste âmbito: moda, design, têxtil, artesanato atravessam a programação da Capital Europeia da
Cultura 2012.
Enfim, para 2012, Guimarães foi apontado como um dos
principais destinos turísticos, por diversos Guias prestigiados, como o do New York
Times ou o Lonely Planet. A valorização turística de Guimarães e, de forma integrada, do comércio local, é já um adquirido da marca Capital
Europeia da Cultura.
O exercício de programação de Guimarães 2012 cumpriu o alinhamento
com os desígnios
da política
cultural da cidade, tal como requeria a candidatura: cuida da memória singular e do património, qualifica a cidade e a
região,
valoriza as pessoas e as suas organizações. Concebe a cidade como um ponto de encontro, atribuindo
ao espaço público um papel tranversal e
unificador. Percebe a cultura como motor de regeneração urbana. Compatibiliza a história com a contemporaneidade,
adoptando uma leitura do território como um processo de construção, destruição, rconstrução, em que as marcas do tempo são entendidas como suportes de
uma inteligência
colectiva e de um desejo de futuro. Declina o principio do “face to face”, confrontando visões e pontos de partida, espaços e tempos, imaginários e gerações, interior e exterior, que
tanto pode ser detectado no eixo profissional/amador, como no global/local,
como no contemporâneo/histórico ou no criativo/educativo.
Pretende-se inclusiva, em relação à comunidade concreta que abarca e em relação aos actores locais, sem
deixar de ser aberta à colaboração e à nova criação, e garantindo a relevância internacional.
Entregamos hoje formalmente à cidade o programa que resulta
da missão que
nos foi cometida. Nele se dá expressão aos projectos que a candidatura destacava: o reforço dos festivais da cidade, a
valorização
dos contributos de Guimarães - os seus pensadores, artistas, empreendedores - para a
Europa e o Mundo; o reconhecimento do lugar da cultura popular sem perda do
destaque a conferir à cultura urbana; o recurso a modalidades de colaboração criativa entre Guimarães e outros cidades
portuguesas e europeias, nomeadamente Maribor.
Estamos convictos de que o
programa não só respeita integralmente a candidatura
como dá
sentido ao que de mais estimulante ela propunha: interpretar um programa
europeu de forma a, com ele e através dele, qualificar a cidade no médio e longo prazo.
Guimarães 2012 dá vida a um programa europeu de
forma coerente. A coerência afere-se na relação com a candidatura e na relação com o tempo presente e os
desafios às
cidades de pequena e média dimensão.
O programa que elaboramos é um programa de cidade e da
cidade, de Guimarães. Não é um programa desta ou daquela
instituição,
desta ou daquela geração, desta ou daquela visão particular. É um programa das pessoas e
para as pessoas, dos lugares e para os lugares, das competências e para as competências de que se faz uma
cidade. Não é um programa de compromisso
com os grandes públicos,
é um programa de compromisso
com a cidade.
Guimarães será, depois deste programa, uma
das cidades mais bem preparadas para compreender os desafios futuros na área da cultura e actuar sobre
eles. Durante um ano fará a experiência de construir uma orquestra internacional. No final de
2012 terá três novos cursos de nível superior: Design, Artes
Performativas e Artes Visuais. Disporá de uma Plataforma das Artes com um acervo de referencia
internacional e módulos
atractivos para artistas emergentes. Terá mudado qualitativamente as estruturas de produção teatral e do audiovisual.
Quantas cidades portuguesas disporão em 2013, de uma estrutura de produção audiovisual com a experiência de produção de várias dezenas de filmes? Guimarães terá acumulado, ao longo de uma ano,
uma das mais ricas experiências de curadoria artística internacional, aqui exactamente no espaço ASA. Terá reforçado, a um plano sem paralelo,
o serviço
educativo da área
das artes e da cultura e aumentado substancialmente o património editorial com referencia a
Guimarães.
É por isso que comparar este
projecto de Guimarães 2012 com qualquer outro não é muito pertinente. Guimarães 2012 não se limitou a aproveitar uma
oportunidade para aumentar a notoriedade de Guimarães ou a qualificar a oferta
cultural existente, mas combina o reforço do património comum com um impulso regenerador.
Trata-se de uma nova agenda
para as Capitais Europeias da
Cultura. O empreendedorismo, o design, a economia criativa são novas agendas. A regeneração – urbana, económica, social – é uma nova agenda. A acção programática pelo lado das estruturas
de produção
artística
é uma nova agenda. A vinculação entre o ensino superior e as
artes e o design é uma
nova agenda. A adopção de uma programação orientada pela leitura do local e não determinada pela intermediação é uma nova agenda. A prioridade
à residência, à criação em contexto, ao serviço educativo é uma nova agenda.
Esta agenda, pensamos, é a que melhor se adequa ao
papel das cidades, sobretudo das cidades de pequeno e médio porte, na Europa destes
tempos sombrios e esquinados.
Guimarães 2012, com a sua agenda
nova, representa um contributo singular, sem paralelo e relevante para a Europa
de que somos parte.
João Serra
João Serra
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