Girl at a window, 1931
Alexander Deineka, pintor russo (1899-1969) que me foi hoje "apresentado" por Henrique Cayatte.
O contraponto deste óleo pode ser o de Dali: Muchacha en la ventana, de 1925. À paisagem marítima do sul deste ultimo opõe-se a paisagem rural nevada do primeiro. Em vez da rapariga em pose sensual e de entrega de Dali, Deineka pinta uma rapariga quase masculina em pose rígida e distante.
O contraponto deste óleo pode ser o de Dali: Muchacha en la ventana, de 1925. À paisagem marítima do sul deste ultimo opõe-se a paisagem rural nevada do primeiro. Em vez da rapariga em pose sensual e de entrega de Dali, Deineka pinta uma rapariga quase masculina em pose rígida e distante.
4 comentários:
Quando se observam os dois quadros pareceu-me ressaltar algo que não deixa de ser perturbante. No primeiro, do russo, a menina ocupa o quadro e envolve-nos a nós no seu desejo frustrado de ir para a rua passear o cão (ou o gato). O pintor está ausente do quadro. No segundo é como se o pintor nos convidasse a nós, espectadores, a observar a mulher que olha a paisagem não frustrada como a primeira, mas usufruindo da mesma, ao mesmo tempo que tem plena consciência que "nós" a observamos.O pintor/observador/ nós, estamos ali, observando-a,ela... não a paisagem. A presença de alguém que está invisível é perturbante.
No quadro de Deineka, que não conhecia (é um bem espreitar por esta sua janela...) é-se confrontado com o contraste entre dois ambientes: o frio/desconforto exterior, sugerido pelo branco das árvores e negro da paisagem, cuja luminosidade lembra o fim do dia e o calor/conforto do interior da habitação sugerido pelos tons quentes do cortinado e tapete e pelos pormenores do aquecedor e do animal aninhado no tapete. A mulher/menina, sem consciência de si, sugestão dada através da ausência de luz da silhueta, contrastando com a luminosidade das meias, olha através da vidraça.
Quantas vezes qualquer de nós não repetirá este gesto "olhando" (sem ver) mais para "dentro" que para "fora", numa dialéctica inconsciente de conforto/desconforto?!
Este quadro é a imagem gráfica da frustração (frustração ponto final).
Em Dali, o contraste da parede despida, em que nem se repara, serve para fazer sobressair o calor da tarde que entra pela janela aberta.
Este quadro transmite pujança, plenitude, sensualidade, prazer, sugestões dadas através dos cambiantes de luz com que o artista exuberou as formas da mulher.
Perante este quadro, que homem não espera que aquela mulher se vir e lhe sorria? A que mulher não apetece ser a mulher daquela janela, para se virar e sorrir ao homem que a observa?
Se o Professor me permite o abuso... Tanta conversa para dizer que estou consigo Xico.
Muito interessante o contraponto apresentado, ponto de partida inteligente que nos proporcionou comentários a condizer, enriquecedores!
Ponto alto na série janelas!
Obrigada, João, Xico, Isabel.
- Isabel X -
Deineka – A consciência de que é frio lá fora, mas nem por isso perde a beleza.
Dali – O doce frescor da indecisão. A linha da terra divide o infinito e a profundeza. Dois mundos.
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