A “Cidade da
Muralha”
A exposição “A
Cidade da Muralha” cumpre, no contexto da Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, um triplo papel.
Dá resposta a um
dos objectivos centrais do projecto, o de contribuir para uma redescoberta de
Guimarães, dos seus construtores, das suas instituições e da sua memória
material e imaterial.
Converte em documento
público uma riquíssima colecção documental, até agora sob ameaça de deterioração
e esquecimento.
Participa, de
forma própria, e cremos que significativa, na celebração convocada pela
passagem de uma década sobre o reconhecimento pela Unesco do centro histórico
vimaranense como Património da Humanidade.
As cidades têm
uma história. Esta afirmação banal contraria de alguma forma o senso comum,
baseado numa experiência quotidiana que valoriza a continuidade e a
permanência. É a história – alimentada pelas memórias das gerações mais antigas
e pelos documentos analiticamente tratados – que assinala a ruptura e põe em
evidência os processos e os momentos da transformação.
Neste sentido,
esta exposição permite-nos descobrir a Guimarães de há uma centena de anos,
anotando a mudança do espaço urbano, dos seus edifícios, praças e ruas e até
dos seus utentes. Podemos identificar as diferenças, em resultado de intervenções
públicas ou privadas, eventualmente pesar e debater o respectivo resultado e,
desse modo, reforçar a cultura histórica como produto de uma reflexão baseada
em registos autênticos.
Mas, como sugere
o título do projecto em que se integra, a “A Cidade da Muralha” constitui um
bom pretexto para se imaginar Guimarães. Ou melhor, para se “re-imaginar”
Guimarães. Primeiramente, porque o acto de reconhecimento do passado, nos seus
vestígios materiais, é sempre um acto de projecção sobre o que não existe, de
reconstituição do passado. Mas porque podemos saber o que se passou, esse acto
de adivinhação do passado envolve a nossa percepção do presente e a nossa
ambição de futuro. Re-imaginar a cidade do ontem é também imaginar a cidade de
amanhã.
João Serra
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