sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Registo


A “Cidade da Muralha”

A exposição “A Cidade da Muralha” cumpre, no contexto da Guimarães 2012  Capital Europeia da Cultura, um triplo papel.
Dá resposta a um dos objectivos centrais do projecto, o de contribuir para uma redescoberta de Guimarães, dos seus construtores, das suas instituições e da sua memória material e imaterial.
Converte em documento público uma riquíssima colecção documental, até agora sob ameaça de deterioração e esquecimento.
Participa, de forma própria, e cremos que significativa, na celebração convocada pela passagem de uma década sobre o reconhecimento pela Unesco do centro histórico vimaranense como Património da Humanidade.
As cidades têm uma história. Esta afirmação banal contraria de alguma forma o senso comum, baseado numa experiência quotidiana que valoriza a continuidade e a permanência. É a história – alimentada pelas memórias das gerações mais antigas e pelos documentos analiticamente tratados – que assinala a ruptura e põe em evidência os processos e os momentos da transformação.
Neste sentido, esta exposição permite-nos descobrir a Guimarães de há uma centena de anos, anotando a mudança do espaço urbano, dos seus edifícios, praças e ruas e até dos seus utentes. Podemos identificar as diferenças, em resultado de intervenções públicas ou privadas, eventualmente pesar e debater o respectivo resultado e, desse modo, reforçar a cultura histórica como produto de uma reflexão baseada em registos autênticos.
Mas, como sugere o título do projecto em que se integra, a “A Cidade da Muralha” constitui um bom pretexto para se imaginar Guimarães. Ou melhor, para se “re-imaginar” Guimarães. Primeiramente, porque o acto de reconhecimento do passado, nos seus vestígios materiais, é sempre um acto de projecção sobre o que não existe, de reconstituição do passado. Mas porque podemos saber o que se passou, esse acto de adivinhação do passado envolve a nossa percepção do presente e a nossa ambição de futuro. Re-imaginar a cidade do ontem é também imaginar a cidade de amanhã.

João Serra

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