sábado, 31 de dezembro de 2011

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

À janela de Alexander Deineka

Alexander Deineka, The window of a studio. 1947

quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

À janela de Alexander Deineka

Alexander Deineka, The window of a studio. 1947

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

À janela de Alexander Deineka

Alexander Deineke, Rome. The side-street. 1935

terça-feira, 27 de dezembro de 2011

À janela de Alexander Deineka

Alexander Deyneka, Woman Reading. 1934

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

domingo, 25 de dezembro de 2011

sábado, 24 de dezembro de 2011

Feira de vaidades

Sem a menor respeito nem por uma ética da responsabilidade nem sequer pela elementar verdade. Foi um mostruário de vaidades feridas, esta semana. Todos, um por um e sem excepção.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Ao fim da tarde

Visita à exposição de Hugo Canoilas, aqui ao lado.




quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Registo

Elogio da cidade

O programa de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura desenvolve uma agenda de cidade e preenche um lugar de cultura. Na rede de percursos que cruzam cidade, cultura e Europa, o programa sublinha o nó formado por Guimarães.
A singularidade de uma cidade é irredutível, ao mesmo tempo que remete para todas as cidades. Como na teoria do holograma, a identidade de uma cidade, não contendo toda a informação sobre o conjunto de que faz parte, encerra todavia informação pertinente sobre aquele a cuja escala se situa.
Trata-se de uma cidade que valoriza o património comum. Produto da história, o património é em primeiro lugar uma soma: de criações inscritas no tempo, de olhares aplicados por gerações, de narrativas sucessivamente imaginadas e sobrepostas. O património comum é o resultado de uma cumplicidade, não só com o passado, mas também com o futuro. Sem o património comum, a cidade estaria condenada a começar sempre tudo de novo, a inventar do nada.
Compreender o legado para poder transformar, dialogar com a diversidade das heranças é a condição fundamental para assegurar a mudança, a metamorfose, no sentido que lhe empresta Edgar Morin (a metamorfose é uma transformação que se articula com a conservação: da vida, da herança cultural).
O património comum revela, em Guimarães, um impulso regenerador. A cidade combina as representações do seu papel na construção de uma autonomia política precoce, com as marcas de uma ocupação, conduzida por unidades de produção industrial e pela tecnologia, de um território rasgado por cursos de água. Perscrutar esta história é destacar a incidência dos processos da inovação ao longo dos últimos dois séculos e sondar o campo das possibilidades do futuro. Se o tempo traz destruição, é esta que impele a reconstrução, que convoca a inovação.
O património comum compromete o cidadão e revigora a  cidadania. Porque garante a liberdade de criar, que como se sabe nem vive no caos nem sobrevive sob o autoritarismo. O sentido da identidade é pertença e é partilha, e esta só se cumpre plenamente na dimensão do espaço público, de uso colectivo e democrático.
Guimarães 2012 propõe um programa cultural assente nesta cidade, lida desta forma. Esse programa não constitui uma nova narrativa, mas um ensaio sobre a narrativa disponibilizada pela cidade, descobrindo as linhas de que se tece e submetendo-as à tensão do projecto de criação em contexto, da residência artística, do confronto das visões e tendências contemporâneas.
A regeneração das sociedades e das economias supõe uma recomposição do lugar do urbano e do papel das cidades. É aí que a cultura desempenha essa função de operador que estabelece conexões que já lhe foi assinalada. Conexões entre espaços e modos de vida, entre organizações, entre grupos sociais, entre percepções colectivas. Contra a separação, o isolamento, a fragmentação e, claro, o discurso da  fronteira, do medo e do ódio.
O programa cultural de Guimarães 2012 parte do inventário dos conectores de que a cidade já se ocupa. Não os substitui, pretende contribuir para o seu reforço, um sistema onde algumas tarefas exigem um alto nível de especialização e de recurso tecnológicos adequados e, naturalmente, níveis de intervenção de proximidade diversificada.
Reserva de imaginário, a cultura permitirá, nas cidades da escala de Guimarães compreender mais de perto o património comum e incentivar o seu papel como fonte de modernidade. Reserva de experiencia de comunicação e de interacção, a cultura será, nas cidades da escala de Guimarães, um factor essencial de humanização das sociedades.

João Serra

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Ao fim da tarde

Uma visita ao mundo do Hugo Canoilas, aqui mesmo ao lado.





terça-feira, 20 de dezembro de 2011

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

A humanidade no seu labirinto

Hugo Canoilas, no Centro Cultural Vila Flor.








domingo, 18 de dezembro de 2011

À janela de Raul Brandão

As filhas de D. Carlota Joaquina, com excepção de duas, eram tal qual como a mãe.
O Camara conta que a duqueza de Loulé, que foi casada com o mais lindo homem do seu tempo, estava um dia, em solteira, á janella, quando o conde de Vimioso passou a cavallo para os touros, já vestido de
oiro e prata. Ella chamou-o, trocaram meia duzia de palavras, elle subiu - e depois desceu e foi tourear...

Raul Brandão, Memórias. 1919

sábado, 17 de dezembro de 2011

À janela de Goya

Francisco de Goya y Lucientes, El Comercio, 1801-1805

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Registo


A “Cidade da Muralha”

A exposição “A Cidade da Muralha” cumpre, no contexto da Guimarães 2012  Capital Europeia da Cultura, um triplo papel.
Dá resposta a um dos objectivos centrais do projecto, o de contribuir para uma redescoberta de Guimarães, dos seus construtores, das suas instituições e da sua memória material e imaterial.
Converte em documento público uma riquíssima colecção documental, até agora sob ameaça de deterioração e esquecimento.
Participa, de forma própria, e cremos que significativa, na celebração convocada pela passagem de uma década sobre o reconhecimento pela Unesco do centro histórico vimaranense como Património da Humanidade.
As cidades têm uma história. Esta afirmação banal contraria de alguma forma o senso comum, baseado numa experiência quotidiana que valoriza a continuidade e a permanência. É a história – alimentada pelas memórias das gerações mais antigas e pelos documentos analiticamente tratados – que assinala a ruptura e põe em evidência os processos e os momentos da transformação.
Neste sentido, esta exposição permite-nos descobrir a Guimarães de há uma centena de anos, anotando a mudança do espaço urbano, dos seus edifícios, praças e ruas e até dos seus utentes. Podemos identificar as diferenças, em resultado de intervenções públicas ou privadas, eventualmente pesar e debater o respectivo resultado e, desse modo, reforçar a cultura histórica como produto de uma reflexão baseada em registos autênticos.
Mas, como sugere o título do projecto em que se integra, a “A Cidade da Muralha” constitui um bom pretexto para se imaginar Guimarães. Ou melhor, para se “re-imaginar” Guimarães. Primeiramente, porque o acto de reconhecimento do passado, nos seus vestígios materiais, é sempre um acto de projecção sobre o que não existe, de reconstituição do passado. Mas porque podemos saber o que se passou, esse acto de adivinhação do passado envolve a nossa percepção do presente e a nossa ambição de futuro. Re-imaginar a cidade do ontem é também imaginar a cidade de amanhã.

João Serra

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Música

A minha incapacidade de cantar ou tocar um instrumento é humilhante. Mas é frequente a música pôr-me "fora de mim", ou, mais exactamente, numa companhia muito melhor do que a minha. Materializa o oximoro do amor, essa fusão de dois indivíduos na unicidade, sendo que cada um deles, mesmo no momento do uníssono espiritual e sexual, conserva e enriquece a sua identidade. Ouvir música com o ser amado é estar numa condição simultaneamente privada, quase autista, e todavia estranhamente envolvida com o outro (a leitura a dois em voz alta não atinge o mesmo grau de fusão). Daí que a colaboração interactiva, como sucede entre a voz e o piano num "Lied" ou a execução de um quarteto de cordas, seja talvez o fenómeno mais intrincado de todo o Planeta, absolutamente arisco a qualquer análise. Aliás, uma vez que cada incidência deste fenómeno é irrepetível, é bem possível que seja mais complexo do que a dança das galáxias. Uma caixa de música envernizada, uma tripa de gato ou um arame, um martelo com ponta de feltro, a inflexão do pulso do intérprete, a vibração das cordas vocais geram ondas cujas curvas e função algébrica podemos, efectivamente traçar, mas cujos "significantes", cujo poder de transformar os estados físicos e psíquicos, não podemos explicar. Pelo que suponho serem forças fundamentalmente "des"-humanas. É por isso que as interacções entre a música e as outars artes, entre a música e a poesia, são sempre fascinantes. Na grécia pré-clássica, o filósofo podia ser também um rapsodo. Cantava os seus pensamentos. Os argumentos filosóficos desde a antiguidade até aos nossos dias - de Platão, de Nietzsche, por vezes de Wittgenstein - podem ter uma cadência e musicalidade distintas. As afirmações de que a arquitectura é "música congelada", de que a poesia aspira à condição da música enquanto tautologia perfeita de forma e conteúdo (senso que na música a forma é o conteúdo e vice-versa), são imagens que exprimem verdades profundamente sentidas, mas não fundadas na razão. Quem pode definir a "alma"? Mas quem é que não percebe intuitivamente a apóstrofe de Shakespeare contra aqueles que não têm "música na alma", uma ideia cristalizada pela designação "música soul"?

George Steiner, Errata. Revisões de uma Vida. Lisboa, Relógio D'Agua, 2001, p. 96-97

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Registo

Apresentação do programa

Abrimos hoje aqui, simbolicamente, neste antigo espaço industrial, um novo ciclo de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura.
Estamos todos convidados a entrar, a tomar parte.
É o ciclo do acontecer, do dar vida ao projecto, o ciclo da criação e da apropriação. O ciclo do fazer e do fazer parte.
Num espaço que corresponde a uma das linhas de intervenção programática mais inovadoras da Capital Europeia da Cultura.
Exactamente no dia seguinte à celebração do Património da Humanidade, um acontecimento que concentra tudo o que de melhor a cidade de Guimarães soube sonhar e conquistar.
É altura de convidar e de agradecer. À Cidade que exigiu, criticou, apoiou e confiou. À Câmara Municipal de Guimarães que se empenhou, colaborou sem desfalecimentos e estimulou. Ao movimento associativo que participou. Aos colaboradores da Capital Europeia da Cultura, onde cooperam hoje membros da Fundação Cidade de Guimarães e da cooperativa A Oficina.
Para trás fica um ciclo de preparação e elaboração da candidatura, que decorreu entre Outubro de 2006 e Julho de 2009. Aí se delinearam conceitos-base, se apontaram objectivos e se definiram projectos estruturantes. Os responsáveis políticos, da autarquia vimaranense e do Estado português, acordaram então num modelo institucional e financeiro e de distribuição de responsabilidades na concretização do projecto.
A Fundação Cidade de Guimarães, criada em consequência recebeu do Município de Guimarães e do Governo, em Setembro de 2009, a missão de conceber e executar o programa cultural da Guimarães 2012. Formou-se uma equipa de programação, entrou-se no ciclo do planeamento que ocupou o ano de 2010.
Os resultados desse trabalho foram apresentados ao longo do primeiro semestre deste ano, e foram defendidos com êxito perante o Painel de Acompanhamento de Bruxelas. A apreciação do Painel traduziu-se na atribuição a Guimarães 2012 do Prémio Melina Mercouri.
Era então a altura de fixar o modelo de implementação e produção do programa, questão complexa que mobilizou a intervenção da Câmara e do Conselho Geral da Fundação.
A reorientação estratégica conduzida pelos órgãos da Fundação nos últimos cinco meses, em articulação com as tutelas, permitiu ganhar um novo fôlego para a estrutura de produção da Capital Europeia da Cultura, entretanto conjugada com a Oficina, com as suas componentes de direcção identificadas e alinhadas por objectivos comuns. Enfrentaram-se as dificuldades imprevistas e  reencontrou-se o fio discursivo da cidade.

Importa neste momento passar em revista os elementos que caracterizaram a candidatura, aos quais o programa agora apresentado procurou ser fiel e responder de forma criteriosa.
A candidatura indicava como compromissos principais:
1º - Capacitar a comunidade local com novos recursos e competências, estimulando o seu envolvimento activo no projecto.
O programa da CEC 2012 apresenta um leque diversificado de acções visando os sectores mais desmunidos culturalmente, bem como a comunidade educativa, assegurando uma participação exigente do tecido associativo de Guimarães e da região. O mandato conferido ao consórcio associativo vimaranense exemplifica-o.
Aprofundou parcerias com a Universidade do Minho e desenvolveu acções de formação em domínios artísticos e culturais. Fortaleceu e somou novas valências à rede de equipamentos culturais de que a cidade já dispunha.
2º - Valorizar a qualidade de vida urbana, transformando um espaço de preservação da memória num espaço de permanente oferta de novas experiências culturais.
O programa da CEC 2012 aplicou-se de forma particular em garantir este compromisso, qualificando a oferta cultural, tanto no plano das propostas artísticas como das estruturas de apoio à criação e à exibição. Teve em atenção as oportunidades constituídas pelo espaço público e as preocupações de regeneração urbana.
3º - Transformar a economia da cidade, incentivando uma economia criativa, internacionalmente competitiva e geradora de novo emprego.
O programa da CEC 2012 apoiou este compromisso da candidatura com particular empenho. Criou uma área de programação com esse fim de ligar pessoas, lugares e empresas. Principiou aliás pelas pessoas, lançando ainda em 2011 acções de valorização de competências no domínio do empreendedorismo. Não descurou a plataforma internacional em que deverá ocorrer a valorização da cidade, através de projectos centrados em redes de cidades onde Guimarães possa ter um papel preponderante ou mesmo liderante.
Neste domínio, ninguém espere que os resultados sejam volumosos e imediatos, porque o que importa é gerar a um ambiente favorável a ideias com valor económico. Vai neste sentido, por exemplo, a conversão de dois espaços industriais, num os quais estamos agora, em espaços de criação e exibição.
Uma economia criativa não assenta apenas em novos sectores, deve tocar os sectores tradicionais. Múltiplas acções estão previstas neste âmbito: moda, design, têxtil, artesanato atravessam a programação da Capital Europeia da Cultura 2012.
Enfim, para 2012, Guimarães foi apontado como um dos principais destinos turísticos, por diversos Guias prestigiados, como o do New York Times ou o Lonely Planet. A valorização turística de Guimarães e, de forma integrada, do comércio local, é já um adquirido da marca Capital Europeia da Cultura.

O exercício de programação de Guimarães 2012 cumpriu o alinhamento com os desígnios da política cultural da cidade, tal como requeria a candidatura: cuida da memória singular e do património, qualifica a cidade e a região, valoriza as pessoas e as suas organizações. Concebe a cidade como um ponto de encontro, atribuindo ao espaço público um papel tranversal e unificador. Percebe a cultura como motor de regeneração urbana. Compatibiliza a história com a contemporaneidade, adoptando uma leitura do território como um processo de construção, destruição, rconstrução, em que as marcas do tempo são entendidas como suportes de uma inteligência colectiva e de um desejo de futuro. Declina o principio do face to face, confrontando visões e pontos de partida, espaços e tempos, imaginários e gerações, interior e exterior, que tanto pode ser detectado no eixo profissional/amador, como no global/local, como no contemporâneo/histórico ou no criativo/educativo. Pretende-se inclusiva, em relação à comunidade concreta que abarca e em relação aos actores locais, sem deixar de ser aberta à colaboração e à nova criação, e garantindo a relevância internacional.
Entregamos hoje formalmente à cidade o programa que resulta da missão que nos foi cometida. Nele se dá expressão aos projectos que a candidatura destacava: o reforço dos festivais da cidade, a valorização dos contributos de Guimarães - os seus pensadores, artistas, empreendedores - para a Europa e o Mundo; o reconhecimento do lugar da cultura popular sem perda do destaque a conferir à cultura urbana; o recurso a modalidades de colaboração criativa entre Guimarães e outros cidades portuguesas e europeias, nomeadamente Maribor.
Estamos convictos de que o programa não só respeita integralmente a candidatura como dá sentido ao que de mais estimulante ela propunha: interpretar um programa europeu de forma a, com ele e através dele, qualificar a cidade no médio e longo prazo.
Guimarães 2012 dá vida a um programa europeu de forma coerente. A coerência afere-se na relação com a candidatura e na relação com o tempo presente e os desafios às cidades de pequena e média dimensão.
O programa que elaboramos é um programa de cidade e da cidade, de Guimarães. Não é um programa desta ou daquela instituição, desta ou daquela geração, desta ou daquela visão particular. É um programa das pessoas e para as pessoas, dos lugares e para os lugares, das competências e para as competências de que se faz uma cidade. Não é um programa de compromisso com os grandes públicos, é um programa de compromisso com a cidade.
Guimarães será, depois deste programa, uma das cidades mais bem preparadas para compreender os desafios futuros na área da cultura e actuar sobre eles. Durante um ano fará a experiência de construir uma orquestra internacional. No final de 2012 terá três novos cursos de nível superior: Design, Artes Performativas e Artes Visuais. Disporá de uma Plataforma das Artes com um acervo de referencia internacional e módulos atractivos para artistas emergentes. Terá mudado qualitativamente as estruturas de produção teatral e do audiovisual. Quantas cidades portuguesas disporão em 2013, de uma estrutura de produção audiovisual com a experiência de produção de várias dezenas de filmes? Guimarães terá acumulado, ao longo de uma ano, uma das mais ricas experiências de curadoria artística internacional, aqui exactamente no espaço ASA. Terá reforçado, a um plano sem paralelo, o serviço educativo da área das artes e da cultura e aumentado substancialmente o património editorial com referencia a Guimarães.
É por isso que comparar este projecto de Guimarães 2012 com qualquer outro não é muito pertinente. Guimarães 2012 não se limitou a aproveitar uma oportunidade para aumentar a notoriedade de Guimarães ou a qualificar a oferta cultural existente, mas combina o reforço do património comum com um impulso regenerador.
Trata-se de uma nova agenda para as  Capitais Europeias da Cultura. O empreendedorismo, o design, a economia criativa são novas agendas. A regeneração urbana, económica, social é uma nova agenda. A acção programática pelo lado das estruturas de produção artística é uma nova agenda. A vinculação entre o ensino superior e as artes e o design é uma nova agenda. A adopção de uma programação orientada pela leitura do local e não determinada pela intermediação é uma nova agenda. A prioridade à residência, à criação em contexto, ao serviço educativo é uma nova agenda.
Esta agenda, pensamos, é a que melhor se adequa ao papel das cidades, sobretudo das cidades de pequeno e médio porte, na Europa destes tempos sombrios e  esquinados.
Guimarães 2012, com a sua agenda nova, representa um contributo singular, sem paralelo e relevante para a Europa de que somos parte.

João Serra

Registo

Conferência de Imprensa


Com a apresentação hoje do programa/agenda da Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, entramos no ciclo do fazer acontecer.
Para trás ficam os ciclos da programação e planeamento e da montagem de um estrutura de produção. Mais atrás ainda fica o ciclo da preparação da candidatura que decorreu entre 2006 e 2009.
A sucessão de ciclos não foi conduzidas pelas mesmas instituições nem teve sempre os mesmo protagonistas e interlocutores. Mas é justo reconhecer que o fio condutor foi encontrado e assegurado pela cidade e pela Câmara que soube estimular, apoiar, reflectir, discutir, elaborar propostas a respeito da orientação estratégica da Capital Europeia da Cultura.
Ao devolver o programa à cidade, o que podemos hoje garantir?
Em primeiro lugar que o programa é coerente. Coerente com os pressupostos e compromissos desenhados pela candidatura: capacitação dos recursos endógenos; requalificação da cultura urbana; abertura de espaço para a economia criativa.
Estamos convictos de que todos estes objectivos estão contemplados no programa que vos apresentamos. Coerente também com a leitura que fazemos da situação europeia e do papel que as redes de cidades de pequeno e médio porte podem desempenhar. O programa fez, a este respeito, uma opção clara: reforçar a rede de equipamentos culturais, a experiência de programação, a capacidade de atracção de talento, a disponibilidade de centros de formação e de produção artística.
É um programa todo ele elaborado em articulação com as estruturas de produção e exibição da cidade, implicando o movimento associativo e assente em praticas de residência e criação em contexto. É um programa de revalorização da oferta cultural, elaborado a partir de agencias de intermediação e circulação, mas assente na colaboração e na cooperação. Este programa assim delineado, com projectos amadurecidos em processos bottom up, é o que, no nosso entender, melhor serve a cidade de Guimarães e atrevemos-nos a pensar também as cidades como Guimarães.
Esta Capital Europeia da Cultura não tem equivalente. Adopta um conjunto de novas agendas: A agenda educativa reconhece que as sociedades actuais em mutação e em rede são exigem não apenas a presença continua da educação ao longo da vida como um transito permanente entre formação e trabalho, entre aprendizagem e actividade técnica, entre educação e cidadania.
A agenda educativa permite reforçar competências formais e informais, tanto na escola como em sectores desmunidos culturalmente, tanto nos níveis básico como superior da educação formal.
A agenda da criação artística que dá prioridade à curadoria sobre o colecção, ao cruzamento interdisciplinar, ao processo e ao contexto criativos em detrimento do autor, que se ocupa mais de audiências que de públicos, que põe em equação as novas linguagens, que se ocupa de como fazer onde fazer.
A agenda da economia criativa, que liga pessoas, lugares e empresas , que suscita e acompanha as ideias com valor económico, que actua não apenas em novos sectores mas também em sectores tradicionais, como o artesanato, que melhora a atractividade e competitividade do território em matéria de turismo cultural.
Guimarães será, depois deste programa, uma das cidades mais bem preparadas para compreender os desafios futuros na área da cultura e actuar sobre eles.

João Serra

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Registo

Memória das obras do Toural

Ao longo de quase um ano, Nuno Miguel Borges seguiu atentamente as obras de requalificação do Toural. Sabia que se tratava de um projecto de intervenção numa das artérias mais sensíveis da cidade. Não ignorava a polémica suscitada por um primeiro projecto, cuja discussão pública determinara o seu abandono. Tinha a noção de que as remodelações urbanísticas, mesmo as das áreas centrais das cidades, fazendo embora parte da história das cidades, representam uma ruptura com perspectivas arreigadas e causam perturbação no quotidiano dos cidadãos.
Quando submeteu o seu projecto de um livro à apreciação da Fundação Cidade de Guimarães, deixou claro que pretendia um apoio que o viabilizasse, não uma adopção. Delineou a pesquisa e as recolhas de imagem, criou a logística, escolheu e contratou a fotógrafa e outros colaboradores. O livro daí resultante conterá uma história do Toural, resultado de uma investigação especializada e um registo do processo de intervenção nele realizado ao longo do ano de 2011.
Esta exposição mostra algumas das fotografias que integram esse livro, a editar em breve. São fotografias documentais, ilustrando a interacção de homens e máquinas, de técnicos e operários com o espaço urbano. Contam também uma outra história. A história dos olhares que se cruzaram com as próprias intervenções desenhadas pelos arquitectos e executados pelos trabalhadores. Esses olhares vimaranenses exprimem aplauso, ou dúvida, crítica ou concordância. São os olhares das testemunhas participantes. Atestam como, apesar de subtraído à sua ocupação normal, o Toural continuou a ser um espaço público, ou seja um espaço de uso colectivo, de encontro e convivência. Essa a sua força, que a objectiva de Rita Burmester tão bem captou e transmite.

João Serra

Guimarães 2012


À janela de Tibaldi

Pellegrino Tibaldi (Atribuido a), Mujer en una ventana, vertiendo agua de una jarra sobre la cabeza de un anciano con barba, que sostiene con ambas manos un libro abierto, que una joven intenta coger. Segunda mitad del siglo XVI.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

À janela de Saramago

Por trás das janelas acabam as damas de armar os penteados, enormes fábricas de luzimentos e postiços, daqui a pouco vêm pôr-se em exposição à janela, nenhuma vai querer ser a primeira, é certo que imediatamente atrairia os olhares de quem passa ou se mostra na rua, mas esse gosto tão depressa vem, logo é perdido porque, ao abrir-se a janela da casa em frente e nela aparecendo dama que por ser vizinha é rival, desviam-se os olhares de quem me estiver contemplando, ciúme que não suporto, tanto mais que ela é mesquinhamente feia e eu divinamente bela, ela tem a boca grande e a minha é um botão, e antes que ela o diga, digo eu, Vai mote. Para este torneio estão mais bem servidas as que moram nos andares baixos, logo ali se põem os galantes a retorcer o mote nos bestuntos, palpitando a métrica e a rima, mas entretanto, do alto do prédio, outro mote desceu, gritado para bem se ouvir, enquanto o primeiro poeta diz para cima a glosa enfim armada, e os outros, de raiva e despeito, miram frios o concorrente que já recebe as graças da dama, suspeitando de estarem combinados glosa e mote por se haverem, doutras maneiras, combinado ela e ele. Isto se suspeita, isto se cala, porque disto se distribuem igualmente as culpas.

José Saramago, Memorial do Convento. 1982

domingo, 11 de dezembro de 2011

À janela de Alexander Deineka

Alexander Deineka, The Model. 1936

Também com este quadro se pode estabelecer um curioso confronto, a partir de uma torsão equivalente do corpo da modelo, com este quadro de Henri Matisse, de 1907.

sábado, 10 de dezembro de 2011

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

A nova Casa dos Patudos

Abertura oficial, coma presença de Francisco José Viegas, da Casa dos Patudos requalificada. Cerca de um século depois da inauguração da obra de arquitectura (Raul Lino) e meio século após a conversão da antiga mansão em museu.
A requalificação do edifício, imperiosa pela degradação que ameaçava a sua estrutura, deve dar agora também ligar a uma requalificação museológica.
Em primeiro lugar, do discurso. O discurso museológico dos anos 60 ocultou o lugar do coleccionador e escondeu o do arquitecto. Alguma coisa já está feito, com a integração dos aposentos privados no circuito de visita, mas há ainda muito que fazer no que respeita à narrativa.
Em segundo lugar, do estudo. É preciso organizar o estudo sistemático da colecção, na sequência do esforço realizado já neste século pelas últimas direcções da Casa. Com a criação do Arquivo Histórico, é possível integrar as novas investigações e desenvolver um verdadeiro centro de investigação abrangendo diversas áreas de trabalho, desde a historia de arte à história política.
Em terceiro lugar, do aparelho técnico e da configuração institucional. O museu deverá evoluir em apetrechamento de recursos humanos e tecnológicos e encontrar, em concertação entre Estado, Autarquia e instancia regional, um novo desenho institucional, mais de acordo com a singularidade e riqueza da sua colecção e da sua dimensão nacional  internacional.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Caldas e Vizela

Vizela Foi na Loja do Júlio, onde (às vezes) me levam tardes de sábado, que pela primeira vez me deparei com a designação aplicada às termas de Vizela: "Rainha das Termas".
Tratava- se de uma publicação promocional que alias adquiri. Para um caldense das Caldas da Rainha, só há, evidentemente uma Rainha de Termas, ou melhor, duas, a D. Leonor e a cidade que ela fundou.
Ontem em Vizela, o general Cipriano Alves, ao interpelar- me como convidado do Rotary Club vizelense, aludiu também, em nostálgica evocação, ao título que a si própria no passado a hoje cidade de Vizela atribuiu.
Os processos de identificação e marquetingue territorial geram estes paralelismos, que em certas condições são também elementos de competição. Não me parece ser o caso de Vizela e Caldas da Rainha porque a localização distante entre si não convidava a disputa das mesmas clientelas.
Mas há a registar, de todo o modo, interessantes similitudes entre ambas. Em primeiro lugar, são termas da mesma tipologia de águas, indicadas para terapêuticas coincidentes, à cabeça das quais as das doenças do foro reumatismal. As referencias históricas bibliográficas, tanto da Química como da Medicina, são igualmente partilhadas, desde o século XVIII e bem assim os indícios que fazem remontar o seu conhecimento e utilização ao tempo dos romanos. Nos dois casos, o surto termal ocorreu no ultimo quartel do século XIX, em função de mudanças sociais e civilizacionais de que dei conta em diversos trabalhos históricos que publiquei.
Na abertura da pequena palestra que fiz em Vizela, abordei brevemente alguns destes aspectos. Mas há ainda um outro paralelismo circunstancial que não posso deixar de apontar. As Caldas, hoje da Rainha, eram, antes da autonomização municipal reconhecida em 1511, conhecidas por Caldas de Óbidos, a cujo termo pertenciam. As Caldas que mais tarde tomariam o nome de Vizela, davam anteriormente pelo nome de Caldas de... Guimarães (naturalmente).

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

À janela de Alexander Deineka

Girl at a window, 1931

Alexander Deineka, pintor russo (1899-1969) que me foi hoje "apresentado" por Henrique Cayatte.

O contraponto deste óleo pode ser o de Dali: Muchacha en la ventana, de 1925. À paisagem marítima do sul deste ultimo opõe-se a paisagem rural nevada do primeiro. Em vez da rapariga em pose sensual e de entrega de Dali, Deineka pinta uma rapariga quase masculina em pose rígida e distante. 

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Pós-gaullismo


As relações franco-alemãs no debate presidencial francês: Le Figaro ataca Hollande, a quem acusa de permanecer prisioneiro de um espírito “gaulois”, e exalta as concessões já obtidas por Sarcozy da chanceler Ângela Merkel. Hollande que, entretanto é acusado pelo Primeiro Ministro, François Fillon, um recém convertido ao Presidente, de agitar o espantalho do domínio alemão sobre a Europa.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Ontem


Cerca de 1h45 na fila para entrar no Grand Palais para a exposição “Matisse, Cézanne, Picasso: L’Aventure des Stein”. Tempo de chuva. À passagem da 1h30 de espera, alguma impaciência entre as linhas dianteiras.
As filas de espera para exposições permanentes ou temporárias devem constituir o único caso em que os cidadãos estão disponíveis, sem protesto algum, para aguardar uma ou duas horas em pé, no exterior dos edifícios (à chuva ou ao sol) para serem atendidos num guichet onde pagam entre 10 e 15 Euros por ingresso. 

domingo, 4 de dezembro de 2011

À janela de Agustina Bessa Luis

O facto de Ema frequentar muito a varanda provocava bastantes percalços. Ao desfazer a curva da estrada, era forçoso levantar os olhos para a figura ali debruçada; e não havia motorista que ficasse indiferente. O choque da beleza ofuscava-o, isto sem querer exagerar. Perdiam por momentos o controlo e eram rudemente projectados contra a parede; outras vezes chocavam de frente com o carro que subia em sentido contrário e que não tinha maneira de se desviar, posto que o muro da propriedade de Ema era uma espécie de baluarte com quatro metros de altura. Também acontecia atropelarem gatos e cães, ou seguirem em ziguezague até à recta seguinte, causando o pânico sobretudo entre os frequentadores da taberna do Alexandre da estrada, que vinha à porta, com a camisola manchada de vinho e o ar fleumático dum Poirot de tasca e ramada.
As coisas foram piorando e chegaram aos ouvidos das autoridades. Uma manhã, pelas onze horas e pico, o Paulino Cardeano teve a visita do presidente da Câmara em pessoa. Recebeu-o no salão de baixo, com móveis de jacarandá e um piano, verdadeiro monumento de respeitabilidade e de sensatez algo vertiginosa que há nos salões de província, com dois espelhos dourados e cinzeiros em forma de folha lanceolada, com uma ninfa de águas como remate. Como é que uma tal deidade celebra as exéquias dum cigarro ou dum havano, não é fácil de explicar. Mas ela lá está, vestida de verde, com cabelos soltos e muito parecida às senhoras de Klimt. O presidente da Câmara, um homem doentio e de grandes olhos esbraseados, por causa da fadiga e do nervosismo constante, entrou imediatamente no assunto.
- A sua filha é um perigo para o trânsito nesta estrada.
- O quê? – disse Cardeano, estupefacto.
- Desculpe-me pôr as coisas assim, mas é um facto.
O Cardeano pensou que os presidentes da Câmara são sempre desprovidos de substância interior, de tutano, de calor humano. Conhecera um que se chamava Homero e nada mais fazia senão prometer o saneamento nos lugarejos mais atrasados e acabar com os pobres. Era acometido por uma estranha fixação, a de agradar ao povo. Era nele como uma inferioridade, como se uma melodia interior o prevenisse dum fim inesperado.
- Não sei o que a minha filha… - ia a começar a dizer o Cardeano, mas o presidente interrompeu-o.
- Ela não tem culpa, é evidente. Mas aquela varanda é muito capaz de não estar bem colocada. Seria bom mudá-la de sítio.
- Mudar a varanda? – disse Cardeano. A sua pequena cabeça calva cobriu-se dum tom arroxeado que alarmou o presidente.
- Não digo isso. Não sei se me faço entender.
- Não percebo absolutamente nada.
Quando Cardeano usava o advérbio “absolutamente”, fazia-o como os advogados, para ganhar tempo. Estava perto de entrar na questão que tinha a ver com Ema à varanda. Seria ela causa de alguma cena imprópria? Se assim fosse, ele teria sido informado, de tal modo a casa era percorrida por um zumbido de novidades e de notícias de que nada escapava. Mas Ema, acima de tudo, era uma criança e comportava-se como tal. Falava tão alto da varanda que se podia ouvir até à curva, entre Fontelas de Cima e Fontelas de Baixo. Não tinha segredos nem sabia nada das maravilhas da vida. À cautela, Cardeano pediu explicações mais detalhadas.
- Não é nada de mal – disse o presidente, tomando o seu ar afável das sessões da vereação. Cruzou a perna e pediu licença para fumar. A ninfa verde, que podia autorizá-lo ou não, não foi consultada. – O certo é que esta curva já está a ser encarada como a curva da morte. Todos se despistam aqui, e o motivo é essa maldita varanda.
Não aludiu a Ema, mas Cardeano compreendeu, de repente, onde estava o carácter inteligível da questão. Ema era a causadora. Ao que parecia, o povo tinha apresentado queixa, mães e pais e esposas também, quanto à presença de Ema na varanda. Ela causava como que uma rápida resolução de jogar o carro contra o muro, gerando um procedimento irreversível.

Agustina Bessa-Luís, Vale Abraão, 1991. Lisboa, Guimarães Editores.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Mágica, sempre

À tarde, com chuva, vista da esplanada do Palácio Chaillot
À noite, iluminada, vista das imediações da Unesco
Pergunto-me se algures, numa das suas sapatas, não encontrarei um dia aquela porta que Woody Allen descobriu para passar da Paris de 2010 para a dos anos 20 do século XX.


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011


Hôtel Jacques Coeur (Bruges): Janelas cegas da fachada oriental (1443-1451)


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Paul Valéry, em 1932

Jamais l’humanité n’a reuni tant de puissance à tant de désarroi, tant de soucis et tant de jouets, tant de connaissances et tant d’incertitudes. L’inquiétude et la futilité se partagent nos jours.

Citado por Stéphane Hessel e Edgar Morin, Le Chemin de l’Espérance. Paris, Fayard, 2011. p. 8