Hoje, às 9 da manhã.
sábado, 31 de dezembro de 2011
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
terça-feira, 27 de dezembro de 2011
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
domingo, 25 de dezembro de 2011
sábado, 24 de dezembro de 2011
Feira de vaidades
Sem a menor respeito nem por uma ética da responsabilidade nem sequer pela elementar verdade. Foi um mostruário de vaidades feridas, esta semana. Todos, um por um e sem excepção.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
Registo
Elogio da cidade
O programa de
Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura desenvolve uma agenda de cidade e preenche
um lugar de cultura. Na rede de percursos que cruzam cidade, cultura e Europa,
o programa sublinha o nó formado por Guimarães.
A singularidade
de uma cidade é irredutível, ao mesmo tempo que remete para todas as cidades.
Como na teoria do holograma, a identidade de uma cidade, não contendo toda a
informação sobre o conjunto de que faz parte, encerra todavia informação
pertinente sobre aquele a cuja escala se situa.
Trata-se de uma
cidade que valoriza o património comum. Produto da história, o património é em
primeiro lugar uma soma: de criações inscritas no tempo, de olhares aplicados
por gerações, de narrativas sucessivamente imaginadas e sobrepostas. O património
comum é o resultado de uma cumplicidade, não só com o passado, mas também com o
futuro. Sem o património comum, a cidade estaria condenada a começar sempre tudo
de novo, a inventar do nada.
Compreender o
legado para poder transformar, dialogar com a diversidade das heranças é a
condição fundamental para assegurar a mudança, a metamorfose, no sentido que
lhe empresta Edgar Morin (a metamorfose é uma transformação que se articula com
a conservação: da vida, da herança cultural).
O património
comum revela, em Guimarães, um impulso regenerador. A cidade combina as
representações do seu papel na construção de uma autonomia política precoce, com
as marcas de uma ocupação, conduzida por unidades de produção industrial e pela
tecnologia, de um território rasgado por cursos de água. Perscrutar esta
história é destacar a incidência dos processos da inovação ao longo dos últimos
dois séculos e sondar o campo das possibilidades do futuro. Se o tempo traz
destruição, é esta que impele a reconstrução, que convoca a inovação.
O património
comum compromete o cidadão e revigora a
cidadania. Porque garante a liberdade de criar, que como se sabe nem
vive no caos nem sobrevive sob o autoritarismo. O sentido da identidade é
pertença e é partilha, e esta só se cumpre plenamente na dimensão do espaço
público, de uso colectivo e democrático.
Guimarães 2012
propõe um programa cultural assente nesta cidade, lida desta forma. Esse
programa não constitui uma nova narrativa, mas um ensaio sobre a narrativa
disponibilizada pela cidade, descobrindo as linhas de que se tece e
submetendo-as à tensão do projecto de criação em contexto, da residência
artística, do confronto das visões e tendências contemporâneas.
A regeneração
das sociedades e das economias supõe uma recomposição do lugar do urbano e do
papel das cidades. É aí que a cultura desempenha essa função de operador que
estabelece conexões que já lhe foi assinalada. Conexões entre espaços e modos
de vida, entre organizações, entre grupos sociais, entre percepções colectivas.
Contra a separação, o isolamento, a fragmentação e, claro, o discurso da fronteira, do medo e do ódio.
O programa
cultural de Guimarães 2012 parte do inventário dos conectores de que a cidade
já se ocupa. Não os substitui, pretende contribuir para o seu reforço, um
sistema onde algumas tarefas exigem um alto nível de especialização e de
recurso tecnológicos adequados e, naturalmente, níveis de intervenção de
proximidade diversificada.
Reserva de
imaginário, a cultura permitirá, nas cidades da escala de Guimarães compreender
mais de perto o património comum e incentivar o seu papel como fonte de
modernidade. Reserva de experiencia de comunicação e de interacção, a cultura
será, nas cidades da escala de Guimarães, um factor essencial de humanização
das sociedades.
João Serra
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
domingo, 18 de dezembro de 2011
À janela de Raul Brandão
As filhas de D. Carlota Joaquina, com excepção de duas, eram
tal qual como a mãe.
O Camara conta que a duqueza de Loulé, que foi
casada com o mais lindo homem do seu tempo, estava um dia, em solteira, á
janella, quando o conde de Vimioso passou a cavallo para os touros,
já vestido de
oiro e prata. Ella chamou-o, trocaram meia duzia de
palavras, elle subiu - e depois desceu e foi tourear...
Raul Brandão, Memórias. 1919
sábado, 17 de dezembro de 2011
sexta-feira, 16 de dezembro de 2011
Registo
A “Cidade da
Muralha”
A exposição “A
Cidade da Muralha” cumpre, no contexto da Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, um triplo papel.
Dá resposta a um
dos objectivos centrais do projecto, o de contribuir para uma redescoberta de
Guimarães, dos seus construtores, das suas instituições e da sua memória
material e imaterial.
Converte em documento
público uma riquíssima colecção documental, até agora sob ameaça de deterioração
e esquecimento.
Participa, de
forma própria, e cremos que significativa, na celebração convocada pela
passagem de uma década sobre o reconhecimento pela Unesco do centro histórico
vimaranense como Património da Humanidade.
As cidades têm
uma história. Esta afirmação banal contraria de alguma forma o senso comum,
baseado numa experiência quotidiana que valoriza a continuidade e a
permanência. É a história – alimentada pelas memórias das gerações mais antigas
e pelos documentos analiticamente tratados – que assinala a ruptura e põe em
evidência os processos e os momentos da transformação.
Neste sentido,
esta exposição permite-nos descobrir a Guimarães de há uma centena de anos,
anotando a mudança do espaço urbano, dos seus edifícios, praças e ruas e até
dos seus utentes. Podemos identificar as diferenças, em resultado de intervenções
públicas ou privadas, eventualmente pesar e debater o respectivo resultado e,
desse modo, reforçar a cultura histórica como produto de uma reflexão baseada
em registos autênticos.
Mas, como sugere
o título do projecto em que se integra, a “A Cidade da Muralha” constitui um
bom pretexto para se imaginar Guimarães. Ou melhor, para se “re-imaginar”
Guimarães. Primeiramente, porque o acto de reconhecimento do passado, nos seus
vestígios materiais, é sempre um acto de projecção sobre o que não existe, de
reconstituição do passado. Mas porque podemos saber o que se passou, esse acto
de adivinhação do passado envolve a nossa percepção do presente e a nossa
ambição de futuro. Re-imaginar a cidade do ontem é também imaginar a cidade de
amanhã.
João Serra
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Música
A minha incapacidade de cantar ou tocar um instrumento é humilhante. Mas é frequente a música pôr-me "fora de mim", ou, mais exactamente, numa companhia muito melhor do que a minha. Materializa o oximoro do amor, essa fusão de dois indivíduos na unicidade, sendo que cada um deles, mesmo no momento do uníssono espiritual e sexual, conserva e enriquece a sua identidade. Ouvir música com o ser amado é estar numa condição simultaneamente privada, quase autista, e todavia estranhamente envolvida com o outro (a leitura a dois em voz alta não atinge o mesmo grau de fusão). Daí que a colaboração interactiva, como sucede entre a voz e o piano num "Lied" ou a execução de um quarteto de cordas, seja talvez o fenómeno mais intrincado de todo o Planeta, absolutamente arisco a qualquer análise. Aliás, uma vez que cada incidência deste fenómeno é irrepetível, é bem possível que seja mais complexo do que a dança das galáxias. Uma caixa de música envernizada, uma tripa de gato ou um arame, um martelo com ponta de feltro, a inflexão do pulso do intérprete, a vibração das cordas vocais geram ondas cujas curvas e função algébrica podemos, efectivamente traçar, mas cujos "significantes", cujo poder de transformar os estados físicos e psíquicos, não podemos explicar. Pelo que suponho serem forças fundamentalmente "des"-humanas.
É por isso que as interacções entre a música e as outars artes, entre a música e a poesia, são sempre fascinantes. Na grécia pré-clássica, o filósofo podia ser também um rapsodo. Cantava os seus pensamentos. Os argumentos filosóficos desde a antiguidade até aos nossos dias - de Platão, de Nietzsche, por vezes de Wittgenstein - podem ter uma cadência e musicalidade distintas. As afirmações de que a arquitectura é "música congelada", de que a poesia aspira à condição da música enquanto tautologia perfeita de forma e conteúdo (senso que na música a forma é o conteúdo e vice-versa), são imagens que exprimem verdades profundamente sentidas, mas não fundadas na razão. Quem pode definir a "alma"? Mas quem é que não percebe intuitivamente a apóstrofe de Shakespeare contra aqueles que não têm "música na alma", uma ideia cristalizada pela designação "música soul"?
George Steiner, Errata. Revisões de uma Vida. Lisboa, Relógio D'Agua, 2001, p. 96-97
George Steiner, Errata. Revisões de uma Vida. Lisboa, Relógio D'Agua, 2001, p. 96-97
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Registo
Apresentação do programa
Abrimos hoje aqui,
simbolicamente, neste antigo espaço industrial, um novo ciclo de Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura.
Estamos todos convidados a
entrar, a tomar parte.
É o ciclo do acontecer, do dar
vida ao projecto, o ciclo da criação e da apropriação. O ciclo do fazer e do fazer parte.
Num espaço que corresponde a uma das
linhas de intervenção programática mais inovadoras da Capital Europeia da Cultura.
Exactamente no dia seguinte à celebração do Património da Humanidade, um
acontecimento que concentra tudo o que de melhor a cidade de Guimarães soube sonhar e conquistar.
É altura de convidar e de
agradecer. À
Cidade que exigiu, criticou, apoiou e confiou. À Câmara Municipal de Guimarães que se empenhou, colaborou
sem desfalecimentos e estimulou. Ao movimento associativo que participou. Aos
colaboradores da Capital Europeia da Cultura, onde cooperam hoje membros da
Fundação
Cidade de Guimarães e
da cooperativa A Oficina.
Para trás fica um ciclo de preparação e elaboração da candidatura, que decorreu
entre Outubro de 2006 e Julho de 2009. Aí se delinearam conceitos-base, se apontaram objectivos e se
definiram projectos estruturantes. Os responsáveis políticos, da autarquia
vimaranense e do Estado português, acordaram então num modelo institucional e financeiro e de distribuição de responsabilidades na
concretização do
projecto.
A Fundação Cidade de Guimarães, criada em consequência recebeu do Município de Guimarães e do Governo, em Setembro
de 2009, a missão de
conceber e executar o programa cultural da Guimarães 2012. Formou-se uma equipa
de programação,
entrou-se no ciclo do planeamento que ocupou o ano de 2010.
Os resultados desse trabalho foram
apresentados ao longo do primeiro semestre deste ano, e foram defendidos com êxito perante o Painel de
Acompanhamento de Bruxelas. A apreciação do Painel traduziu-se na atribuição a Guimarães 2012 do Prémio Melina Mercouri.
Era então a altura de fixar o modelo
de implementação e
produção do
programa, questão
complexa que mobilizou a intervenção da Câmara e do Conselho Geral da Fundação.
A reorientação estratégica conduzida pelos órgãos da Fundação nos últimos cinco meses, em
articulação
com as tutelas, permitiu ganhar um novo fôlego para a estrutura de produção da Capital Europeia da
Cultura, entretanto conjugada com a Oficina, com as suas componentes de direcção identificadas e alinhadas
por objectivos comuns. Enfrentaram-se as dificuldades imprevistas e reencontrou-se o fio discursivo da
cidade.
Importa neste momento passar
em revista os elementos que caracterizaram a candidatura, aos quais o programa
agora apresentado procurou ser fiel e responder de forma criteriosa.
A candidatura indicava como
compromissos principais:
1º - Capacitar a comunidade
local com novos recursos e competências, estimulando o seu envolvimento activo no projecto.
O programa da CEC 2012
apresenta um leque diversificado de acções visando os sectores mais desmunidos culturalmente, bem
como a comunidade educativa, assegurando uma participação exigente do tecido
associativo de Guimarães e da região. O mandato conferido ao consórcio associativo vimaranense
exemplifica-o.
Aprofundou parcerias com a
Universidade do Minho e desenvolveu acções de formação em domínios artísticos e culturais. Fortaleceu e somou novas valências à rede de equipamentos
culturais de que a cidade já dispunha.
2º - Valorizar a qualidade de
vida urbana, transformando um espaço de preservação da memória num espaço de permanente oferta de novas experiências culturais.
O programa da CEC 2012
aplicou-se de forma particular em garantir este compromisso, qualificando a
oferta cultural, tanto no plano das propostas artísticas como das estruturas de
apoio à criação e à exibição. Teve em atenção as oportunidades constituídas pelo espaço público e as preocupações de regeneração urbana.
3º - Transformar a economia da
cidade, incentivando uma economia criativa, internacionalmente competitiva e
geradora de novo emprego.
O programa da CEC 2012 apoiou
este compromisso da candidatura com particular empenho. Criou uma área de programação com esse fim de ligar pessoas,
lugares e empresas. Principiou aliás pelas pessoas, lançando ainda em 2011 acções de valorização de competências no domínio do empreendedorismo. Não descurou a plataforma
internacional em que deverá ocorrer a valorização da cidade, através de projectos centrados em redes de cidades onde Guimarães possa ter um papel
preponderante ou mesmo liderante.
Neste domínio, ninguém espere que os resultados
sejam volumosos e imediatos, porque o que importa é gerar a um ambiente favorável a ideias com valor económico. Vai neste sentido, por
exemplo, a conversão de dois espaços industriais, num os quais estamos agora, em espaços de criação e exibição.
Uma economia criativa não assenta apenas em novos sectores,
deve tocar os sectores tradicionais. Múltiplas acções estão previstas neste âmbito: moda, design, têxtil, artesanato atravessam a programação da Capital Europeia da
Cultura 2012.
Enfim, para 2012, Guimarães foi apontado como um dos
principais destinos turísticos, por diversos Guias prestigiados, como o do New York
Times ou o Lonely Planet. A valorização turística de Guimarães e, de forma integrada, do comércio local, é já um adquirido da marca Capital
Europeia da Cultura.
O exercício de programação de Guimarães 2012 cumpriu o alinhamento
com os desígnios
da política
cultural da cidade, tal como requeria a candidatura: cuida da memória singular e do património, qualifica a cidade e a
região,
valoriza as pessoas e as suas organizações. Concebe a cidade como um ponto de encontro, atribuindo
ao espaço público um papel tranversal e
unificador. Percebe a cultura como motor de regeneração urbana. Compatibiliza a história com a contemporaneidade,
adoptando uma leitura do território como um processo de construção, destruição, rconstrução, em que as marcas do tempo são entendidas como suportes de
uma inteligência
colectiva e de um desejo de futuro. Declina o principio do “face to face”, confrontando visões e pontos de partida, espaços e tempos, imaginários e gerações, interior e exterior, que
tanto pode ser detectado no eixo profissional/amador, como no global/local,
como no contemporâneo/histórico ou no criativo/educativo.
Pretende-se inclusiva, em relação à comunidade concreta que abarca e em relação aos actores locais, sem
deixar de ser aberta à colaboração e à nova criação, e garantindo a relevância internacional.
Entregamos hoje formalmente à cidade o programa que resulta
da missão que
nos foi cometida. Nele se dá expressão aos projectos que a candidatura destacava: o reforço dos festivais da cidade, a
valorização
dos contributos de Guimarães - os seus pensadores, artistas, empreendedores - para a
Europa e o Mundo; o reconhecimento do lugar da cultura popular sem perda do
destaque a conferir à cultura urbana; o recurso a modalidades de colaboração criativa entre Guimarães e outros cidades
portuguesas e europeias, nomeadamente Maribor.
Estamos convictos de que o
programa não só respeita integralmente a candidatura
como dá
sentido ao que de mais estimulante ela propunha: interpretar um programa
europeu de forma a, com ele e através dele, qualificar a cidade no médio e longo prazo.
Guimarães 2012 dá vida a um programa europeu de
forma coerente. A coerência afere-se na relação com a candidatura e na relação com o tempo presente e os
desafios às
cidades de pequena e média dimensão.
O programa que elaboramos é um programa de cidade e da
cidade, de Guimarães. Não é um programa desta ou daquela
instituição,
desta ou daquela geração, desta ou daquela visão particular. É um programa das pessoas e
para as pessoas, dos lugares e para os lugares, das competências e para as competências de que se faz uma
cidade. Não é um programa de compromisso
com os grandes públicos,
é um programa de compromisso
com a cidade.
Guimarães será, depois deste programa, uma
das cidades mais bem preparadas para compreender os desafios futuros na área da cultura e actuar sobre
eles. Durante um ano fará a experiência de construir uma orquestra internacional. No final de
2012 terá três novos cursos de nível superior: Design, Artes
Performativas e Artes Visuais. Disporá de uma Plataforma das Artes com um acervo de referencia
internacional e módulos
atractivos para artistas emergentes. Terá mudado qualitativamente as estruturas de produção teatral e do audiovisual.
Quantas cidades portuguesas disporão em 2013, de uma estrutura de produção audiovisual com a experiência de produção de várias dezenas de filmes? Guimarães terá acumulado, ao longo de uma ano,
uma das mais ricas experiências de curadoria artística internacional, aqui exactamente no espaço ASA. Terá reforçado, a um plano sem paralelo,
o serviço
educativo da área
das artes e da cultura e aumentado substancialmente o património editorial com referencia a
Guimarães.
É por isso que comparar este
projecto de Guimarães 2012 com qualquer outro não é muito pertinente. Guimarães 2012 não se limitou a aproveitar uma
oportunidade para aumentar a notoriedade de Guimarães ou a qualificar a oferta
cultural existente, mas combina o reforço do património comum com um impulso regenerador.
Trata-se de uma nova agenda
para as Capitais Europeias da
Cultura. O empreendedorismo, o design, a economia criativa são novas agendas. A regeneração – urbana, económica, social – é uma nova agenda. A acção programática pelo lado das estruturas
de produção
artística
é uma nova agenda. A vinculação entre o ensino superior e as
artes e o design é uma
nova agenda. A adopção de uma programação orientada pela leitura do local e não determinada pela intermediação é uma nova agenda. A prioridade
à residência, à criação em contexto, ao serviço educativo é uma nova agenda.
Esta agenda, pensamos, é a que melhor se adequa ao
papel das cidades, sobretudo das cidades de pequeno e médio porte, na Europa destes
tempos sombrios e esquinados.
Guimarães 2012, com a sua agenda
nova, representa um contributo singular, sem paralelo e relevante para a Europa
de que somos parte.
João Serra
João Serra
Registo
Conferência de Imprensa
Com a apresentação hoje do programa/agenda da Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, entramos no ciclo do fazer acontecer.
Para trás ficam os ciclos da programação e planeamento e da montagem de um estrutura de produção. Mais atrás ainda fica o ciclo da preparação da candidatura que decorreu entre 2006 e 2009.
A sucessão de ciclos não foi conduzidas pelas mesmas instituições nem teve sempre os mesmo protagonistas e interlocutores. Mas é justo reconhecer que o fio condutor foi encontrado e assegurado pela cidade e pela Câmara que soube estimular, apoiar, reflectir, discutir, elaborar propostas a respeito da orientação estratégica da Capital Europeia da Cultura.
Ao devolver o programa à cidade, o que podemos hoje garantir?
Em primeiro lugar que o programa é coerente. Coerente com os pressupostos e compromissos desenhados pela candidatura: capacitação dos recursos endógenos; requalificação da cultura urbana; abertura de espaço para a economia criativa.
Estamos convictos de que todos estes objectivos estão contemplados no programa que vos apresentamos. Coerente também com a leitura que fazemos da situação europeia e do papel que as redes de cidades de pequeno e médio porte podem desempenhar. O programa fez, a este respeito, uma opção clara: reforçar a rede de equipamentos culturais, a experiência de programação, a capacidade de atracção de talento, a disponibilidade de centros de formação e de produção artística.
É um programa todo ele elaborado em articulação com as estruturas de produção e exibição da cidade, implicando o movimento associativo e assente em praticas de residência e criação em contexto. É um programa de revalorização da oferta cultural, elaborado a partir de agencias de intermediação e circulação, mas assente na colaboração e na cooperação. Este programa assim delineado, com projectos amadurecidos em processos bottom up, é o que, no nosso entender, melhor serve a cidade de Guimarães e atrevemos-nos a pensar também as cidades como Guimarães.
Esta Capital Europeia da Cultura não tem equivalente. Adopta um conjunto de novas agendas: A agenda educativa reconhece que as sociedades actuais em mutação e em rede são exigem não apenas a presença continua da educação ao longo da vida como um transito permanente entre formação e trabalho, entre aprendizagem e actividade técnica, entre educação e cidadania.
A agenda educativa permite reforçar competências formais e informais, tanto na escola como em sectores desmunidos culturalmente, tanto nos níveis básico como superior da educação formal.
A agenda da criação artística que dá prioridade à curadoria sobre o colecção, ao cruzamento interdisciplinar, ao processo e ao contexto criativos em detrimento do autor, que se ocupa mais de audiências que de públicos, que põe em equação as novas linguagens, que se ocupa de como fazer onde fazer.
A agenda da economia criativa, que liga pessoas, lugares e empresas , que suscita e acompanha as ideias com valor económico, que actua não apenas em novos sectores mas também em sectores tradicionais, como o artesanato, que melhora a atractividade e competitividade do território em matéria de turismo cultural.
Guimarães será, depois deste programa, uma das cidades mais bem preparadas para compreender os desafios futuros na área da cultura e actuar sobre eles.
João Serra
Com a apresentação hoje do programa/agenda da Guimarães 2012 Capital Europeia da Cultura, entramos no ciclo do fazer acontecer.
Para trás ficam os ciclos da programação e planeamento e da montagem de um estrutura de produção. Mais atrás ainda fica o ciclo da preparação da candidatura que decorreu entre 2006 e 2009.
A sucessão de ciclos não foi conduzidas pelas mesmas instituições nem teve sempre os mesmo protagonistas e interlocutores. Mas é justo reconhecer que o fio condutor foi encontrado e assegurado pela cidade e pela Câmara que soube estimular, apoiar, reflectir, discutir, elaborar propostas a respeito da orientação estratégica da Capital Europeia da Cultura.
Ao devolver o programa à cidade, o que podemos hoje garantir?
Em primeiro lugar que o programa é coerente. Coerente com os pressupostos e compromissos desenhados pela candidatura: capacitação dos recursos endógenos; requalificação da cultura urbana; abertura de espaço para a economia criativa.
Estamos convictos de que todos estes objectivos estão contemplados no programa que vos apresentamos. Coerente também com a leitura que fazemos da situação europeia e do papel que as redes de cidades de pequeno e médio porte podem desempenhar. O programa fez, a este respeito, uma opção clara: reforçar a rede de equipamentos culturais, a experiência de programação, a capacidade de atracção de talento, a disponibilidade de centros de formação e de produção artística.
É um programa todo ele elaborado em articulação com as estruturas de produção e exibição da cidade, implicando o movimento associativo e assente em praticas de residência e criação em contexto. É um programa de revalorização da oferta cultural, elaborado a partir de agencias de intermediação e circulação, mas assente na colaboração e na cooperação. Este programa assim delineado, com projectos amadurecidos em processos bottom up, é o que, no nosso entender, melhor serve a cidade de Guimarães e atrevemos-nos a pensar também as cidades como Guimarães.
Esta Capital Europeia da Cultura não tem equivalente. Adopta um conjunto de novas agendas: A agenda educativa reconhece que as sociedades actuais em mutação e em rede são exigem não apenas a presença continua da educação ao longo da vida como um transito permanente entre formação e trabalho, entre aprendizagem e actividade técnica, entre educação e cidadania.
A agenda educativa permite reforçar competências formais e informais, tanto na escola como em sectores desmunidos culturalmente, tanto nos níveis básico como superior da educação formal.
A agenda da criação artística que dá prioridade à curadoria sobre o colecção, ao cruzamento interdisciplinar, ao processo e ao contexto criativos em detrimento do autor, que se ocupa mais de audiências que de públicos, que põe em equação as novas linguagens, que se ocupa de como fazer onde fazer.
A agenda da economia criativa, que liga pessoas, lugares e empresas , que suscita e acompanha as ideias com valor económico, que actua não apenas em novos sectores mas também em sectores tradicionais, como o artesanato, que melhora a atractividade e competitividade do território em matéria de turismo cultural.
Guimarães será, depois deste programa, uma das cidades mais bem preparadas para compreender os desafios futuros na área da cultura e actuar sobre eles.
João Serra
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
Registo
Memória das obras do Toural
Ao longo de quase um ano, Nuno Miguel Borges seguiu atentamente as obras de requalificação do Toural. Sabia que se tratava de um projecto de intervenção numa das artérias mais sensíveis da cidade. Não ignorava a polémica suscitada por um primeiro projecto, cuja discussão pública determinara o seu abandono. Tinha a noção de que as remodelações urbanísticas, mesmo as das áreas centrais das cidades, fazendo embora parte da história das cidades, representam uma ruptura com perspectivas arreigadas e causam perturbação no quotidiano dos cidadãos.
Quando submeteu o seu projecto de um livro à apreciação da Fundação Cidade de Guimarães, deixou claro que pretendia um apoio que o viabilizasse, não uma adopção. Delineou a pesquisa e as recolhas de imagem, criou a logística, escolheu e contratou a fotógrafa e outros colaboradores. O livro daí resultante conterá uma história do Toural, resultado de uma investigação especializada e um registo do processo de intervenção nele realizado ao longo do ano de 2011.
Esta exposição mostra algumas das fotografias que integram esse livro, a editar em breve. São fotografias documentais, ilustrando a interacção de homens e máquinas, de técnicos e operários com o espaço urbano. Contam também uma outra história. A história dos olhares que se cruzaram com as próprias intervenções desenhadas pelos arquitectos e executados pelos trabalhadores. Esses olhares vimaranenses exprimem aplauso, ou dúvida, crítica ou concordância. São os olhares das testemunhas participantes. Atestam como, apesar de subtraído à sua ocupação normal, o Toural continuou a ser um espaço público, ou seja um espaço de uso colectivo, de encontro e convivência. Essa a sua força, que a objectiva de Rita Burmester tão bem captou e transmite.
João Serra
Ao longo de quase um ano, Nuno Miguel Borges seguiu atentamente as obras de requalificação do Toural. Sabia que se tratava de um projecto de intervenção numa das artérias mais sensíveis da cidade. Não ignorava a polémica suscitada por um primeiro projecto, cuja discussão pública determinara o seu abandono. Tinha a noção de que as remodelações urbanísticas, mesmo as das áreas centrais das cidades, fazendo embora parte da história das cidades, representam uma ruptura com perspectivas arreigadas e causam perturbação no quotidiano dos cidadãos.
Quando submeteu o seu projecto de um livro à apreciação da Fundação Cidade de Guimarães, deixou claro que pretendia um apoio que o viabilizasse, não uma adopção. Delineou a pesquisa e as recolhas de imagem, criou a logística, escolheu e contratou a fotógrafa e outros colaboradores. O livro daí resultante conterá uma história do Toural, resultado de uma investigação especializada e um registo do processo de intervenção nele realizado ao longo do ano de 2011.
Esta exposição mostra algumas das fotografias que integram esse livro, a editar em breve. São fotografias documentais, ilustrando a interacção de homens e máquinas, de técnicos e operários com o espaço urbano. Contam também uma outra história. A história dos olhares que se cruzaram com as próprias intervenções desenhadas pelos arquitectos e executados pelos trabalhadores. Esses olhares vimaranenses exprimem aplauso, ou dúvida, crítica ou concordância. São os olhares das testemunhas participantes. Atestam como, apesar de subtraído à sua ocupação normal, o Toural continuou a ser um espaço público, ou seja um espaço de uso colectivo, de encontro e convivência. Essa a sua força, que a objectiva de Rita Burmester tão bem captou e transmite.
João Serra
À janela de Tibaldi
Pellegrino Tibaldi (Atribuido a), Mujer en una ventana, vertiendo agua de una jarra sobre la cabeza de un anciano con barba, que sostiene con ambas manos un libro abierto, que una joven intenta coger. Segunda mitad del siglo XVI.
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
À janela de Saramago
Por trás das janelas acabam as damas de armar os penteados,
enormes fábricas de luzimentos e postiços, daqui a pouco vêm pôr-se em
exposição à janela, nenhuma vai querer ser a primeira, é certo que
imediatamente atrairia os olhares de quem passa ou se mostra na rua, mas esse gosto
tão depressa vem, logo é perdido porque, ao abrir-se a janela da casa em frente
e nela aparecendo dama que por ser vizinha é rival, desviam-se os olhares de
quem me estiver contemplando, ciúme que não suporto, tanto mais que ela é
mesquinhamente feia e eu divinamente bela, ela tem a boca grande e a minha é um
botão, e antes que ela o diga, digo eu, Vai mote. Para este torneio estão mais
bem servidas as que moram nos andares baixos, logo ali se põem os galantes a
retorcer o mote nos bestuntos, palpitando a métrica e a rima, mas entretanto,
do alto do prédio, outro mote desceu, gritado para bem se ouvir, enquanto o
primeiro poeta diz para cima a glosa enfim armada, e os outros, de raiva e
despeito, miram frios o concorrente que já recebe as graças da dama,
suspeitando de estarem combinados glosa e mote por se haverem, doutras
maneiras, combinado ela e ele. Isto se suspeita, isto se cala, porque disto se
distribuem igualmente as culpas.
José Saramago, Memorial do Convento. 1982
domingo, 11 de dezembro de 2011
À janela de Alexander Deineka
sábado, 10 de dezembro de 2011
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
A nova Casa dos Patudos
Abertura oficial, coma presença de Francisco José Viegas, da Casa dos Patudos requalificada. Cerca de um século depois da inauguração da obra de arquitectura (Raul Lino) e meio século após a conversão da antiga mansão em museu.
A requalificação do edifício, imperiosa pela degradação que ameaçava a sua estrutura, deve dar agora também ligar a uma requalificação museológica.
Em primeiro lugar, do discurso. O discurso museológico dos anos 60 ocultou o lugar do coleccionador e escondeu o do arquitecto. Alguma coisa já está feito, com a integração dos aposentos privados no circuito de visita, mas há ainda muito que fazer no que respeita à narrativa.
Em segundo lugar, do estudo. É preciso organizar o estudo sistemático da colecção, na sequência do esforço realizado já neste século pelas últimas direcções da Casa. Com a criação do Arquivo Histórico, é possível integrar as novas investigações e desenvolver um verdadeiro centro de investigação abrangendo diversas áreas de trabalho, desde a historia de arte à história política.
Em terceiro lugar, do aparelho técnico e da configuração institucional. O museu deverá evoluir em apetrechamento de recursos humanos e tecnológicos e encontrar, em concertação entre Estado, Autarquia e instancia regional, um novo desenho institucional, mais de acordo com a singularidade e riqueza da sua colecção e da sua dimensão nacional internacional.
A requalificação do edifício, imperiosa pela degradação que ameaçava a sua estrutura, deve dar agora também ligar a uma requalificação museológica.
Em primeiro lugar, do discurso. O discurso museológico dos anos 60 ocultou o lugar do coleccionador e escondeu o do arquitecto. Alguma coisa já está feito, com a integração dos aposentos privados no circuito de visita, mas há ainda muito que fazer no que respeita à narrativa.
Em segundo lugar, do estudo. É preciso organizar o estudo sistemático da colecção, na sequência do esforço realizado já neste século pelas últimas direcções da Casa. Com a criação do Arquivo Histórico, é possível integrar as novas investigações e desenvolver um verdadeiro centro de investigação abrangendo diversas áreas de trabalho, desde a historia de arte à história política.
Em terceiro lugar, do aparelho técnico e da configuração institucional. O museu deverá evoluir em apetrechamento de recursos humanos e tecnológicos e encontrar, em concertação entre Estado, Autarquia e instancia regional, um novo desenho institucional, mais de acordo com a singularidade e riqueza da sua colecção e da sua dimensão nacional internacional.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Caldas e Vizela
Vizela
Foi na Loja do Júlio, onde (às vezes) me levam tardes de sábado, que pela primeira vez me deparei com a designação aplicada às termas de Vizela: "Rainha das Termas".
Tratava- se de uma publicação promocional que alias adquiri. Para um caldense das Caldas da Rainha, só há, evidentemente uma Rainha de Termas, ou melhor, duas, a D. Leonor e a cidade que ela fundou.
Ontem em Vizela, o general Cipriano Alves, ao interpelar- me como convidado do Rotary Club vizelense, aludiu também, em nostálgica evocação, ao título que a si própria no passado a hoje cidade de Vizela atribuiu.
Os processos de identificação e marquetingue territorial geram estes paralelismos, que em certas condições são também elementos de competição. Não me parece ser o caso de Vizela e Caldas da Rainha porque a localização distante entre si não convidava a disputa das mesmas clientelas.
Mas há a registar, de todo o modo, interessantes similitudes entre ambas. Em primeiro lugar, são termas da mesma tipologia de águas, indicadas para terapêuticas coincidentes, à cabeça das quais as das doenças do foro reumatismal. As referencias históricas bibliográficas, tanto da Química como da Medicina, são igualmente partilhadas, desde o século XVIII e bem assim os indícios que fazem remontar o seu conhecimento e utilização ao tempo dos romanos. Nos dois casos, o surto termal ocorreu no ultimo quartel do século XIX, em função de mudanças sociais e civilizacionais de que dei conta em diversos trabalhos históricos que publiquei.
Na abertura da pequena palestra que fiz em Vizela, abordei brevemente alguns destes aspectos. Mas há ainda um outro paralelismo circunstancial que não posso deixar de apontar. As Caldas, hoje da Rainha, eram, antes da autonomização municipal reconhecida em 1511, conhecidas por Caldas de Óbidos, a cujo termo pertenciam. As Caldas que mais tarde tomariam o nome de Vizela, davam anteriormente pelo nome de Caldas de... Guimarães (naturalmente).
Tratava- se de uma publicação promocional que alias adquiri. Para um caldense das Caldas da Rainha, só há, evidentemente uma Rainha de Termas, ou melhor, duas, a D. Leonor e a cidade que ela fundou.
Ontem em Vizela, o general Cipriano Alves, ao interpelar- me como convidado do Rotary Club vizelense, aludiu também, em nostálgica evocação, ao título que a si própria no passado a hoje cidade de Vizela atribuiu.
Os processos de identificação e marquetingue territorial geram estes paralelismos, que em certas condições são também elementos de competição. Não me parece ser o caso de Vizela e Caldas da Rainha porque a localização distante entre si não convidava a disputa das mesmas clientelas.
Mas há a registar, de todo o modo, interessantes similitudes entre ambas. Em primeiro lugar, são termas da mesma tipologia de águas, indicadas para terapêuticas coincidentes, à cabeça das quais as das doenças do foro reumatismal. As referencias históricas bibliográficas, tanto da Química como da Medicina, são igualmente partilhadas, desde o século XVIII e bem assim os indícios que fazem remontar o seu conhecimento e utilização ao tempo dos romanos. Nos dois casos, o surto termal ocorreu no ultimo quartel do século XIX, em função de mudanças sociais e civilizacionais de que dei conta em diversos trabalhos históricos que publiquei.
Na abertura da pequena palestra que fiz em Vizela, abordei brevemente alguns destes aspectos. Mas há ainda um outro paralelismo circunstancial que não posso deixar de apontar. As Caldas, hoje da Rainha, eram, antes da autonomização municipal reconhecida em 1511, conhecidas por Caldas de Óbidos, a cujo termo pertenciam. As Caldas que mais tarde tomariam o nome de Vizela, davam anteriormente pelo nome de Caldas de... Guimarães (naturalmente).
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
À janela de Alexander Deineka
Girl at a window, 1931
Alexander Deineka, pintor russo (1899-1969) que me foi hoje "apresentado" por Henrique Cayatte.
O contraponto deste óleo pode ser o de Dali: Muchacha en la ventana, de 1925. À paisagem marítima do sul deste ultimo opõe-se a paisagem rural nevada do primeiro. Em vez da rapariga em pose sensual e de entrega de Dali, Deineka pinta uma rapariga quase masculina em pose rígida e distante.
O contraponto deste óleo pode ser o de Dali: Muchacha en la ventana, de 1925. À paisagem marítima do sul deste ultimo opõe-se a paisagem rural nevada do primeiro. Em vez da rapariga em pose sensual e de entrega de Dali, Deineka pinta uma rapariga quase masculina em pose rígida e distante.
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
Pós-gaullismo
As relações franco-alemãs no debate presidencial francês: Le Figaro ataca Hollande, a quem acusa de permanecer prisioneiro de um espírito “gaulois”, e exalta as
concessões já obtidas por Sarcozy da chanceler Ângela Merkel. Hollande que, entretanto é acusado
pelo Primeiro Ministro, François Fillon, um recém convertido ao Presidente, de
agitar o espantalho do domínio alemão sobre a Europa.
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Ontem
Cerca de 1h45 na fila para entrar no Grand Palais para a
exposição “Matisse, Cézanne, Picasso: L’Aventure des Stein”. Tempo de chuva. À
passagem da 1h30 de espera, alguma impaciência entre as linhas dianteiras.
As filas de espera para exposições permanentes ou
temporárias devem constituir o único caso em que os cidadãos estão disponíveis, sem protesto algum, para aguardar uma ou duas horas em pé, no exterior dos edifícios
(à chuva ou ao sol) para serem atendidos num guichet onde pagam entre 10 e 15
Euros por ingresso.
domingo, 4 de dezembro de 2011
À janela de Agustina Bessa Luis
O facto de Ema frequentar muito a varanda provocava bastantes percalços. Ao desfazer a curva da estrada, era forçoso levantar os olhos para a figura ali debruçada; e não havia motorista que ficasse indiferente. O choque da beleza ofuscava-o, isto sem querer exagerar. Perdiam por momentos o controlo e eram rudemente projectados contra a parede; outras vezes chocavam de frente com o carro que subia em sentido contrário e que não tinha maneira de se desviar, posto que o muro da propriedade de Ema era uma espécie de baluarte com quatro metros de altura. Também acontecia atropelarem gatos e cães, ou seguirem em ziguezague até à recta seguinte, causando o pânico sobretudo entre os frequentadores da taberna do Alexandre da estrada, que vinha à porta, com a camisola manchada de vinho e o ar fleumático dum Poirot de tasca e ramada.
As coisas foram piorando e chegaram aos ouvidos das autoridades. Uma manhã, pelas onze horas e pico, o Paulino Cardeano teve a visita do presidente da Câmara em pessoa. Recebeu-o no salão de baixo, com móveis de jacarandá e um piano, verdadeiro monumento de respeitabilidade e de sensatez algo vertiginosa que há nos salões de província, com dois espelhos dourados e cinzeiros em forma de folha lanceolada, com uma ninfa de águas como remate. Como é que uma tal deidade celebra as exéquias dum cigarro ou dum havano, não é fácil de explicar. Mas ela lá está, vestida de verde, com cabelos soltos e muito parecida às senhoras de Klimt. O presidente da Câmara, um homem doentio e de grandes olhos esbraseados, por causa da fadiga e do nervosismo constante, entrou imediatamente no assunto.
As coisas foram piorando e chegaram aos ouvidos das autoridades. Uma manhã, pelas onze horas e pico, o Paulino Cardeano teve a visita do presidente da Câmara em pessoa. Recebeu-o no salão de baixo, com móveis de jacarandá e um piano, verdadeiro monumento de respeitabilidade e de sensatez algo vertiginosa que há nos salões de província, com dois espelhos dourados e cinzeiros em forma de folha lanceolada, com uma ninfa de águas como remate. Como é que uma tal deidade celebra as exéquias dum cigarro ou dum havano, não é fácil de explicar. Mas ela lá está, vestida de verde, com cabelos soltos e muito parecida às senhoras de Klimt. O presidente da Câmara, um homem doentio e de grandes olhos esbraseados, por causa da fadiga e do nervosismo constante, entrou imediatamente no assunto.
- A sua filha é
um perigo para o trânsito nesta estrada.
- O quê? – disse
Cardeano, estupefacto.
- Desculpe-me
pôr as coisas assim, mas é um facto.
O Cardeano
pensou que os presidentes da Câmara são sempre desprovidos de substância
interior, de tutano, de calor humano. Conhecera um que se chamava Homero e nada
mais fazia senão prometer o saneamento nos lugarejos mais atrasados e acabar
com os pobres. Era acometido por uma estranha fixação, a de agradar ao povo.
Era nele como uma inferioridade, como se uma melodia interior o prevenisse dum
fim inesperado.
- Não sei o que
a minha filha… - ia a começar a dizer o Cardeano, mas o presidente interrompeu-o.
- Ela não tem
culpa, é evidente. Mas aquela varanda é muito capaz de não estar bem colocada.
Seria bom mudá-la de sítio.
- Mudar a
varanda? – disse Cardeano. A sua pequena cabeça calva cobriu-se dum tom
arroxeado que alarmou o presidente.
- Não digo isso.
Não sei se me faço entender.
- Não percebo
absolutamente nada.
Quando Cardeano
usava o advérbio “absolutamente”, fazia-o como os advogados, para ganhar tempo.
Estava perto de entrar na questão que tinha a ver com Ema à varanda. Seria ela
causa de alguma cena imprópria? Se assim fosse, ele teria sido informado, de
tal modo a casa era percorrida por um zumbido de novidades e de notícias de que
nada escapava. Mas Ema, acima de tudo, era uma criança e comportava-se como
tal. Falava tão alto da varanda que se podia ouvir até à curva, entre Fontelas
de Cima e Fontelas de Baixo. Não tinha segredos nem sabia nada das maravilhas
da vida. À cautela, Cardeano pediu explicações mais detalhadas.
- Não é nada de
mal – disse o presidente, tomando o seu ar afável das sessões da vereação.
Cruzou a perna e pediu licença para fumar. A ninfa verde, que podia autorizá-lo
ou não, não foi consultada. – O certo é que esta curva já está a ser encarada
como a curva da morte. Todos se despistam aqui, e o motivo é essa maldita
varanda.
Não aludiu a
Ema, mas Cardeano compreendeu, de repente, onde estava o carácter inteligível
da questão. Ema era a causadora. Ao que parecia, o povo tinha apresentado
queixa, mães e pais e esposas também, quanto à presença de Ema na varanda. Ela
causava como que uma rápida resolução de jogar o carro contra o muro, gerando
um procedimento irreversível.
Agustina
Bessa-Luís, Vale Abraão, 1991. Lisboa, Guimarães Editores.
sábado, 3 de dezembro de 2011
Mágica, sempre
À tarde, com chuva, vista da esplanada do Palácio Chaillot
À noite, iluminada, vista das imediações da Unesco
Pergunto-me se algures, numa das suas sapatas, não encontrarei um dia aquela porta que Woody Allen descobriu para passar da Paris de 2010 para a dos anos 20 do século XX.
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Paul Valéry, em 1932
Jamais l’humanité n’a reuni tant de puissance à tant de
désarroi, tant de soucis et tant de jouets, tant de connaissances et tant d’incertitudes.
L’inquiétude et la futilité se partagent nos jours.
Citado por Stéphane Hessel e Edgar Morin, Le Chemin de
l’Espérance. Paris, Fayard, 2011. p. 8
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