Ontem, na Casa-Museu João Soares, nas Cortes, revisitei uma investigação que efectuei nos anos 80 com Luis Salgado de Matos sobre intervenções militares na política no século XX (1910-1974). Reproduzo aqui as conclusões principais.
A justificação da intervenção das Forças Armadas na vida política portuguesa, tal como resulta dos manifestos, pode sintetizar-se nos seguintes dez tópicos:
1) As Forças Armadas escolhem o momento da intervenção sem dependência de qualquer consulta prévia. A intervenção é um dever;
2) A intervenção militar efectiva-se numa situação caracterizada por factores externos à instituição militar;
3) A situação anterior à intervenção é sempre caracterizada como de ruptura de uma normalidade: violação do paradigma democrático ou crise afectando os valores de ordem e segurança;
4) A crise económica não é um factor pertinente de caracterização da situação anterior à intervenção;
5) Um ou vários oficiais isolados não são sujeitos legítimos da intervenção; exige-se uma vinculação orgânica entre os autores do manifesto e a instituição militar;
6) A legitimidade invocada para intervir reconduz-se ao restabelecimento da Constituição de 1911, ou, no caso dos movimentos militares, decorre da autoridade própria das Forças Armadas, único «corpo organizado» na «Nação» em crise;
7) O objectivo da intervenção é a solução da crise que a originou;
8) As Forças Armadas têm em conta a opinião pública suposta ou identificam- se com ela, nomeadamente pela mediação nacional;
9) Os militares podem participar na definição da normalidade constitucional posterior à intervenção, mas não têm o monopólio dessa definição;
10) As Forças Armadas têm interesses próprios que são afirmados.
sábado, 11 de dezembro de 2010
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1 comentário:
Os tópicos (como o João lhes chama) aqui avançados dão-nos informação extremamente significativa e interessante para uma reflexão sobre nós mesmos, sobre quem somos: enquanto povo, enquanto país. De modo sério e substantivado pela investigação histórica naquilo que ela pode ter de mais útil: fornecer-nos ferramentas de análise da realidade, permitir-nos perspectivarmo-nos de um modo mais consciente.
Querendo evitar os julgamentos históricos, a exemplo do post que comento, não posso deixar de pensar que é uma herança com algum peso esta intervenção militar quase sistematica na política portuguesa.
Talvez o outro lado da moeda seja a dificuldade de nos libertarmos enquanto sociedade civil autónoma e politicamente eficaz.
As forças militares por si sós não explicam tudo, fazem parte de um todo mais vasto, que integra a sua própria acção. A opção colonial e o papel que as forças militares desempenharam na vida política portuguesa entre 1905 e 1974, seja qual for o quadrante de origem e as intenções que as levavam à agir, consitui fenómeno determinante (e sui generis?) da nossa História, parece poder concluir-se.
- Isabel X -
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