Resposta de Isabel Xavier:
A exposição é constituída por duas partes essenciais: uma relativa à I República nas Caldas da Rainha e outra ao núcleo de artistas republicanos que constituiram o espólio inicial do Museu José Malhoa. Procura-se provar que a própria iniciativa da criação do Museu se inscreve na política cultural, eductiva e patrimonial republicana.
A parte do PH, relativa às Caldas durante a I República, foi organizada em quatro núcleos principais: toponímia; Jornais; símbolos da República nas Caldas (com destaque para a iconografia produzida nas fábricas de cerâmica) e associativismo.
Este último núcleo, dando destaque à Associação Comercial, estebelece o elo de transição para a segunda parte da exposição, visto ter sido a partir da encomenda do retrato da rainha D. Leonor ao pintor José Malhoa pela Associação Comercial que surgiu o projecto de criar um Museu dedicado ao pintor caldense nas Caldas da Rainha.
Segundo Fernando Catroga, o republicanismo foi um fenómeno que se foi instalando na sociedade portuguesa, e até mesmo nas instituições da monarquia constitucional, antes de cinco de Outubro de 1910.
Segundo a tese defendida por João Serra, e que partilho plenamente, as Caldas viveu uma conjuntura de expansão entre 1887 (inauguração da linha férrea; escola rainha D. Leonor, na esteira da presença de Bordalo Pinheiro na vila) e 1927 (ascensão da vila a cidade).
A intenção do PH (minha, portanto) foi estabelecer um conjunto de temas significativos de republicanismo e estudá-los no modo como se manifestaram nas Caldas da Rainha. Com as especificidades próprias de um centro cerâmico muito marcado pelo republicanismo de que foi também introdutor o próprio Rafael Bordalo Pinheiro, mas que era também um centro termal com uma forte presença monárquica na vila.
Uma das áreas que necessita de ser mais explorada é exactamente a questão da produção cerâmica, nomeadamente nas suas duas componentes mais ligadas à República: a crítica social e política reveladora do anti-clericalismo e do nacionalismo próprios do ideário republicano; a produção de uma considerável quantidade de bustos da República e de outras alegorias como o Zé Povinho agarrado à República, de catácter comemorativo e celebratório da vitória repubçlicana, nas fábricas das Caldas, com destaque para a de Alves Cunha Sucessores.
Nomes como o de Avelino Belo que foi simultaneamente discípulo de Bordalo Pinheiro, ceramista com fábrica própria, republicano, membro do Centro Republicano Almirante Cândido dos Reis, director do jornal "O Direito do Povo" é bem sintomático destes cruzamentos vividos nas Caldas.
Também o encontramos a propôr mudanças de nomes das ruas das Caldas, no seguimento da revolução do cinco de Outubro, por exemplo.
Há ainda que contar com o facto de a Associação Comercial ter sido uma iniciativa à qual esteve ligado o nome de Rafael Bordalo Pinheiro e que desempenhou na vila um papel fundamental, pelo menos nas três décadas que se seguiram à sua criação, em 1902.
Muitos destes temas já estavam estudados, outros foram levantados pela investigação complementar agora produzida e carecem de aprofundamento. A exposição procura reflectir essas vivências nas Caldas da Rainha no período a que se reporta.
quinta-feira, 9 de dezembro de 2010
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