quarta-feira, 23 de junho de 2010

D. Afonso Henriques "republicano"

Resumo de breve intervenção efectuada hoje à noite, na Praça da Oliveira, em Guimarães, num colóquio realizado após a estreia de um filme de Ricardo Freitas sobre as comemorações dos 900 anos de Afonso Henriques, em 2009.

Em primeiro lugar, registe-se que os 800 anos de Afonso Henriques não foram comemorados há 100 anos, mas há 98 anos. Aparentemente a Segunda República reconheceu mais dois anos de vida ao primeiro rei, pois celebrou em 2009 o que a Primeira celebrara em 1911.
Em segundo lugar, ao contrário de um entendimento que já vi expresso, os republicanos vimaranenses de 1911 não tiveram dificuldades em lidar com a memória do rei fundador, que já tinha no espaço público da cidade lugar destacado: uma estátua da autoria de Soares dos Reis erguida na Praça Afonso Henriques (espaço coincidente com parte da Alameda de S. Dâmaso dos nossos dias).
Largo Afonso Henriques - antes de 1911
Desde 8 de Fevereiro de 1911 que a Câmara aprovara a despesa de 1,5 contos para a remodelação urbanística daquela Praça, cujo projecto - iniciado em 1906 mas ainda não concluído -  viria, aliás, a ter incidência na praça contígua, do Toural. A Câmara republicana olhara, desde o início, para esta última praça com especial atenção. Ela deveria ser, por contraposição às praças da cidade antiga, o centro cívico da modernidade. Por isso, a 2 de Novembro, deliberara a nova Câmara republicana remover as grades do jardim do Toural.
A 8 de Março, Câmara e Associação Comercial acordam num programa comemorativo para o dia 1 de Agosto (dia do nascimento de Afonso Henriques, ou seja, “do primeiro vimaranense e do primeiro português”), do qual fará parte uma (re)inauguração da estátua do Rei que, para o efeito, será transferida para local apropriado, e um conjunto de propostas endereçadas ao Governo: feriado nacional a 1 de Agosto, cunhagem de moedas e edição de selos alusivos ao 8º centenário.
As celebrações vimaranenses de 1911 acabariam por se efectuar a 6 de Agosto, um Domingo, e não a 1. Constaram fundamentalmente de uma reunião na Sociedade Martins Sarmento, seguida de um cortejo até à estátua agora transferida para o Largo do Toural, na base da qual foi descerrada uma lápide testemunhando a gratidão dos vimaraneneses de 1911 para com o fundador de Portugal.
Largo do Toural/Praça do Libertador de Portugal - depois de 1911
Desde o dia 2 de Agosto que a Câmara deliberara rebaptizar o Toural de Praça do Fundador de Portugal e o Largo D. Afonso Henriques de Passeio da Independência. Mas a 9 de Agosto decidiu efactuar uma correcção na decisão anterior e assim o Toural passou, de Praça do Fundador, a chamar-se Praça do Libertador de Portugal.
Projecto Toural, 1911
Fontes:
Arquivo Municipal Alfredo Pimenta:
Actas da Câmara
Projectos de obras

1 comentário:

Isabel X disse...

É muito interessante saber como foi tratada a memória de D. Afonso Henriques em Guimarães.

O título do post, D. Afonso Henriques "republicano", que logo diz muito do seu conteúdo, é muito engraçado, bem conseguido. Fez-me pensar que o primeiro rei foi um revolucionário, na medida em que se rebelou contra tudo a que a sua condição (de filho, de vassalo) o obrigava.

Brincado um pouco: era uma espécie de anarquista. Os anarquistas não procuram destruir a ordem existente para a substituir pelo caos, mas pelo cosmos. Assim D. Afonso Henriques.

Outra coisa de que me lembrei: cá nas Caldas, a rainha que lhe dá (também) nome - D. Leonor - não foi posta em causa pelos republicanos, julgo eu saber, só os reis e as rainhas mais próximos, os da Monarquia Constitucional, contra a qual o movimento republicano se realizou.

- Isabel X -