Mesmo à entrada das Caldas, na estrada de Santa Rita, numa residência solitária, estabelecera-se um bruxo. Misto de videntes, homeopatas, psicólogos, conselheiros, espécie de enfermeiros de corpos e almas, os bruxos eram essenciais à vida urbana e rural das classes médias ou desfavorecidas. Toda a gente, num momento de particular desorientação, de medo, desespero ou simples inquietação ou dúvida tinha recorrido uma vez aos seus serviços. Apesar da marginalidade do seu estatuto, da desautorização que a Igreja e a Medicina lhes dispensavam, os bruxos mereciam crédito generalizado, a sua palavra era tida em consideração e respeito.
Contava a minha mãe que a Tia a tinha convencido uma vez a ir a esse bruxo de Santa Rita. Foi quando ficou grávida do seu primeiro filho. Queria saber se era menina ou menino, informação que nesse tempo só mesmo os bruxos podiam fornecer. Inquirido sobre o sexo do nascituro, o bruxo teria proferido a seguinte frase: “É menino, não menino!”. Acertou! - disse a minha Tia mal se soube que era portador dos atributos masculinos o ser que o Dr. Vieira Pereira ajudara a vir ao mundo. Mas a minha mãe sempre ficou convencida que a frase rebuscada do infalível bruxo escondia uma escapatória. Em caso de desacerto, ele sempre podia invocar um erro de percepção. “O que eu realmente disse foi é menina, não menino”.
sexta-feira, 4 de junho de 2010
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