terça-feira, 2 de fevereiro de 2010
A paisagem-bandeira de Nikias
Reconheça-se em primeiro lugar que Nikias Sakapinakis resolveu primorosamente o problema que lhe tinha sido colocado: fazer um quadro sobre a bandeira. Pintou uma paisagem: o campo verde, o céu vermelho, o sol amarelo. Manchas de cor, segundo as "regras abstractas da pintura", como o próprio refere no texto que acompanha a exposição patente na Cadeia da Relação, no Porto. Poderia ter dito de outro modo, segundo as regras da pintura abstracta. As cores da bandeira, o vermelho e o verde, a contemplação e a acção, a estética e a ética, a razão e a emoção. O amarelo que preside e regula, que ilumina: o futuro. O elemento novo, que o autor introduz com grande eficácia é a nuvem em forma de garra. O negro, a ameaça que paira sobre a paisagem. Chegou, está de passagem? Não sabemos.
Para Skapinakis, a interpretação é válida para as três Repúblicas (o autor defende que estamos na terceira e não na segunda): em todas elas, a mancha negra pairou sobre as aspirações de liberdade. Discordo de Nikias apenas num ponto: o regime a que chama de Segunda República inverteu a relação entre as diversas manchas de cor. A mancha negra não se limitou a exercer ameaças, ela ocupou o coração da paisagem.
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4 comentários:
Genial a solução achada e executada por Nikias Skapinakis!
A paisagem-bandeira (ou bandeira-paisagem?) é lindíssima! E potencialmente capaz de modificar o modo como vemos a bandeira. Há símbolos que necessitam de ser revisitados.
Quanto à garra negra existindo sempre, concordo com o João quando diz que, a certa altura, "ela ocupou o coração da paisagem".
Teve diferentes modos de existir.
- Isabel X -
Sendo um crítico da bandeira, (estúpida ideia de juntar duas cores sem o corte de um metal)acho esta reintrepretação magnífica. A garra lá está sem dúvida e em determinados momentos escureceu de facto a paisagem, mas ainda lá está...
... ainda que seja uma intervenção insuficiente para minimizar a fealdade que resulta da combinação das cores no original. É uma opinião, pois claro.
Sim, parece de facto que momentaneamente "ocupou o coração da paisagem", mas a força dos ventos é imensa e o verde que sempre desperta, fortalece e recria..
Gostei muito desta homenagem à bandeira Portuguesa.
vanda
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