Desde que Freud disse que todas as neuroses vêm da ansiedade passamos a ter um entendimento cultural de que a ansiedade é uma coisa tóxica. Não é. Todos nós somos ansiosos. Faz parte da condição humana, tal como ficar cansado, errar, sentir-se culpado, frustrado ou envergonhado. Não existe civilização em que ninguém fique ansioso. A ansiedade tem vantagens. As pessoas ansiosas são muito responsáveis e conscientes. Quando eu selecionava meus assistentes de investigação, sempre que possível optava por jovens ansiosos, tímidos e introvertidos, porque eles trabalham com afinco e erram menos. Há pessoas ansiosas simplesmente brilhantes.
[...] Uma pessoa pode ser intensamente ansiosa, mas, se ela consegue trabalhar, relacionar-se no casamento, cumprir seu papel de pai ou mãe, não há problema. A ansiedade será um problema se atingir um estágio clínico, no qual vira doença, a super-ansiedade. Só será problema para quem acha que é um problema. Conheço indivíduos altamente ansiosos que não interpretam sua condição como problema. Entendem que a vida é assim mesmo e estão satisfeitos.
Jerome Kagan
Entrevista publicada pela revista Veja, S. Paulo, 3 de Fevereiro de 2010, p. 15, 18.
sábado, 6 de fevereiro de 2010
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1 comentário:
Este texto lembra-me uma questão que várias vezes me tenho colocado: o que é que distingue a ansiedade e a angústia?
Cheguei a "resolvê-la" pensando que a ansiedade propicia a acção e a angústia impede-a. Talvez um pouco na linha deste texto, embora não o conhecesse.
Agora penso que não é nada disso.
Penso também que o facto de haver indivíduos satisfeitos com a ansiedade própria, só por si, não é particularmente significativo.
Por outro lado, há um livro de Agustina Bessa Luís intitulado "Contemplação carinhosa da Angústia", e muito bom.
Se calhar é isso: temos que nos aceitar como somos, ansiosos, angustiados, e perdoarmo-nos por isso, intimamente.
Mas preservando um certo grau de insatisfação, sempre, porque a vida não pode ser entendida como "assim mesmo" ou, pelo menos, não deve sê-lo.
- Isabel X -
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