Peço que quando vir o Francisco lhe recomende o seguinte:
Oito dias depois de entrar no balseiro para curtimenta o vinho novo, ele deve prová-lo tirando uma gota com o sifão de guta-percha. Se tiver sabor a vinho bem pronunciado, algum travo e estiver claro ou quase claro deve passá-lo para o tonel espremendo pouco a baganha e deitando esta com água no balseiro em que se fez o ano passado a água-pé. Feita esta, é que a baganha se deve espremer a valer para ela ficar boa. Se o vinho não der prova aos 8 dias, vá-o provando todos os dias até o achar em estado de passar para p tonel. Que não se debruce nunca no balseiro, sem primeiro agitar bem o ar que está dentro com uns ramos, tendo a boca e o nariz virado para o lado. É coisa que lhe recomendo muito, porque é perigoso respirar o gás-ácido carbónico que anda ao de cima de vinho enquanto ferve.
Alexandre Herculano, Cartas de Vale de Lobos.
In Nuno de Sampayo (org.). As Profissões na Literatura Portuguesa. Antologia. Lisboa. Junta de Acção Social, S/d. p. 11-12.
terça-feira, 18 de outubro de 2011
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1 comentário:
Costuma dizer-se que este regresso ao campo de Herculano foi um gesto de sobranceira abdicação em relaçãos aos desmandos da política.
Há contudo um tempo para tudo: para o empenhamento prático na acção política e um tempo de retirada para outro espaço, que pode ser igualmente nobre se aí se estiver de modo inteligente e laborioso a fazer o que é profícuo, para si e para os outros.
Vitorino Nemésio, no seu prefácio ao vol. 5 das Cartas diz:
"Entre outros exemplos de como o notável agricultor resolveu certos problemas de agricultura prática,
lembraremos o seguinte. As sementeiras dos trigais
fazia-as sempre com bastante precedência, de modo a
serem muito têmporas. Eram executadas com o cultivador sobre alqueive precedente. A semente era lançada a terra estando esta em completo estado de secura. Depois de enterrada, era cuidadosamente comprimida e conchegada à cama com o rolo para evitar a acção destruidora da formiga. Chegadas as primeiras águas do Outono — aproximadamente seis semanas
depois da sementeira — o trigo nascia um após o outro, seguindo a ordem por que tinham sido feitas
as sementeiras ; facto que denota que a semente, quando mesmo não encontre no solo humidade sufi-
ciente para germinar no tempo normal, entra contudo, desde que a terra a recebe, num certo estado de seiva germinativa latente, decerto devido à lentura atmos-
férica, e à acção da capilaridade, indo aspirar no subsolo partículas aquosas."
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