domingo, 23 de outubro de 2011

À janela de Machado de Assis

Assim eu, Brás Cubas, descobri uma lei sublime, a lei da equivalência das janelas, e estabeleci que o modo de compensar uma janela fechada é abrir outra, a fim de que a moral possa arejar continuamente a consciência.

Machado de Assis, Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881.

4 comentários:

Isabel X disse...

"lei da equivalência das janelas", sublime, sem dúvida: uma lufada de ar fresco em sua formulação.
A confirmar o nível de escrita do melhor autor em língua portuguesa do seu tempo: Machado de Assis.

A descoberta de janelas neste blogue está cada vez melhor. O enunciado por palavras faz ver o que as imagens mostram.
Um exercício de imaginação.

- Isabel X -

Vasco Tomás disse...

A moral da "boa consciência" preconizada neste excerto, no fundo, é redutível ao princípio do direito de Ulpiano, que estipula que o justo consiste em dar a cada um o que é seu (suum quique tribuere).
Parece não haver lugar nesta moral para a ponderação das situações configuradas por dilemas morais, nem para as situações em que o outro, da altura da sua dignidade e miséria, convoca a minha liberdade para a responsabilidade.
Hoje, é importante avaliar a moral que, embora mais arriscada, pode trazer mais benefícios ao processo de emancipação dos homens.
Fora esta análise de conteúdo, não deixa de ser, do ponto de vista literário, um belo texto!

Isabel X disse...

Curiosamente, os avisos do Vasco quanto ao conteúdo do texto, que ele separa do seu valor literário, mais me fazem aderir ao que nele é dito.
Porquê? Porque há uma altura em que os dilemas morais apenas servem para impedir à vida a plenitude que merece.

- Isabel X -

Anónimo disse...

Divinal.

Vou regressar a essas memórias um dias destes.

Cumprimentos a todos.


Paulo Prudêncio