Se o século XIX foi o século do liberalismo burguês capitalista, que frondosamente floresceu quando explodiu a velha e anacrónica tampa abafante do feudalismo e do absolutismo – e que com os seus progressos e misérias, glórias e contradições, afinal tão sem dar por isso preparou a sua própria derrocada e fertilizou as sementes do futuro que inevitavelmente se lhe tinha de seguir ; então, se há entre nós uma família que epitomize o turbulento mas fascinantemente remoçado século XIX português, é talvez esta dos Relvas da Golegã e Alpiarça - viçosa, vistosa e saborosa como um rubicundo e sumarento tomate ribatejano cheio de sol, daqueles que matando a fome e tirando a sede, nos alegram a vista e a alma !
Aos Relvas se aplica à letra o velho aforismo de que “a primeira geração junta, a segunda acrescenta, a terceira gasta e a quarta vende”: vindo, logo que a guerra civil entre liberais e miguelistas acabou, do seu nativo lugar de Relvas, na Sertã (Beira Baixa), para a Golegã, como feitor da Labruja, o patriarca José Relvas soube cavalgar com mestria a vaga da renovação social e económica que a nova paz desencadeou e, deitando mão aos pedaços mais suculentos que marqueses, ordens e conventos íam deixando cair, morreu rico, senhor de casa e com a respeitabilidade bem documentada em retrato formal de honorável “primeiro antepassado”. O seu filho Carlos Relvas, com a elegância e o à vontade de quem já nasceu rico, aumentou essa riqueza, e deu-lhe um brilho social espaventoso – cavaleiro tauromáquico afamado, construiu na Golegã uma praça de toiros privativa e o atelier sumptuoso de primeiro fotógrafo amador português, recebeu a Família Real no casarão que desde então ficou palácio, e recusou galhardamente um banalizado título de visconde, dizendo que preferia continuar a ser ... “o rei dos lavradores”, e olé por quem me tomas !!!
Mais presente na memória de todos nós está o neto, o José Relvas que “saíu” da Golegã, estudou lá fora, e em Lisboa marcou lugar na política e foi amigo e protector dos maiores artistas da época – suficientemente forte para ser livre, assumiu-se como republicano activo, e no dia 5 de Outubro de 1910 foi por direito próprio o proclamador oficial da República na varanda dos Paços do Conselho! Transformou o casarão agrícola dos Patudos, em Alpiarça, no verdadeiro solar de uma nova e sólida grande família, culta, elegante e cosmopolita; soberbamente recheada com a colecção ecléctica e de gosto requintado que garbosamente foi constituindo, e na qual o melhor do seu tempo se enobrecia ao ser exibido lado a lado com inquestionáveis glórias do passado – essa casa acabou por ser o centro e a montra pública da fundação com fins filantrópicos que ele, perante a cruel derrocada da sua vida familiar, generosamente constituiu e encabeçou na “sua” vila de Alpiarça.
Para nos contar a saga desta família Forsythe à portuguesa, vamos ter connosco o Prof. João Bonifácio Serra [na próxima quarta-feira, dia 1 de Julho, às 20h30]; e convidamo-lo para no sábado ir almoçar à Golegã e Alpiarça! Marque já lugar !!!
Pela Direcção
Alfredo Magalhães Ramalho
ASSOCIAÇÃO CASA VEVA DE LIMA
Rua Silva Carvalho, 240
1250-259 Lisboa
2 comentários:
Desejo-te um bom dia, ja tive o prazer de te ouvir falar sobre este tema, quado da exposição na Assembleia da Républica.
Um abraço amigo
João Ramos Franco
Mas que belo convite!
- Isabel X -
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